quarta-feira, 24 de setembro de 2014

A surpreendente revelação de Deus

[domtotal]

Não há uma forma correta de entendermos a Deus. Ele nos surpreenderá com a intimidade de seu amor.

 

O pouco que sabemos Dele é graças ao que Jesus nos revelou.


Por Dom Eurico dos Santos Veloso*

A parábola do Evangelho do 25º domingo do Tempo Comum causa surpresa nos que leem a Bíblia pela primeira vez. Não entendem como Jesus pode colocar como exemplo de comportamento a injustiça clara praticada pelo proprietário da vinha. É uma norma aceita em nossos dias que o salário deva corresponder ao trabalho realizado. Mas é que a parábola não fala disso, mas de Deus e do seu modo de ser. Então, Deus é injusto? Não paga a cada um de acordo com os seus trabalhos?

As palavras finais da parábola nos permitem entender o sentido de toda a narrativa. São as que o dono da vinha dirige aos trabalhadores que protestam por terem recebido menos do que o esperado: "Estás com inveja porque eu sou bom?" De alguma forma, são palavras que Deus dirige a cada um de nós. É uma frase que vai desde a imensidão do ser de Deus até a pequenez de nosso ser criaturas. Denuncia a nossa ânsia de manipular Deus, de querer que Ele atue e seja como nós pensamos que deva agir e ser. Quantas vezes na história não fizemos Deus abençoar guerras e vinganças?

Essa parábola insinua que não temos muita ideia de como Deus é. O pouco que sabemos dele é graças ao que Jesus nos revelou. E o que Jesus nos diz é que é um Pai, ou melhor, um papai – isso é o que significa Abá. Deus nos quer bem e olha sempre com olhos de carinho e misericórdia. Mas, além disso, sabemos muito pouco ou nada. Como diz a primeira leitura, “Estão meus caminhos tão acima dos vossos caminhos e meus pensamentos acima dos vossos pensamentos, quanto está o céu acima da terra”.

Não há uma forma correta de podermos entender a Deus, introduzi-lo em nossa mente e expressá-lo em nossas categorias e formas de falar. Deus nos surpreenderá com a intimidade de seu amor. Por isso, Jesus não encontrou melhor maneira de falar dele que empregar essas histórias. Dessa forma, por comparação. Poderíamos vislumbrar um pouco o que é Deus, o amor que nos tem, sua capacidade de acolhida e sua vontade de nos dar a vida plena. Por isso, Paulo, que havia aberto totalmente seu coração a Deus, pode dizer: “Para mim, o viver é Cristo e o morrer é lucro.” Melhor é que não tentemos manipular Deus e que simplesmente o aceitemos como Ele se revelou em Jesus.


CNBB, 23-09-2014.

*Dom Eurico dos Santos Veloso é arcebispo Emérito de Juiz de Fora (MG).

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