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O documento também faz críticas à ideia de que gênero é um construto social, como outra ameaça ao casamento.
Por Christopher Lamb
Os católicos que não seguem o ensinamento da Igreja devem ser tratados com misericórdia, mas, ao mesmo tempo, precisam ser mais bem formados sobre o seu conteúdo, afirma um novo documento divulgado nessa quinta-feira, em preparação para o Sínodo de outubro sobre a família.
Os católicos que não seguem o ensinamento da Igreja devem ser tratados com misericórdia, mas, ao mesmo tempo, precisam ser mais bem formados sobre o seu conteúdo, afirma um novo documento divulgado nessa quinta-feira, em preparação para o Sínodo de outubro sobre a família.
O Instrumentum laboris – um documento de trabalho para o
Sínodo dos bispos – recolheu as respostas das conferências episcopais de
todo o mundo às questões sobre temas como a comunhão para os casais
divorciados em segunda união e para os casais do mesmo sexo.O extenso documento, divulgado pelo Vaticano, reforça fortemente o ensino da Igreja sobre matrimônio e sexualidade.
As esperanças tinham se elevado no sentido de que o próximo Sínodo
poderia levar a um desenvolvimento do ensino da Igreja, incluindo, por
exemplo, a permissão da comunhão aos divorciados em segunda união. Mas
esse documento, que servirá de base para a discussão dos bispos quando
eles se encontrarem, sugere que, embora a abordagem será pastoral, o
ensino da Igreja não mudará necessariamente e, ao contrário, precisa ser
mais bem articulado.
Ele parece particularmente preocupado que a família está sob pressão a
partir de uma grande variedade de ângulos. No Ocidente, eles são
listados como hedonismo, relativismo, individualismo, transitoriedade e o
desejo pela gratificação imediata, enquanto na África e em partes da
Ásia são citados a poligamia e o divórcio quando uma mulher é incapaz de
ter filhos. O documento também faz frequentes referências críticas à
"teoria de gênero", a ideia de que gênero é um construto social, como
outra ameaça ao casamento.
Ao mesmo tempo, o documento mostra uma sensibilidade aos
constrangimentos financeiros – incluindo a falta de moradia adequada –
que levam casais jovens a adiarem o casamento e convida a Igreja a
desenvolver programas pastorais para ajudar as pessoas que se encontram
em casamentos irregulares e para acolher os filhos dos gay casais.
Ele diz que falta o conhecimento do ensino da Igreja sobre o
casamento entre os católicos, e que alguns clérigos se sentem
despreparados para explicar o ensino sobre sexualidade, enquanto outros
expressam indiferença.
Essa ignorância é especialmente evidente quando se trata da lei
natural, a base filosófica do ensino da Igreja sobre matrimônio e
sexualidade. Muito poucos católicos demonstraram uma compreensão do
conceito, e alguns acreditam que "natural" significa "o que vem
naturalmente". Também se aponta que, na evolução do Ocidente, a biologia
e a neurociência argumentam que a lei natural não é "científica".
Sobre as seguintes questões polêmicas da Igreja, o documento afirma o seguinte:
Comunhão para divorciados em segunda união
Um grande número de casais divorciados em segunda união simplesmente
desconhecem a sua união irregular, diz o documento, enquanto que aqueles
que estão conscientes "sentem-se frustrados e marginalizados", devido
ao fato de serem incapazes de receber a comunhão.
"Alguns perguntam-se por que motivo outros pecados são perdoados e
este não", afirma-se. "Ou então, por que os religiosos e os sacerdotes
que receberam a dispensa dos seus votos e dos ônus presbiterais podem
celebrar o matrimônio, receber a comunhão, e os divorciados recasados
não."
Mas o documento afirma que essas questões "põem em evidência a necessidade de uma formação e informação oportunas" .
Ao mesmo tempo, porém, o tom é pastoral com um pedido das hierarquias
locais para que a Igreja possa "exercer uma misericórdia, clemência e
indulgência mais amplas em relação às novas uniões" .
E continua: "Com grande misericórdia, a Igreja é chamada a encontrar
formas de 'companhia' com as quais apoiar estes seus filhos num percurso
de reconciliação. Com compreensão e paciência, é importante explicar
que a impossibilidade de aceder aos sacramentos não significa ser
excluídos da vida cristã e da relação com Deus".
Além disso, o documento envolve um consenso entre os bispos de que é
preciso tornar o processo de anulação mais fácil e eficiente.
Casais do mesmo sexo
Não há nenhum indício de uma mudança na aceitação das uniões civis
gays a partir de uma citação usada de um documento de 2003 que explica a
oposição da Igreja a elas, escrito pelo então cardeal Joseph Ratzinger,
quando ele era prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé.
As conferências episcopais, no entanto, dizem que estão tentando
encontrar uma atitude "respeitosa e não julgadora" diante dos casais
gays, embora o documento aponte que não há consenso.
Ele salienta que os casais gays devem receber apoio como é "exigido
de qualquer outro casal" quando procuram o batismo para o seu filho. Os
filhos dos homossexuais também devem ser acolhidos "com a mesma atenção,
ternura e solicitude que recebem os outros filhos."
Contracepção
O documento afirma que a grande maioria das pessoas não tem conhecimento dos "aspectos positivos" da Humanae vitae – a encíclica de Paulo VI que reitera a proibição da contracepção artificial.
"Na grande maioria das respostas recebidas evidencia-se como a
avaliação moral dos diferentes métodos de regulação dos nascimentos é
hoje entendida pela mentalidade comum como uma ingerência na vida íntima
do casal e como um limite para a autonomia da consciência", explica-se.
Também se diz que os casais não costumam considerar o uso da
contracepção como um pecado e como uma questão para a confissão (o
oposto, no entanto, vale em relação ao aborto).
A Humanae vitae, conclui o documento, deve ser mais conhecida nos cursos de preparação para o casamento.
Finalmente, como sinal de esperança, o documento aponta para o desejo
continuado entre os jovens de se casarem e de começarem uma família.
Esse "revela-se como um verdadeiro sinal dos tempos, que pede para ser aproveitado como ocasião pastoral", afirma.
A Assembleia Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos sobre o tema "Desafios pastorais da família no contexto da evangelização" ocorre nos dias 5 a 19 de outubro e contará com a presença dos presidentes das conferências episcopais de todo o mundo. Uma Assembleia Geral Ordinária, com um maior número de bispos e participantes, ocorrerá um ano depois.
A Assembleia Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos sobre o tema "Desafios pastorais da família no contexto da evangelização" ocorre nos dias 5 a 19 de outubro e contará com a presença dos presidentes das conferências episcopais de todo o mundo. Uma Assembleia Geral Ordinária, com um maior número de bispos e participantes, ocorrerá um ano depois.
Revista The Tablet, 26-06-2014.
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