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O IOR volta a ser opaco. Os observadores começaram a se dar conta disso com o retorno do Papa Francisco da sua viagem à Terra Santa. "No IOR,
foram fechadas 1.600 contas de pessoas que não tinham direito",
declarou o pontífice na coletiva de imprensa no avião que o trazia de
volta a Roma.
A reportagem é de Marco Politi, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano, 30-07-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Palavra do papa. No entanto, a uma questão específica, os porta-vozes
do Instituto se recusam a corroborar as suas declarações, apesar da
publicação de uma carta do presidente Von Freyberg,
que no ano passado havia indicado categoricamente o fim de novembro
para o encerramento das contas que não estivessem em conformidade com os
requisitos do estatuto do IOR: "Com a presente,
notificamos-lhe o recesso, por parte do Instituto, da relação mantido
com o senhor, além de todos os serviços conectados a ela, a partir do
dia 30 novembro de 2013, com o consequente fechamento de toda posição".
Agora, ficamos sabendo que isso não é verdade. Já tinha sido possível
ter uma ideia disso durante o encontro com a imprensa do diretor da AIF (Autoridade de Informação Financeira vaticana), René Bruelhart, que, no dia 20 de maio, havia explicado que "não foram fechadas todas as contas dos clientes que receberam as cartas".
Mas ninguém poderia imaginar que fossem dadas informações erradas ao papa. Agora, o IOR diz ao jornal Il Fatto que o fechamento das contas "é um desdobramento laborioso, que está prosseguindo constantemente".
Do número de 1.200 contas fechadas que havia circulado no início do
ano – sem falar das 1.600 indicadas pelo papa –, passamos a informação
zero. Visto que um cliente pode ter várias contas, o IOR também se recusa a se comunicar com aqueles clientes com os quais foram interrompidas as relações.
No relatório da AIF do ano passado, informava-se que haviam sido registradas 200 transações suspeitas da APSA e do IOR.
Dado que a maioria das transações suspeitas provém do IOR, seria
oportuno saber quantas são, efetivamente, as transações pouco claras.
Responde o IOR: "A resposta a essa pergunta faz parte das competências da AIF". É falso. O IOR é entidade referente e, se quiser ser transparente, deve fornecer as informações relativas.
Mas o mais surpreendente é que, entrevistado conosco em setembro de 2013, o presidente Freyberg
havia revelado que também haviam sido detectadas "contas suspeitas",
indicando genericamente que se tratava de um "número de dois dígitos".
Em suma, de 10 a 99.
Dez meses depois, o IOR se recusa a dar informações
específicas sobre as contas suspeitas identificadas e fechadas,
desvinculando-se com a afirmação de que esse número também "é da
responsabilidade da AIF".
Isso também não é verdade. Porque a AIF é um órgão
de controle superior, mas cabe à gestão de um banco saber e dizer o que
identificou de suspeito. A nova temporada de opacidade se completa com o
adiamento para o fim do ano da publicação do orçamento, que membros da
equipe de Freyberg davam por certa em fevereiro para o seguinte março de 2014.
Sem nenhuma explicação, agora se diz que a "avaliação encerrada de
todas as atividades não havia sido concluída na primavera. Esperamos que
o relatório seja publicado, como no ano passado, provavelmente no dia
1º de outubro". Para a auditoria, foi encarregada a Deloitte&Touche.
Na realidade, o IOR ainda parece estar cheio de esqueletos nos armários. No muito documentado livro Le mani della mafia [As mãos da máfia] (Ed. Chiarelettere), a jornalista do Corriere della Sera, Maria Antonieta Calabrò, revela que, ainda hoje, algumas das contas de trânsito utilizadas pelo IOR junto aos bancos italianos são as mesmas dos tempos do escândalo Calvi e do Banco Ambrosiano.
Por outro lado, desde 2011, a operatividade do IOR
junto aos bancos italianos ainda está suspensa com o bloqueio das somas
relativas a "contas conjuntas" (isto é, do IOR ou de clientes não
especificados). Trata-se de 120 milhões de euros, mas se suspeita que
seja ainda mais.
Para chegar a tempos mais recentes, a agência de auditoria Promontory, contratada pelo próprio Freyberg, está investigando os investimentos do IOR de 130 milhões de euros, que, segundo a revista L'Expresso, poderiam esconder operações de lavagem de dinheiro.
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