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Modo com que Santo Padre fala do demônio é mais moderno, menos retórico, direto e simples.
Por Agostino Paravicini Bagliani*
Há poucos dias, no dia 1º de junho, no seu discurso no Stadio Olimpico, em Roma, o papa Francisco disse que o diabo "não quer a família, eis por que ele tenta destruí-la". Alguns meses antes (1º de abril), durante a homilia matinal em Santa Marta, o papa se referira ao diabo para reafirmar a sua existência: "O diabo existe. O diabo existe. Mesmo no século XXI".
Já na sua primeira homilia na Capela Sistina, no dia seguinte à sua eleição (13 de março de 2013), diante dos cardeais que o elegeram, Francisco, falando de improviso, lembrou o diabo, afirmando que "quando não se confessa Jesus Cristo se confessa a mundanidade do demônio".
Há poucos dias, no dia 1º de junho, no seu discurso no Stadio Olimpico, em Roma, o papa Francisco disse que o diabo "não quer a família, eis por que ele tenta destruí-la". Alguns meses antes (1º de abril), durante a homilia matinal em Santa Marta, o papa se referira ao diabo para reafirmar a sua existência: "O diabo existe. O diabo existe. Mesmo no século XXI".
Já na sua primeira homilia na Capela Sistina, no dia seguinte à sua eleição (13 de março de 2013), diante dos cardeais que o elegeram, Francisco, falando de improviso, lembrou o diabo, afirmando que "quando não se confessa Jesus Cristo se confessa a mundanidade do demônio".
Essa frequentíssima referência ao demônio poderia, à primeira vista,
surpreender, não fosse o caso de que todos os papas dessas últimas
décadas falaram do demônio. Paulo VI escolheu até o dia 29 junho de
1972, festa de São Pedro, para defender com gravidade que "de alguma
fissura parece que entrou a fumaça de Satanás no templo de Deus".
João Paulo II teria até celebrado duas vezes o rito de exorcismo na sua
capela privada. Também para o Papa Wojtyla, a existência do demônio era
real. Ele o disse no dia 24 maio de 1987, em Monte Sant'Angelo, no lugar
em que nasceu o culto do Arcanjo Miguel: "O demônio ainda está vivo e
operante no mundo". O mal não é apenas a consequência do pecado
original, mas também "o efeito da ação infestadora e obscura de
Satanás".
Bento XVI advertiu um dia (26 de agosto de 2012) os fiéis que acorreram a
Castel Gandolfo para o Ângelus que a "culpa mais grave de Judas foi a
falsidade, que é a marca do diabo".
Leão XIII (1878-1903) formulou até uma oração a São Miguel Arcanjo, para
que protegesse os cristãos "nesta ardente batalha contra todas as
potências das trevas e a sua malícia espiritual".
Em relação aos seus antecessores, o papa Francisco, no entanto, usa um
estilo diferente para falar do demônio, mais moderno, menos retórico,
direto e simples. Poucas palavras bastam. "O diabo existe. O diabo
existe. Mesmo no século XXI".
Se a linguagem do papa Francisco é tão simples, a substância está em
perfeita sintonia com a tradição. Para Francisco também, o demônio é uma
realidade, aquela "realidade terrível, misteriosa e assustadora", de
que falava Paulo VI.
Também para Francisco, o demônio é o principal inimigo da sociedade, a
ponto de poder também destruir seus fundamentos, como por exemplo a
família. Nesse sentido, a continuidade atravessa os séculos. Já para os
primeiros escritores cristãos, o demônio é, por exemplo, o instigador
dos sentidos, a tal ponto que se considerava que o demônio fazia com que
se perdesse o controle da razão através do riso.
Para descrever os primeiros casos de heresias medievais, o monge Rodolfo
Glaber, "o historiador do ano mil", atribui ao demônio um papel de
protagonista, graças também ao seu poder de se transformar. A "loucura"
do camponês Leutardo de Vertus, que "se livrou da mulher" e quis
justificar o divórcio "alegando as prescrições do Evangelho" começou
quando "um enorme enxame de abelhas" – metáfora do demônio – entrou no
seu corpo.
O culto Vilgardo de Ravenna, que havia lido com paixão os autores
clássicos, tornou-se "cada vez mais insensato" por causa de "certos
diabos que assumiram o aspecto dos poetas Virgílio, Horácio e Juvenal".
Nos grandes momentos de transformação da sociedade medieval, o demônio
sempre aparece como o principal inimigo da sociedade.
Ao redor de 1430, quando, na Itália (Roma, Todi) e no norte dos Alpes,
aparecem as primeiras caças às bruxas, à frente da suposta seita do
"Sabbath" é posto o demônio, a quem bruxas e bruxos rendem homenagem
realizando orgias e similares. O trágico fantasma do "Sabbath" das
bruxas precisou do demônio para existir e assim funcionou por mais de
três séculos na Europa cristã, católica e protestante.
Se a tradição cristã que atribui ao demônio um papel de absoluto perigo
para a sociedade é antiquíssima, o modo com que o Papa Francisco fala do
demônio é moderno. O demônio não é mais um inimigo genérico da
sociedade.
Os temas são aqueles que falam às pessoas, à família, ao dinheiro. Além
disso, o papa o faz usando palavras simples, claras e diretas. Com mais
eficácia do que os seus antecessores, mas não se separando deles na
substância.
La Repubblica, 13-06-2014.
*Agostino
Paravicini Bagliani é historiador, professor da Università Vita-Salute
San Raffaele, de Milão, ex-or da Biblioteca Apostólica Vaticana e
ex-professor da Escola Vaticana de Paleografia, Diplomática e
Arquivística. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
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