ihu - No primeiro dia da visita do Papa Francisco à Coreia do Sul ele se encontrou com os bispos coreanos. Na ocasião, o pontífice disse a eles para serem um com os pobres.
No entanto, alguns de seus mais fortes conselhos não foram trazidos
ao grande público na época, pois vários parágrafos de sua fala foram
tirados do texto oficial distribuído à mídia.
A reportagem é de Thomas C. Fox, publicada pelo National Catholic Reporter, 28-08-2014. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Os bispos coreanos lançaram um sítio – “Visita Pastoral 2014 do Papa Francisco à Coreia”
– para as centenas de meios de comunicação, locais e estrangeiros, que
trabalhavam na cobertura da viagem de cinco dias do papa pela Coreia do Sul. O sítio fornecia os textos oficiais e fotos de todos os eventos.
Na esteira da visita, vários jornalistas coreanos perceberam as
discrepâncias entre as falas do papa em relação aos textos
disponibilizados no sítio do Vaticano e os textos presentes em sítios
disponíveis para os meios de comunicação, entre eles o da Conferência dos Bispos Católicos da Coreia.
Quando alguns jornalistas pediram uma explicação sobre estas
discrepâncias, um porta-voz dos bispos coreanos disse que os parágrafos
foram retirados inadvertidamente. Os parágrafos em falta foram, agora,
acrescentados no sitio dos bispos coreanos.
Como dito acima, Francisco disse aos bispos coreanos
que “a solidariedade com os pobres está no coração do Evangelho”, e que
“ela deve penetrar os corações e mentes dos fiéis e se refletir em
todos os aspectos da vida eclesial (...). Rezo para que esse ideal
continue a moldar o caminho da Igreja coreana na sua peregrinação para o
futuro”.
O que ele disse a seguir, no entanto, não foi informado porque tinha sido deixado de fora do texto disponibilizado para a mídia.
Francisco falou especificamente sobre as
dificuldades que uma igreja local pode ter ao viver na prosperidade,
alertando os bispos para não serem uma Igreja de “classe média”, que perde a sua missão evangélica radical e, mesmo, se torna um embaraço para os pobres.
Ele disse:
“Tenho dito que os pobres
estão no coração do Evangelho; eles estão presentes aí do começo ao fim.
Na sinagoga de Nazaré, Jesus deixou isso bem claro desde o início do
seu ministério. E quando em Mateus 25 ele fala dos
últimos dias e revela os critérios pelos quais todos seremos julgados,
aí também encontramos os pobres. Há um perigo, uma tentação que surge
nos tempos de prosperidade: é o perigo de que a comunidade cristã se
torne apenas mais uma ‘parte da sociedade’, perdendo a sua dimensão
mística, perdendo a sua capacidade de celebrar o Mistério e se tornando
uma organização espiritual, cristã e com valores cristãos, mas sem o
fermento da profecia. Quando isso acontece, os pobres não mais têm o seu
papel próprio na Igreja. É uma tentação da qual certas igrejas,
comunidades cristãs, vêm sofrendo ao longo dos séculos; nalguns casos
elas se tornam tão classe média que os pobres até mesmo se sentem
envergonhados em ser parte deles. É a tentação da ‘prosperidade’
espiritual, prosperidade pastoral. Ela não mais é uma Igreja pobre para
os pobres, mas sim uma Igreja rica para os ricos, ou uma Igreja classe
média para os acomodados. Também nada disso é novidade: a tentação
estava aí desde o início. Paulo precisou repreender os coríntios em sua Primeira Carta (11,17), enquanto o apóstolo Tiago
foi ainda mais severo e explícito (2,1-7): ele precisou repreender as
comunidades ricas, igrejas ricas para pessoas ricas. Elas não estavam
expulsando os pobres, mas a forma como estavam vivendo deixava os pobres
relutantes a entrar, estes não se sentiam em casa. Esta é a tentação da
prosperidade.
Não estou admoestando
vocês, pois sei que estão fazendo um bom trabalho. Como um irmão, no
entanto, que tem o dever de confirmar os irmãos na fé, lhes digo: tenham
cuidado, porque a Igreja local de vocês está prosperando, é uma grande
igreja missionária, uma grande igreja. Não devemos permitir que o diabo
lance estas sementes, esta tentação de tirar os pobres da estrutura
profética desta igreja e torná-la uma igreja rica para os ricos, uma
igreja para os acomodados – talvez não ao ponto de desenvolver uma
‘teologia da prosperidade’ –, mas uma igreja da mediocridade”.
Também deixado de fora de uma fala do papa aos bispos coreanos estava
um conselho que deu para estes continuarem próximos de seus padres.
Nesse sentido, ele foi específico: “Meus irmãos, se um padre telefonar
para vocês hoje e pedir para vê-los, chame-o imediatamente, hoje mesmo
ou amanhã”.
Estas eram as palavras que não tinham sido passadas à mídia e que não apareciam, originalmente, no sítio da Conferência dos Bispos:
“Peço a vocês para ficarem
próximos de seus padres. Próximos, de forma que eles possam vê-los
frequentemente. Esta proximidade do bispo não é apenas fraternal, mas
também paternal: enquanto levam adiante o ministério pastoral, eles
precisam disso. Os bispos não devem ficar distantes de seus padres, ou
pior: inacessíveis. Digo isso com um coração pesado. De onde eu venho,
alguns padres dizem: ‘Telefonei para o bispo, pedi para me encontrar com
ele; no entanto, já se passaram três meses e ainda não recebi uma
resposta’. Meus irmãos, se um padre telefonar para vocês hoje e pedir
para vê-los, chame-o imediatamente, hoje mesmo ou amanhã. Se não tiverem
tempo para vê-lo, diga: ‘Eu não posso me encontrar com você por causa
disso e daquilo, mas quis telefonar para você e aqui estou para
falarmos’. Deixem-nos ouvir a resposta do pai, o mais rápido possível.
Por favor, não se distanciem de seus padres.”

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