Recentemente um amigo meu de uma igreja evangélica me
perguntou por que católicos “adoram” imagens quando isso é proibido pela
Bíblia? Ele citou nominalmente o texto de Êxodo 20, 4 que diz: “Não farás para
ti imagem esculpida nem figura alguma”. Primeiramente seria bom afirmar logo
que católicos não adoram imagens de Jesus, de Nossa Senhora ou dos santos e
santas, mas as tratamos com respeito, como qualquer pessoa faz com o retrato de
um ente querido. Católicos somente podem adorar a Deus. Não rezam para imagens
de gesso, madeira, aço etc., mas para a pessoa de Jesus, a Virgem Maria ou do
santo ali representada. Nenhum católico é tão ingênuo a ponto de pensar que
aquele pedaço de madeira ou aquela imagem de papel ouve e atende a sua oração.
O católico sabe muito bem que está se dirigindo a uma pessoa que não se vê, mas
que está viva na presença de Deus e, por isso, escuta com benevolência o seu
pedido e o seu agradecimento.
Quem venera uma imagem, de fato está mostrando o seu amor,
confiança e gratidão à pessoa representada. A imagem recorda a vida deles, os
seus exemplos de amor e santidade e, ao mesmo tempo, ajuda a torná-los
presentes em nossa vida com sua graça e seu auxílio. Na minha mesa de trabalho
há uma imagem dos meus falecidos pais. Frequentemente, durante o dia, olho para
ela e recordo com gratidão o amor, o bom exemplo e a boa educação que eles me
deram. A imagem é uma simples fotografia. Ao lado da imagem dos meus pais há
uma outra imagem, um crucifixo. Também olho para ela frequentemente durante o
dia e recordo a paixão de Cristo e o fato que Ele é meu Salvador. Espero,
através dos méritos Dele ser salvo. As imagens ajudam-me a pensar e refletir
sobre o que elas representam. Obviamente não adoro estas imagens em si. Mas
vamos voltar à Sagrada Bíblia. Ao se falar que a Bíblia proíbe imagens é
preciso entender o contexto. Quando a palavra “imagem” se refere aos ídolos
(falsos deuses), ela é proibida. Como em Êxodo 20,4-6. Aí se faz a diferença
entre o povo do único Deus verdadeiro e os demais povos dados à idolatria, ao
culto pagão das estátuas representativas de deuses imaginários. Fora desse
contexto a imagem não é proibida. Neste mesmo livro: Êxodo 25,17-19, Deus
manda Moisés fazer imagens de querubins sobre a Arca da Aliança. A Arca da
Aliança foi cultuada como imagem da presença de Deus no meio de seu povo. Outro
episódio é a imagem da serpente de bronze. Moisés a colocou num poste por ordem
de Deus. Os que eram picados por cobras venenosas no deserto ficavam salvos
olhando para ela (cf. Números 21,4-9). Há mais ainda no 1Reis 7,23-39: “Fez
o mar de metal fundido… Este repousava sobre doze touros, dos quais três
olhavam para o norte, três para o oeste, três para o sul e três para o
leste…Sobre as molduras que estavam entre as travessas havia leões, touros e
querubins…”. O processo de fabricar imagem é descrito por Isaías e Jeremias (Is
40,19-20; Is. 44,9-20; Jr 10, 9). Faziam-se de vários tamanhos: umas pequenas
destinadas a proteger as habitações, (Gn 31,34; 35,1-40); outras eram
colossais, como a que Nabudonosor mandou levantar no campo de Dura ( Dn 2,1).
As gerações católicas compreenderam que, segundo o método da
pedagogia divina, deveriam procurar ao Invisível passando pelo visível que
Cristo nos apresentou; a meditação das fases da vida de Jesus e a representação
artística das mesmas se tornaram recursos com que o povo fiel procurou
aproximar-se do Filho de Deus; a reprodução em tela ou escultura dos episódios
da história sagrada ficou sendo o “catecismo do povão”. Na Igreja Católica as
autoridades têm exercido controle sobre os tipos de imagens utilizadas no culto
católico; nunca poderão ser inspirados unicamente pelo esteticismo ou pela
devoção popular exuberante, fantasista. Assim é que o Papa Urbano Vlll em 1628
condenou a representação monstruosa da Santíssima Trindade sob a forma de um
tronco humano com três cabeças; em 1745 o Papa bento XlV rejeitou a cena de
três pessoas humanas sentadas uma ao lado da outra para significar a Trindade
Divina. Uma das principais razões dessas reprovações é que o Espírito Santo
nunca apareceu sob forma humana; a Igreja Católica quer que a arte cristã, para
representar as Pessoas Divinas, só reproduza elementos mediante os quais estas
aparecem na história sagrada ou na Bíblia: assim no Filho será de todo oportuno
atribuir figura humana; ao Espírito Santo só convém os símbolos da pomba
(lembrando o batismo de Jesus, em Mt 3,16) ou das línguas de fogo (cf. a
narrativa de Pentecostes em At 2,3); quanto ao Pai Eterno é representado por um
Dedo, sinal de poder (cf. a expressão de Jesus em Lc 11,20), ou por um Ancião,
consoante à passagem de Dn 7,9, que vê o Filho do Homem adiantando-se em
direção de venerável e antigo Varão de cabeleira branca, sentado sobre um
trono. (cf. Dic. Enc. Das Religiões, Vol l, p. 1359). Há católicos que acham
que não devemos tentar fazer uma imagem do Pai, que vive em luz inacessível e
que conhecemos através de seu Divino Filho, Jesus Cristo.
As imagens não são objeto de adoração por parte dos católicos.
A Igreja nos ensina que nós adoramos somente a Deus e esse culto se chama
“latria”. Aos santos prestamos nosso culto de veneração que se chama “dulia” e
a Nossa Senhora, que é especial, nossa veneração se chama “hiper-dulia”. Para o
católico nenhum santo ou Nossa Senhora está no lugar de Deus. Portanto, a
devoção aos santos e à Mãe de Jesus através de imagens não é contra a Bíblia e
a Tradição cristã. Só Jesus é Senhor e Salvador. Há igrejas que condenam nossas
imagens, mas usam a cruz, o candelabro, a pomba etc. que são imagens! Para os
católicos “Existe um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens: o homem
Cristo Jesus” (l Tm. 2,5). Nossa senhora e os santos só podem ajudar-nos porque
são também membros do corpo de Cristo e por isso participam do seu sacerdócio.
A mediação dos santos não é independente da mediação de Cristo, único mediador
entre Deus e os homens. Eles são como afluentes. “Cristo é o único rio que leva
as águas de nossos bons desejos até o oceano infinito da bondade de Deus”.
Pe.
Brendan Coleman Mc Donald
Redentorista e Doutor
em Teologia
Fonte: Arquidiocese de Fortaleza
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