ihu - Quando o Papa Francisco soube, parece que ele pulou na cadeira. Santa Maria Madalena
comparada a um padre pedófilo em série? Inaceitável sob todos os pontos
de vista. O rumor de mais este "papelão", à beira da provocação, que
levou um dos membros da cúpula dos Legionários de Cristo a comparar a figura de Maria Madalena ao fundador dessa ordem religiosa, o padre Marcial Maciel Degollato, punido pelo Papa Ratzinger
em 2006 por ter estuprado dezenas de seminaristas e até mesmo abusado
de dois dos seus filhos naturais, além de ter enganado, corrompido e
semeado joio na Cúria, reabriu velhas feridas na Igreja. Feridas ainda
não curadas, apesar de já se terem passado seis anos desde o falecimento
do padre Maciel, um sacerdote mexicano com um cursus honorum de bastidores tão ímpio e criminoso a ponto de ser comparado ao diabo, a um dos piores delinquentes da história, ao mal.
A reportagem é de Franca Giansoldati, publicada no jornal Il Messaggero, 02-09-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A aproximação entre Maciel e Santa Maria Madalena feita pelo padre legionário Juan Solana
só poderia dar origem a uma sequência de polêmicas e reações
assustadas. Como é possível tolerar tal comparação? As cartas de
denúncia começaram a afluir ao Vaticano sinalizando o episódio.
O clima de férias que ainda habita nos escritórios do outro lado do Tibre não impediu uma intervenção de cima. O "papelão" feito por uma das principais ordens religiosas da América Latina, muito influente especialmente durante o pontificado de Wojtyla, foi enfrentada de peito aberto.
Poucos dias depois da publicação do livreto contendo a inaceitável comparação, veio a advertência, e o padre Solana foi obrigado a recuar, a engolir tudo o que anteriormente havia escrito (isto é, que "as iniciais Marcial Maciel são MM, as mesmas de Maria Madalena,
que teve um passado problemático antes da sua conversão. Nisso –
escreveu – existe um paralelo. O nosso mundo tem um padrão duplo quando
se entra no campo da moral. Alguns têm uma vida formal e pública, mesmo
que, nos bastidores, tenham outra. Quando acusamos alguém e jogamos
pedras contra ele, devemos nos lembrar que todos nós temos problemas e
defeitos. É fácil matar a reputação de alguém. Devemos ser mais
prudentes e menos julgadores").
Poucos dias depois, com as cinzas sobre a cabeça, os legionários
emitiram um comunicado para pedir desculpas. "Estou profundamente
arrependido pelo que eu escrevi no livreto publicado neste verão pelo Magdala Center em Jerusalém, administrado pela Legião".
Provavelmente, padre Solana não imaginava tanta repercussão; talvez não tivesse lido sequer uma das proibições desejadas por Ratzinger para livrar a Legião de Cristo do seu diabólico fundador. E isso que as regras eram precisas: ninguém, no futuro, jamais poderia fazer menção a Maciel, nem citá-lo em um documento, nem publicizá-lo.
Em relação aos comportamento indignos de Maciel, os legionários continuaram afirmando que não tinham conhecimento, até depois da sua morte, em 2008. Ratzinger,
no entanto, não estava convencido disso, já que, em torno de Maciel,
havia se constituído um sistema de poder e de defesa que talvez ainda
sobrevive.
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