quinta-feira, 8 de maio de 2014

Roteiro Homilético do 4º domingo da Páscoa/ ano A



JESUS, A PORTA DE PASTORES E OVELHAS 

1ª leitura: (At 2,14a.36-41) O querigma e a conversão – (Continua a pregação missionária de Pedro; cf. dom. ant.) – No despojamento de Cristo cumpriam-se as profecias do Servo (At 2,22-24); mas também a ressurreição estava prefigurada nas Escrituras (2,24-31). Os apóstolos testemunham que Deus ressuscitou Jesus: ele vive e é Senhor, na glória. Esta mensagem obriga o povo de Israel a optar, bem como os que o Senhor chamou “de longe” (v. 39). * 2,36 cf. At 5,30-31; Fl 2,11 * 2,37-38 cf. Lc 3,10; At 3,19 * 2,39 cf. Is 57,19; Ef 2,17-18.
2ª leitura: (1Pd 2,20b-25) Trilhar os passos de Jesus Cristo Pastor – Dirigido aos escravos (1Pd 1,18-25), o texto da presente leitura vale para todos os cristãos. A todos, Cristo deu no seu sofrer o exemplo da paciência, diz o texto, com palavras que lembram o Servo Padecente de Is 53. A imagem das ovelhas perdidas evoca a do pastor, ao qual o rebanho se confia pelo batismo. Ele nos abre o caminho. * 2,21 cf. Jo 13,15; Mt 16,24 * 2,22-25 cf. Is 53,5-12; Ez 23,5-6: Mt 9,36.
Evangelho: (Jo 10,1-10) Alegoria do bom pastor: Jesus, a porta de pastores e ovelhas – Na história do cego (Jo 9), os fariseus mostraram ser os verdadeiros cegos. Eles deveriam ser os pastores de Israel, mas não o são. Jo 10 mostra quem não são e quem é o verdadeiro pastor. V. 1-5 narra uma parábola. V. 7-18 a explica, em 2 sentidos alegóricos: Jesus é a porta (v. 7-10), Jesus é o pastor (v. 11-18). Quem conhece o A.T., entende: a imagem do pastor indica os chefes e mestres do povo. Deus mesmo é chamado pastor (Sl 95[94],7); também Davi (Sl 78[77],70-72). – No presente texto, Jesus se compara à porta do aprisco: ele é quem dá acesso ao caminho da salvação. Onde há vida, é por Cristo que chegamos a ela. * 10,1-6 cf. Ez 34; Jo 10,27 * 10,7-10 cf. Jr 23,1-2; Jo 14,6. 
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O 4º domingo pascal é o do bom pastor: nos três anos do ciclo medita-se, no evangelho, o cap. 10 de São João, a alegoria do Pastor. Neste ano A, é apresentada a introdução: a cena campestre do vaivém de pastores e ovelhas, mas também de assaltantes e ladrões, no redil comunitário das aldeias da antiga Palestina. As autoridades judaicas não entenderam essa parábola, pois só quem crê entende Cristo. Segue, então, uma primeira explicação (nos anos B e C, ouviremos outras): Jesus Cristo é a porta. Conduzidas através dele, as ovelhas encontrarão vida. Antes dele vieram pessoas que entravam e saíam, não pela porta, mas por outro lugar: eram assaltantes, conduziram as ovelhas para a perdição, para lhes tirar a vida. Pouco importa quem sejam esses assaltantes – Jesus parece pensar nos mestres judeus de seu tempo –, não os devemos seguir. O que importa é a mensagem positiva: que passemos pela porta que é Jesus Cristo. Só o caminho que conduz através dele é valido. Esta porta se situa, portanto, na comunidade dos fiéis de Cristo. Na comunidade que representa o Cristo, depois da ressurreição, encontramos o que nos serve para sempre; teremos o mesmo acesso ao Pai que os apóstolos tiveram em Jesus (cf. Jo 14,6-9). Jesus com a sua comunidade é a porta que dá acesso ao Pai.
A 2ª leitura, continuação da 1Pd (cf. domingos anteriores), termina em termos que evocam igualmente a figura de Jesus-Pastor (1Pd 2,25). Mas, antes disso, ele é também apresentado como o Servo de Deus de Is 52–53 (1Pd 2,22-24). Este é o exemplo que devemos seguir, o caminho certo: não o da violência opressora, mas o da justiça que, para se provar verdadeira, não se recusa a sofrer. Este Servo é também o “justo” que Pedro anuncia no discurso de Pentecostes (1ª leitura: At 2,36-41; continuação do domingo anterior). Sua proclamação provoca arrependimento no coração dos ouvintes: convertem-se e aderem ao círculo dos discípulos.
Parte da população de Jerusalém se converteu àquilo que Pedro anunciou. Essa conversão pode reter, hoje, a nossa atenção. É o protótipo da adesão à Igreja em todos os tempos. Nós estamos acostumados a nascer já batizados, por assim dizer. Mas isso não quer dizer que nos tenhamos convertido para aderir a Cristo na sua Igreja. Pensemos naquela multidão que, pouco antes, desconhecia ou até desprezava o caminho e a atitude de Jesus de Nazaré e, ativa ou passivamente, havia concordado com sua crucifixão. Agora que Pedro, na força do Espírito, lhes mostra que esta vida foi certa e coroada por Deus, eles deixam acontecer no seu coração a verdadeira metánoia, a reviravolta do coração; mudam sua maneira de ver, sua escala de valores, em função daquilo que lhes foi pregado a respeito do Cristo. Essa metánoia é o passar pela porta que é Cristo, o recusar-se a ladrões e assaltantes, que vêm sem passar por ele. É aderir a nada que não seja conforme Cristo, marcado por sua vida e situado no seu caminho. Será que nós fizemos esta conversão?
O tempo pascal é um tempo de reflexão sobre a realidade de nosso batismo e de nossa fé. Ora, nosso batismo não é real sem metánoia, sem mudança de caminho, para conscientemente passar por Cristo. O batismo por conveniência não tem nada que ver com a conversão implicada no batismo verdadeiro.
Conversão como reconhecimento do errado e adesão a Cristo como escolha do caminho reto é o que nos propõe a liturgia de hoje. Mas, apesar de certa austeridade nestas considerações, temos também o testemunho da gratificação vital que essa conversão a Cristo nos traz. Cantamos com confiança o salmo responsorial, o salmo de Deus, nosso pastor (Sl 23[22]). Reconhecemos no mistério pascal a fonte da alegria sem fim (oração sobre as oferendas). Aquele que é Cordeiro, Pastor e Porta das ovelhas, sabe o que é, para nós, a pastagem eterna (cf. oração final)

SALVAÇÃO – SÓ POR CRISTO? 

No evangelho, Jesus narra uma parábola. Naquele tempo, os povoados tinham seu curral (redil) comunitário. O curral tinha um portão, por onde os pastores entravam para chamar as suas ovelhas (que conheciam a voz de seu pastor), e por onde as ovelhas passavam para ir pastar. Mas também apareciam sujeitos que abriam uma brecha na cerca em vez de entrar pela porta: os ladrões. Até aí a parábola (versos 1-5). Depois, Jesus explica: ele mesmo é essa porta por onde pastores e ovelhas devem passar. Pastor que não passa por ele, não serve para os fiéis. E também os fiéis têm de passar por ele para encontrar a vida que procuram.
Pastor mesmo é quem passa através de Jesus e faz o rebanho passar por ele. Neste sentido, as pregações apostólicas apresentadas nas leituras de hoje são eminentemente pastorais. São obra de pastores que passaram por Cristo e nos conduzem a ele e – através dele – ao Pai. Veja só, na 1ª leitura o apelo à conversão e a entrada no “rebanho” mediante o batismo, depois da pregação de Pedro (At 2,14a.36-41,). E, na 2ª leitura (1Pd 2,20b-25), Pedro lembra aos fiéis que, outrora ovelhas desgarradas, eles estão agora junto ao verdadeiro pastor, Jesus.
O sentido fundamental da pastoral é ir aos homens por Cristo e conduzi-los através dele ao verdadeiro bem. As maneiras podem ser muitas; antigamente, mais paternalista talvez; hoje, mais participativa. Mas pode-se chamar de pastoral uma mera ação social ou política associada a setores da Igreja ou a suas instituições? Isso ainda não é, de per si, pastoral. Para ser pastoral, a atuação precisa ser orientada pelo projeto de Cristo, que ele nos revelou dando sua vida por nós.
Nesta ótica, os pastores devem ir aos fiéis (não aguardá-los de braços cruzados), através de Cristo (não através de mera cultura ou ideologia), para conduzi-los a Deus (e não apenas à instituição da Igreja), fazendo-os passar por Cristo, ou seja, exigindo adesão à prática de Cristo. E os fiéis devem discernir se seus pastores não são “ladrões e assaltantes”. O critério para discernir isso é este: se eles chegam através de Cristo e fazem passar os fiéis por ele.
Pelas palavras do Novo Testamento, parece que toda salvação passa por Cristo. Mas isso deve ser entendido num sentido inclusivo, não exclusivo. Todo caminho que verdadeiramente conduz a Deus, em qualquer religião e na vida de “todos aqueles que procuram de coração sincero” (Concílio Vaticano II; Oração Eucarística IV), passa de fato pela porta que é Jesus. Portanto – e é isso que acentua o evangelho de João, escrito para pessoas que já aderiram à fé em Jesus –: não precisam procurar a salvação fora desse caminho. Isso vale ser repetido para os cristãos de hoje. Por outro lado, não é preciso que todos confessem o Cristo explicitamente; basta que, nas opções da vida, eles optem pela prática que foi, de fato, a de Cristo. Agir como Cristo é a salvação. E é a isso que a pastoral deve conduzir.

(O Roteiro Homilético é elaborado pelo Pe. Johan Konings SJ – Teólogo, doutor em exegese bíblica, Professor da FAJE. Autor do livro "Liturgia Dominical", Vozes, Petrópolis, 2003. Entre outras obras, coordenou a tradução da "Bíblia Ecumênica" – TEB e a tradução da "Bíblia Sagrada" – CNBB. Konings é Colunista do Dom Total. A produção do Roteiro Homilético é de responsabilidade direta do Pe. Jaldemir Vitório SJ, Reitor e Professor da FAJE.)

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