O Papa Emérito Bento XVI trabalhou arduamente durante todo o seu
pontificado para mostrar a beleza e a importância da liturgia na vida da
Igreja. Mais do que documentos e papéis (os quais possuem obviamente a
sua relevância), procurou viver a liturgia em toda a sua plenitude,
educando pelo exemplo. Ensinou a todos que “uma liturgia
participativa é importante, mas uma que não seja sentimental. A liturgia
não deve ser simplesmente uma expressão de sentimentos, mas deve
emergir a presença e o mistério de Deus no qual ele entra e pelo qual
nós nos permitimos ser formados”.
Desse modo, tudo que envolve a liturgia tem sua importância e o seu
significado. Como centro da vida do cristão católico, portanto, não se
pode realizá-la de qualquer maneira. A Igreja, ao longo dos seus dois
mil anos de História, sempre teve especial atenção aos cânticos e
músicas executadas nas mais diversas celebrações, especialmente na Santa
Missa. O Catecismo da Igreja Católica dedica os números 1156 e
seguintes, para explicar a importância do canto e da música para a
liturgia:
“A tradição musical da Igreja universal constitui um tesouro de valor inestimável que se destaca entre as demais expressões de arte, principalmente porque o canto sacro, ligado às palavras, é parte necessária ou integrante da liturgia solene. (…) O canto e a música desempenham sua função de sinais de maneira tanto mais significativa por estarem intimamente ligadas à ação litúrgica, segundo três critérios principais: a beleza expressiva da oração, a participação unânime da assembleia nos movimentos previstos e o caráter solene da celebração. Participam assim da finalidade das palavras e das ações litúrgicas: a glória de Deus e a santificação dos fiéis. (…) Todavia, os textos destinados ao canto sacro hão de ser conformes à doutrina católica, sendo até tirados de preferência das Sagradas Escrituras e das fontes litúrgicas.”
Ora, Catecismo é bastante claro no sentido de que a Igreja possui a
música como patrimônio e este não deve ser ignorado ou substituído por
modismos. Os cantos e a música colaboram para que cada fiel mergulhe no
mistério da celebração e aproxime-se do centro que é Deus. O Papa Bento
XVI, em sua exortação apostólica Sacramentum Caritatis, é ainda mais
objetivo quando diz:
“Na sua história bimilenária, a Igreja criou, e continua a criar, música e cânticos que constituem um patrimônio de fé e amor que não se deve perder. Verdadeiramente, em liturgia, não podemos dizer que tanto vale um cântico como outro; a propósito, é necessário evitar a improvisação genérica ou a introdução de gêneros musicais que não respeitem o sentido da liturgia. Enquanto elemento litúrgico, o canto deve integrar-se na forma própria da celebração; consequentemente, tudo — no texto, na melodia, na execução — deve corresponder ao sentido do mistério celebrado, às várias partes do rito e aos diferentes tempos litúrgicos. Enfim, embora tendo em conta as distintas orientações e as diferentes e amplamente louváveis tradições, desejo — como foi pedido pelos padres sinodais — que se valorize adequadamente o canto gregoriano, como canto próprio da liturgia romana.”
Percebe-se, então, que a música e o canto devem ser escolhidos com
critério, respeitando o sentido da liturgia que não é outro senão adorar
a Deus, fazendo memória da Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor
Jesus Cristo. Para isso, é necessário sair do antropocentrismo e
devolver a Deus seu lugar no centro da celebração.
As músicas e cantos que fazem parte do patrimônio da Igreja já
passaram pelo crivo teológico e, presume-se, portanto, que estejam
isentas de erros ou de heresias. O que não acontece com músicas de
autores declaradamente protestantes, pois, como o próprio nome já diz,
estão separados da Igreja por algum motivo que pode, de alguma forma,
refletir-se na letra da música. Se isso ocorre, o católico,
inadvertidamente, estará proferindo um erro ou uma heresia.
Para não correr o risco de errar e induzir outros em erros e, o que é
pior, em heresias, recomenda-se permanecer sempre com o patrimônio da
Igreja. Seguro, portanto, é caminhar pela vereda apontada pelo Papa
Emérito Bento XVI: preservar o patrimônio de fé e de amor que é a música
e o canto sacros, utilizando-os e focando na formação dos músicos,
“valorizando adequadamente o canto gregoriano, como canto próprio da
liturgia romana”. Desse modo, o mundo será introduzido no mistério da
liturgia e não o contrário.

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