“Na perspectiva da fé, submeter-se à realidade é submeter-se a Deus”. Michel Quoist
O Brasil e o mundo ficaram
chocados, aturdidos, com a derrota de 7 a 1 da seleção brasileira
contra a Alemanha. Ninguém pôde entender e explicar como em menos de
trinta minutos de jogo já tínhamos tomado cinco gols muito bem construídos. Gols elegantes.
No país do futebol, numa
das “Arenas” mais belas e caras do mundo, o time de craques milionários
que jogam no mundo todo, muito bem pagos e treinados, com menos de
trinta minutos estava prostrado, derrotado, paralisado. Algo
inimaginável, algo que superou todas as piores previsões negativas. O
“gigante do futebol”, cinco vezes campeão do mundo, gemia e chorava,
dentro de sua casa… Alguns falaram em “apagão” do time. Nenhum
comentarista de futebol conseguiu explicar o que houve, embora
arriscassem muitos palpites. Nunca houve em toda a história das Copas do
Mundo um time que tivesse sido tão massacrado, vexado, em sua própria
casa. Foi algo sobre-humano… por isso, tudo merece muita reflexão.
As palavras do povo em
lágrimas eram: vergonha, humilhação, etc… É precioso olhar tudo isso,
com os olhos da fé. Michel Quoist disse que “na perspectiva da fé,
submeter-se à realidade é submeter-se a Deus”.
Os sábios dizem que são
nas piores derrotas que o homem aprende a reconhecer seus erros e se
preparar para a vitória. Os nossos fracassos, quando bem aproveitados,
são remédios eficazes. Então, o mais importante agora é tirar desta
catástrofe futebolística, dessa hecatombe nas almas da maioria dos
brasileiros, as lições que esse belo país, Terra de Santa Cruz, precisa
aprender para vencer os enormes desafios que tem pela frente.
Em junho do ano passado o
povo brasileiro foi para as ruas reclamar, como há muito tempo não
fazia, contra todas as mazelas que o afligem. Conhecemos bem; houve até
um cartaz que dizia: “São tantos problemas que não cabem num cartaz”.
Não podemos nos orgulhar
diante do mundo, apenas com realidades tão passageiras, efêmeras e
voláteis como futebol, carnaval, e coisas semelhantes. Não. Precisamos
nos orgulhar de ter um povo educado, com mais honestidade, sem
criminalidade descontrolada, sem fome, sem falta de moradia, sem
corrupção, sem malversação do dinheiro público, com bons hospitais, bons
médicos e dentistas para o povo, saneamento básico, transportes
públicos adequados, mais remédios, menos inflação e impostos, melhor
PIB, políticos mais honestos, menos “toma lá dá cá”, menos conchavos
políticos, menos fingimentos, etc. Isto sim, deve encher de orgulho uma
nação; e não simplesmente se satisfazer com um orgulho perigoso e
enganador de querer ser “o melhor do mundo” em futebol e carnaval. Mas
agora o circo “pegou fogo”.
É claro, que o esporte é
belo e necessário, e a sua disputa sadia e educada é boa; mas não pode
ser um fanatismo doentio, a realização determinante de um povo; é muito
pouco e efêmero como acabamos de ver. Disse o profeta: “Maldito o homem
que confia no homem”. Arriscar a felicidade numa competição é insensatez
e imprudência. São Paulo recomendou aos filipenses: “Alegrai-vos sempre
no Senhor” (Fl 4,4).
Quiseram fazer “A Copa das
Copas”, num orgulho exacerbado, acintoso, tentando humilhar os que
fizeram as outras Copas, como se assim pudéssemos “ganhar o mundo” e o
“satisfazer” o povo. A FIFA pediu 8 estádios e fizeram 12 Arenas ao
custo de cerca de trinta bilhões de reais… numa nação carente.
Então, para se combater o
orgulho e a vaidade desvairada, nada melhor do que a humilhação. O
grande santo e doutor da Igreja, São Francisco de Sales, dizia que sem
humildade ninguém se salva, e sem passar pela humilhação ninguém se
torna humilde. Jesus abominou a ostentação e a soberba. “Aquele que se
exalta será humilhado, o que se humilha será exaltado”.
Que então, essa humilhação
que o Brasil sofreu na Copa, como nenhum outro país já experimentou,
nos ajude a vencer as terríveis misérias acima citadas.
Especialmente neste ano de
eleições, temos uma grande oportunidade desta conscientização se
manifestar num voto consciente, lúcido, sem venda da própria
consciência, sem votos nulos ou brancos, que em nada ajudam a
democracia, ao contrário, a enfraquece. A esperança do povo deve nascer
nas urnas, exercendo de maneira realmente patriótica o voto. A urna é
mais sagrada que o campo de futebol.
Prof. Felipe Aquino
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