Biografia pessoal de Benigna Cardoso da Silva.
Crato,
(Zenit.org)
Por
Vitaliano Mattioli
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Sua infância foi cercada pela alegria das inocentes brincadeiras
com cantigas de roda, bonecas, casinha, piqueniques, passeios etc., ao
lado de suas irmãs de criação Tetê e Irani, as quais ainda vivem.
Benigna gostava muito de uma cantiga de roda que dizia mais ou menos
assim: “Carneirinho, carneirão, neirão, neirão, olhai pro céu, olhai pro
céu, pro céu, pro céu, para ver Nosso Senhor, Senhor, Senhor, e todos
se ajoelharem...”
Era uma jovem muito simples e cheia de humildade. De estatura média,
Benigna era magra, de cabelos e olhos castanhos meio ondulados, morena
clara, rosto arredondado e queixo afinado.Tinha um leve estrabismo em um
dos olhos.
Modesta por natureza, tímida e reservada, não usava vestidos sem
mangas, curtos nem com decotes. Sua generosidade, carisma e simpatia a
fazia querida e cativada por todos.
Em casa, desenvolvia bem todas as tarefas domésticas, com intuito de
ajudar sua família adotiva. Era boa filha, sempre obediente e
prestativa.
Extremamente religiosa e temente a Deus, nutria um grande desejo de
fazer a Primeira Eucaristia, e depois desse sonho realizado, seguia à
risca os seus mandamentos. Não perdia as missas e fazia penitência nas
primeiras sextas-feiras em devoção ao Sagrado Coração de Jesus; sempre
na companhia de sua “madrinha Ozinha” e da “Tia Bezinha.”Era assídua na
participação eucarística.
Aos 12 anos de idade, já lendo e escrevendo, Benigna começou a ser
assediada por um rapaz chamado Raul Alves com propostas de namoro,
rejeitadas de forma categórica por ela, que nada queria com ele a esse
respeito. Procurou imediatamente o Pe. Cristiano Coêlho, vigário da
época, para pedir conselhos sobre o assunto da perseguição de Raul, e
este lhe aconselhou a vir estudar em Santana e a presenteou com uma
bíblia, que tornou-se seu livro de cabeceira, o qual guardava com esmero
e carinho. Se encantava com as gravuras e as histórias do antigo e do
novo testamento. Ela encontrou apoio na palavra de Deus para resistir às
tentações de Raul.
A caminho da escola, se mostrava sempre uma defensora da natureza,
não deixando que seus colegas maltratassem as plantinhas nem tirassem
suas flores ou galhos. Na sala de aula, era uma aluna exemplar; por
demais estudiosa, cuidadosa, pontual e colaboradora. Sempre gostava de
ajudar seus colegas para não vê-los punidos com a palmatória ou de
joelhos nos caroços de milho, fato que a deixava demasiadamente triste, e
às vezes até chorava com os castigos aplicados aos outros.
Depois de várias tentativas sem sucesso, numa tarde fatídica de
sexta-feira, dia 24 de outubro de 1941, sabendo que Benigna ia pegar
água numa cacimba próxima à sua casa, ficou Raul à espreita atrás do
mato, observando-a com o pote na cabeça, com seus recém completados 13
anos. Ao aproximar-se, abordou-a sexualmente. Ela recusou, ele insistiu
tentando violentá-la. Ela disse “não” com veemência e lutou heroicamente
para se defender do ato pecaminoso, que no seu entender cristão
ofenderia seu corpo .
Raul, ao perceber que Benigna nada aceitaria com o mesmo, foi tomado
por um ódio feroz; sacou de um facão atroz e a golpeou cortando-lhe os
dedos da mão. Ela relutou de forma sobrehumana contra seu algoz,
preferindo morrer a pecar contra a castidade. Depois disso, foi atingida
na testa, nas costas e por fim no pescoço, cujo golpe deixou-lhe a
cabeça quase decepada.
Ao vê-la morta, com o corpo estendido sobre as pedras e o sangue
inocente se esvaindo pelo chão, Raul foge, sendo o corpo da vítima
encontrado logo em seguida já sem vida.
Seu corpo foi sepultado na manhã do sábado, no Cemitério Público São
Miguel, em Santana do Cariri-CE, acompanhado de comoção geral. Os
requintes de crueldade do bárbaro crime abalou todo o Município. Desde
essa data, começaram as visitas ao túmulo e ao local do martírio até o
tempo presente. As rogativas feitas à “Santa de Inhumas”, assim como as
promessas são geradoras de graças alcançadas por intercessão dessa
memorável Jovem , que é tida por todos como “santa” e “Heroína da
Castidade”.
O assassino foi preso, pagou pelo seu crime e, arrependido, voltou ao
local 50 anos depois para chorar, elevar preces e pedir perdão a
Benigna. Neste retorno, relatou sua mudança de vida, sua conversão ao
cristianismo. Fez penitências para salvar sua alma, e pedindo a
intercessão de Benigna, alcançou graças sempre recorrendo à sua inocente
vítima, a quem sempre rogava nas horas de aflição. Segundo ele, seu ato
foi de loucura e “ela se mostrou virtuosa, quando resistiu para não
pecar e não apenas para ver se escaparia.”
Sobre Benigna o Padre Cristiano deixou escrito ao lado do seu
batistério: ”Morreu martirizada, às 4 horas da tarde, no dia 24 de
outubro de 1941, no sitio Oiti. Heroína da Castidade, que sua santa alma
converta a freguesia e sirva de proteção às crianças e às famílias da
Paróquia. São os votos que faço à nossa santinha.”
O processo diocesano foi terminado no dia 21 de setembro de 2013 e
entregado na Congregação para as Causas dos Santos no dia 7 de outubro
do mesmo ano. Agora precisa só esperar e rezar para que a Igreja
reconheça o martírio de Benigna e possa beatificá-la. Seria a primeira
beata mártir do Ceará.
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