ihu - Por decisão do Papa Francisco, o arcebispo de Rosario, José Luis Mollaghan
(foto), foi removido do seu cargo, mas ao mesmo tempo foi designado
para uma comissão encarregada de examinar recursos apresentados por
padres acusados de delitos graves, que funcionará na Congregação para a Doutrina da Fé (ex-Santo Ofício), no Vaticano.
Fonte: http://bit.ly/1odNDyn |
A reportagem é publicada no jornal argentino Página/12, 20-05-2014. A tradução é de André Langer.
A medida do Papa foi tomada no momento em que ainda ressoam os ecos de uma investigação de maus tratos. Na semana passada, o bispo Mollaghan
afirmou, em relação às investigações, que “o passar do tempo” serviu
para demonstrar que “não houve anomalias”. Em fontes eclesiásticas,
antes da decisão do Papa que se tornou pública na terça-feira, dia 20,
se havia adiantado que buscavam uma “saída honrosa” para Mollaghan,
de 68 anos, que foi designado agora para integrar uma comissão vaticana
que terá como missão analisar recursos apresentados por membros da
Igreja que foram acusados ou condenados por ‘delicta graviora’ (“delitos graves”).
Fontes da cúria local asseguraram que se trata de “uma saída não traumática” para Mollaghan, por conta das conclusões da auditoria que a Santa Sé encarregou a José María Arancibia, bispo emérito de Mendoza. “Pode ser lida como uma promoção”, que de algum modo o é, mas antes foi preciso removê-lo do cargo em Rosario, em meio a uma investigação que foi acompanhada de perto pela imprensa local.
O comunicado da medida papal foi feito pelo núncio apostólico, Emil Paul Tscherrig, através da agência de notícias AICA. Até a nomeação de seu sucessor, Mollaghan
permanecerá como administrador apostólico “sede vacante”, com as
faculdades de bispo diocesano, o que de certo modo parece uma espécie de
ratificação da confiança, apesar do seu imediato afastamento do cargo
que ocupava desde março de 2006.
A saída de Mollaghan como arcebispo de Rosario acontece após uma investigação que o Vaticano
fez na arquidiocese diante de suspeitas de supostas irregularidades na
administração de recursos e pelas denúncias de leigos e sacerdotes que
referiram situações de “maus tratos”. O bispo Arancibia foi o encarregado de realizar a investigação solicitada pelo Vaticano, para o qual se deslocou até Rosario no marco de uma “visita pastoral” que, de fato, significava uma virtual intervenção na arquidiocese.
Em declarações a uma rádio de Rosario, Mollaghan disse na segunda-feira que o Papa
é quem “tem que decidir onde se concentram os desafios e neste caso
pensou que eu posso servir na missão encomendada”. Assegurou que sente a
nomeação como “um chamado para o qual posso contribuir com uma humilde
colaboração”. Mollaghan adiantou que não quer “despedidas” e que sua ideia é pedir a Francisco que lhe permita desenvolver sua tarefa “a partir da Argentina e viajar a Roma apenas quando for necessário”. Esclareceu que esse é seu desejo, porque sente “amor” pela cidade de Rosario e seu povo.
Segundo informações da agência de notícias católicas AICA, a nomeação de Mollaghan “para o mais importante dos dicastérios da cúria romana situa-se no marco das mudanças” que Jorge Bergoglio
pretende realizar em seu pontificado. Sobre o agora ex-arcebispo,
afirma-se na informação oficial que “sua qualificação no campo do
direito canônico era conhecida e muito apreciada durante os sete anos
que trabalhou na cúria portenha junto com o atual pontífice”. Desse modo
se fez referência ao trabalho de Mollaghan como bispo auxiliar de Buenos Aires ao lado de Jorge Bergoglio.
A fim de dissipar qualquer desconfiança sobre o afastamento do
ex-arcebispo, manifestou-se a “importância e delicada tarefa que é
convocado a exercer, agora a serviço da Igreja universal”. A matéria da AICA assinalou também que “em parte (Mollaghan)
já a está exercendo com alguns casos, cujo estudo lhe foi confiado
recentemente”. Nada se diz sobre as investigações de que sua diocese foi
objeto.
Entre outros cargos, Mollaghan foi secretário-geral da Conferência Episcopal Argentina durante dois períodos, secretário da Comissão Episcopal para a Universidade Católica Argentina, presidente do Conselho Jurídico da Conferência Episcopal Argentina e delegado do Conselho Episcopal Latino-americano. Após as investigações em Rosario, dizia-se que o Vaticano avaliava várias opções para a saída de Mollaghan: pedir-lhe de forma antecipada que coloque o cargo à disposição, nomeá-lo arcebispo auxiliar ou para algum cargo na Santa Sé, que é o que finalmente aconteceu. Quando se soube, através da imprensa, da investigação na Arquidiocese de Rosario, Mollaghan negou que isso estivesse acontecendo e assegurou que as informações eram “maliciosas”.

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