A reportagem é de Aglaé de Chalus, publicada no jornal La Croix, 30-05-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"É necessário dialogar sobre os direitos da vida comum entre pessoas
do mesmo sexo, que decidiram viver juntas. Elas necessitam de um amparo
legal na sociedade". A afirmação é do bispo Dom Leonardo Steiner, secretário-geral da CNBB, em entrevista ao jornal O Globo, o maior jornal brasileiro.
Para Arnaldo Adnet, um dos fundadores da Diversidade Católica,
um grupo de católicos homossexuais, essa declaração é um "passo muito
importante e inédito" da Igreja rumo ao reconhecimento de uma união
civil entre pessoas do mesmo sexo.
No entanto, há um ano, a Conferência Episcopal tinha se oposto
fortemente à resolução da Justiça que autorizava os casamentos
homossexuais e transformava as uniões estáveis, uma espécie de pacto
civil solidariedade brasileiro introduzido em 2011, em casamento, à
espera de que uma lei fosse votada pelo Parlamento em nesse sentido.
Dom Antônio Dias Duarte, bispo auxiliar do Rio, ressalta que Dom Steiner
"não se pronunciou a favor do casamento gay. A Igreja brasileira, assim
como a Igreja do mundo inteiro, é contrário. Ele lembrou que as pessoas
do mesmo sexo que decidem viver juntas devem ser protegidas pelo
Estado, como qualquer outro cidadão; mas tal união não deve ser
assimilada a um casamento".
A questão homossexual é tratada com muita prudência na poderosa
Igreja brasileira. Mas, há alguns meses, ela deu vários passos. No ano
passado, uma nota da CNBB intitulada "Uma nova paróquia"
insistia na importância da acolhida, por parte da Igreja, das "novas
situações familiares", como as "crianças adotadas por pessoas solteiras
ou por pessoas do mesmo sexo que vivem em união estável".
Em janeiro, o padre-estrela Fábio de Melo tomou posição na televisão em favor da união civil para os homossexuais. Mais recentemente, no fim de abril, por ocasião da Parada Gay, a arquidiocese de São Paulo se solidarizou com as associações, defendendo as pessoas homossexuais na sua luta contra a discriminação e a violência de que são vítimas.
Arnaldo Adnet vê na declaração de Dom Steiner a consequência do que o papa confidenciou aos jornalistas depois da Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro, no seu voo de volta para Roma: "Se uma pessoa é gay e busca o Senhor com boa vontade, quem sou eu para julgar?".
"Muitos padres e bispos dão prova de grande abertura quando se
discute a questão da união gay em particular, mas se recusam a fazê-lo
em público. O Papa Francisco abriu o caminho para que outros representantes da Igreja possam se posicionar livremente."
"Ainda há muita homofobia no Brasil", lamenta Marcelo Cerqueira, presidente do Grupo Gay da Bahia, que registrou 312 assassinatos de homossexuais e travestis no país em 2013. "A declaração de Dom Steiner e a do papa vão na direção certa. Abrem um novo espaço de aceitação. Este século será o da integração".
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