Os líderes cristãos do Iraque continuam se perguntando por que o mundo finge ignorar a situação das minorias cristãs do país.
Reunidos na semana passada em Erbil, cidade próxima de Mossul,
os líderes das comunidades católicas e cristãs ortodoxas do Iraque
lançaram seu apelo às pessoas de todo o mundo para romperem o silêncio
em torno à limpeza étnica perpetrada contra os cristãos e outras
minorias.
“Temos que perguntar ao mundo: por que vocês se calam? Por que vocês
não falam? Os direitos humanos existem ou não existem? E se existem,
onde é que eles estão?”, questionou o bispo auxiliar de Bagdá, dom
Shlemon Warduni, em entrevista à Rádio Vaticano. “Há muitos, muitos
casos que devem despertar a consciência de todo o mundo. Onde é que está
a Europa? Onde é que está a América?”.
Dom Warduni acrescentou que o silêncio do Ocidente é agravado por
rumores de que mais de 2.000 militantes das tropas do grupo extremista
EI (Estado Islâmico) “são mercenários europeus e norte-americanos”.
Warduni declarou que, na manhã da reunião, os bispos se dirigiram ao presidente do Curdistão,
que se comprometeu: “Ou partimos todos juntos, ou ficamos, mas todos
juntos. Nós temos que parar essa gente, que está cometendo atropelos,
fazendo coisas terríveis contra as pessoas, as crianças, os idosos, os
doentes”. O líder curdo “garantiu proteção para os cristãos”, completou o
bispo auxiliar.
Por sua vez, o patriarca da Igreja Católica Caldeia
no Iraque escreveu para o secretário geral da ONU, Ban Ki-Moon, pedindo
mais pressão sobre o governo iraquiano e a comunidade internacional a
fim de reforçarem a assistência aos cristãos e às minorias perseguidas
pelos militantes islâmicos do Iraque.
“A nossa comunidade tem sofrido uma parcela desproporcional do
sofrimento causado por conflitos sectários, ataques terroristas,
migração e, agora, até mesmo pela limpeza étnica: os militantes querem
acabar com a comunidade cristã”, escreveu o patriarca Louis Raphael I
Sako.
Partidos políticos cristãos se voltaram na quarta-feira ao escritório da ONU em Ankawa para exigir que a comunidade internacional proteja os cristãos iraquianos.
Especula-se que mais de 1,2 milhão de pessoas tiveram que fugir das
próprias casas durante o último mês. Com a violência e a instabilidade
se espalhando aterradoramente e as temperaturas do verão chegando aos 30
graus, as pessoas desabrigadas enfrentam urgente necessidade de
auxílio. Além das minorias iraquianas perseguidas em seu próprio país,
há mais de 225.000 refugiados da Síria vivendo no norte do Iraque. O
Estado Islâmico está controlando atualmente 40% do território do Iraque e
30% do da Síria.
Os extremistas continuam a purga não só dos
cristãos, mas também dos símbolos religiosos que eles consideram
ofensivos à sua interpretação fundamentalista do islã. Na última semana,
a Associated Press (AP) divulgou declarações dos moradores de Mossul
que dão conta de que os militantes extremistas islâmicos explodiram um
santuário muçulmano considerado pela tradição como o local do
sepultamento do profeta Jonas. Os moradores dizem que os militantes do
Estado Islâmico, que invadiram Mossul em junho e impuseram à cidade a
sua interpretação radical da lei islâmica, ordenaram que todos saíssem
da Mesquita e Santuário do Profeta Younis (Jonas), construído sobre um
sítio arqueológico que remonta ao século VIII a.C., e em seguida o
explodiram.
Os extremistas retiraram as cruzes de todas as
trinta igrejas e mosteiros de Mossul e transformaram a catedral siríaca
ortodoxa em mesquita, de acordo com informações da Agência Internacional
de Notícias Assíria.
Em notícia de primeira página, o jornal L’Osservatore Romano
apresentou o grupo Estado Islâmico como o “Califado da Brutalidade”,
explicando que o seu líder, Abu Bakr al-Baghdadi, ordenou que todas as
mulheres e meninas no território sob seu domínio sofressem mutilação
genital. O diário vaticano informou ainda que o EIIL já
tinha ordenado anteriormente que “as famílias entregassem suas filhas
virgens para se casar com os jihadistas”. O grupo terrorista também
segregou as universidades por sexo.
Os legisladores iraquianos elegeram o veterano
político curdo Fouad Massoum como novo presidente do país, enquanto
lutam para formar um novo governo em meio à blitz extremista que tomou
conta de grande parte do Iraque setentrional e ocidental. A eleição
deixa Bagdá um pouco mais perto de formar um novo governo que “encare a
tarefa gigantesca de cuidar das profundas divisões que estão dilacerando
o país”, escreveu o repórter Loveday Morris, do Washington Post.
Um acordo informal de partilha do poder no Iraque determina que o
cargo de presidente seja ocupado por um curdo, o de presidente do
parlamento por um sunita e o de primeiro-ministro por um xiita.
A Associated Press, citando altos políticos iraquianos,
informou que o primeiro-ministro Nouri al-Maliki rejeitou uma tentativa
do Irã de convencê-lo a renunciar, destacando a sua determinação de
desafiar até mesmo o principal aliado a pressionar pela confirmação de
um terceiro mandato, o que exacerbou ainda mais a crise política do
país.
Durante semanas, Al-Maliki resistiu à pressão crescente para deixar o
cargo, inclusive de ex-aliados políticos xiitas e das principais
autoridades espirituais xiitas do Iraque. Seus críticos veem o
primeiro-ministro xiita como um elemento de divisão, inadequado para
formar um governo capaz de obter o apoio da minoria sunita contra a
insurgência dos extremistas, cujos líderes também são sunitas.
O EI prometeu continuar a ofensiva, agora em direção a Bagdá.
Os avanços do grupo terrorista parecem ter arrefecido depois que os
seus militantes ultrapassaram as áreas predominantemente sunitas do
Iraque, mas o governo do país ainda não teve forças para lançar uma
contra-ofensiva eficaz.
O EstadoIslâmico reivindicou a
autoria de um atentado suicida na capital na terça-feira da semana
passada, quando 31 pessoas foram mortas e 58 ficaram feridas. O ataque
aconteceu quando os xiitas se dirigiram a um importante santuário para
fazer as orações do mês sagrado islâmico do Ramadã. Em comunicado
publicado online, o grupo terrorista afirmou que o ato foi “uma resposta
às hostilidades do governo”, que é chefiado por xiitas.
Fonte: Aleteia
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