Exerce um papel essencial na formação da personalidade aquele período
da vida humana em que a gente se sente movido a questionar, duvidar,
contestar, protestar contra tudo e contra todos. Adolescentes aqui, teenagers (de thirteen a nineteen)
entre os anglo-saxões, precisam adquirir autoafirmação, e o caminho
mais fácil para tanto é contradizer ou desrespeitar o que ensinaram os
mestres e modelos da fase anterior. Pretextos para isso não faltam, e a
mentalidade ainda em formação não distingue com clareza e profundidade o
falso do verdadeiro, o bom do mau, o útil do prejudicial.
Esse pouquinho de filosofância, numa crônica que pretende ser leve,
já me basta para atingir com minhas flechas os erros de outros. Não
meus, ao menos neste caso concreto, pois sempre fui cauteloso em não
contestar ou negar o que aprendi e aceitei como verdadeiro e bom. Mesmo
nesse período teen da minha vida, eu analisava, avaliava,
ponderava, antes de tomar qualquer atitude que fosse precipitada. Se
havia aprendido e aceito o que se ensina no Catecismo, por que haveria
de chutar para escanteio o que ele contém? Se a Bíblia relata como
verdadeiro o que eu não estava lá para confirmar, por que um recém-saído
dos cueiros haveria de duvidar?
Pesava na minha atitude o fato de saber que inúmeros sábios e santos
estudaram, esmiuçaram e avaliaram o que ali está escrito, chancelando-o
com sua autoridade. Isso me bastava para evitar a contestação pura e
simples, desprovida de fundamentos e inspirada apenas no “eu acho que”. E
assim permaneci sempre em boa companhia.
Conheci “filósofos” pontificando e sentenciando como exageradas ou
erradas algumas ações de Deus (Yaveh, no Antigo Testamento), que
extinguiu quase toda a humanidade pelo dilúvio; que afogou no mar
Vermelho todo o exército do faraó, para salvar um povo que ainda lhe
haveria de ser infiel; que castigou todos os homens, só porque o
primeiro deles, Adão, quis comer exatamente aquele fruto proibido; que
dotou um brutamontes chamado Sansão com força colossal para dizimar
exércitos inimigos; que deu a um menino aquela pontaria certeira e
eficiente para matar um gigante; que proibiu Moisés de entrar na terra
prometida (depois de enfrentar tanta encrenca numa viagem de quarenta
anos no deserto), só porque deu na rocha uma pancadinha extra, por conta
própria; que exigiu de Abraão a decisão de assassinar o próprio filho,
apenas para comprovar sua obediência e confiança; que destruiu com fogo
do céu cinco cidades onde muitos praticavam um ato antinatural, embora
ao criar o homem Ele soubesse que alguns poderiam achar atraente essa
prática.
Estas avaliações, e muitas outras similares, vieram ao meu encontro
no decorrer da vida. Quando apresentadas em formulações capciosas, elas
podem impressionar mentalidades em formação, mas nunca me convenceram
nem conseguiram abalar ou substituir minhas convicções. O que eu acho, o
que você acha, não tem aí nenhum peso, nenhum valor. Muitos começam
“achando” alguma coisa, e a partir daí enveredam por caminhos
deploráveis. Uma vez deformada a mentalidade, geralmente passam a
contestar e recusar o que é adequado e bom para o ser humano, como
afirmado por Yaveh no Antigo Testamento e por Jesus Cristo no Evangelho.
Daí a considerar justificados os próprios erros, vícios ou pecados,
basta um passo.
Gente com essa mentalidade deformada ou viciosa pode aventurar-se a
acusar Deus de vingativo, inclemente, belicoso, injusto. Nesse pretenso
tribunal de acusação, recusam obediência a Deus, chegando mesmo a
desafiá-lo. Fingem ignorar que, por nos ter criado, Ele tem o direito de
exigir nossa adesão aos seus desígnios. Quais desígnios? Os que
imprimiu claramente na natureza humana, dando-nos a inteligência para
entender, a vontade para decidir e a sensibilidade para executar. Como
se isso não bastasse, explicitou por vários meios o que o ser humano
deve admitir e praticar.
Negar habitualmente obediência a Deus, pode ser consequência de
decisões assumidas em épocas anteriores da vida. Precipitadas,
inconsequentes ou levianas como sejam, nunca são isentas de culpa. Se o
homem decide contrariar desígnios de Deus, e mesmo desafiá-lo
ostensivamente, não vejo como reclamar da punição que Ele aplique.
Injusto?! Tirano?! Homofóbico!?
Ninguém permanece impune, espezinhando os direitos de Deus.
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