domingo, 7 de setembro de 2014

Noé: o varão que não pactuou com o mal

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Redação (Segunda-feira, 01-09-2014, Gaudium Press) Após o hediondo crime de Caim, os homens foram de modo processivo caindo em pecados os quais se tornaram tão graves e generalizados, que Deus resolveu castigar a humanidade. Mas um valoroso varão se manteve completamente fiel ao Criador, e por isso foi preservado, juntamente com sua família, dessa terrível punição.

Descendentes de Set e de Caim

Para compreendermos melhor o significado desse castigo, lancemos o olhar sobre alguns fatos que o precederam.
Ao longo dos anos, duas raças se constituíram: a dos descendentes de Set, chamada de "filhos de Deus", e a dos de Caim, denominada "filhos dos homens".
Os caimitas, ou seja, os descendentes de Caim trilharam as vias do pecado. Por exemplo, Lamec casou-se com duas mulheres; comenta o Padre Fillion1 que ele foi o primeiro a romper com a santa unidade do matrimônio, instituída pelo próprio Deus (cf. Gn 2, 24). Esse Lamec chegou também a cometer um assassinato (cf. Gn 4, 23).
Enquanto que os descendentes de Set seguiram o caminho do bem.
Mas essas raças, após terem vivido separadas por muito tempo, acabaram se unindo, e homens descendentes de Set se casaram com mulheres pertencentes à raça de Caim, movidos pela sensualidade2. Ora, esse vício atrai outros, e assim a humanidade foi se deteriorando moralmente a tal ponto que "o Senhor viu quanto havia crescido a maldade das pessoas na Terra e como todos os projetos de seus corações tendiam unicamente para o mal" (Gn 6, 5).moise_catedral-colonia-alemania.jpg
Mas houve um homem, descendente de Set, que não se conformou com essa decadência moral e se manteve inteiramente fiel a Deus: Noé.

Construção da arca

Não era apenas a maioria dos homens que seguia as sendas da iniquidade, mas "toda a humanidade tinha pervertido sua conduta na Terra" (Gn 6, 12). Então, disse Deus a Noé que iria mandar um dilúvio para castigo da humanidade, ordenou-lhe que construísse uma arca e acrescentou: "Tudo o que existe na Terra perecerá. Contigo, porém, estabelecerei minha aliança: entrarás na arca com teus filhos, tua mulher e as mulheres de teus filhos" (Gn 6, 17-18); no total eram oito pessoas, como afirma São Pedro (cf. 1 Pd 3, 20). E mandou que Noé também colocasse na arca casais de cada espécie animal (cf. Gn 6, 19-20).
A construção da arca demorou 120 anos1. Durante todo esse tempo, Noé exortava as pessoas pelas suas palavras e pelo seu exemplo de vida; mas não lhe davam atenção, segundo afirma São Mateus: "Nos dias antes do dilúvio, todos comiam e bebiam, homens e mulheres casavam-se, até o dia em que Noé entrou na arca. E nada perceberam até que veio o dilúvio e arrastou a todos" (Mt 24, 38-39).
Quando a arca ficou pronta, Deus disse a Noé: "Tu és o único justo que encontrei nesta geração" (Gn 7, 1); ordenou que ele entrasse na arca com sua família. Então, "rebentaram todas as fontes do abismo e se abriram as cataratas do céu" (Gn 7, 11); "e o Senhor fechou a porta da arca atrás de Noé" (Gn 7, 16).

Torrentes de água durante 40 dias

As águas, provenientes dos abismos e dos céus, se abateram sobre a Terra durante 40 dias. A arca começou a flutuar, e tudo ficou inundado; "as águas subiram uns oito metros acima das montanhas" (Gn 7, 20).
Todos os seres humanos e animais - exceto os que estavam na arca -- morreram e "as águas dominaram sobre a terra durante 150 dias" (Gn 7, 24). Afirmar que alguns povos não foram atingidos pelo dilúvio significa "ir contra a intenção direta e evidente da narração"1 feita pela Sagrada Escritura.
Então, Deus fez soprar um vento de modo que as águas começaram a diminuir, e no sétimo mês "a arca pousou sobre os montes de Ararat" (Gn 8, 4), situados na Armênia.

O corvo e a pomba

Certo dia Noé abriu uma janela da arca e soltou um corvo, que não mais regressou. Depois liberou uma pomba que, não achando lugar para pousar, voltou para a arca. Após sete dias, tornou a soltar a pomba a qual regressou trazendo no bico uma folha de oliveira.
O varão de Deus abriu o teto da arca e viu que a superfície da terra estava seca. E Deus lhe ordenou que saísse da arca com sua família, bem como todos os animais que nela se encontravam.moise_catedral-colonia-alemania2.jpg
A lembrança do dilúvio conservou-se em todos os povos da alta Antiguidade. A mais notável está contida no célebre poema assírio de Izdubar1; o historiador caldeu Beroso fala do dilúvio e da arca2.
Assim que chegou à terra firme, Noé construiu um altar e sobre ele ofereceu animais em holocausto, para louvar a Deus. Isso mostra a excelência de sua alma, pois a primeira coisa que fez foi prestar culto ao Altíssimo, e não preocupar-se com sua própria comodidade.

O arco-íris, sinal da aliança

O Criador, após abençoar Noé e seus filhos, fez aparecer um arco-íris no céu, e disse que esse era o sinal da aliança entre Ele e Noé, bem como seus descendentes; e acrescentou que não mais enviaria um dilúvio de água para exterminar o gênero humano.
Os três filhos de Noé que saíram da arca chamavam-se Sem, Cam e Jafé, "pelos quais se povoou toda a Terra" (Gn 9, 19).
Assim como Noé, varão de fé e obediente a Deus, não pactuou com os pecados cometidos em sua época, sejamos inconformes com as ofensas ao Altíssimo que hoje são praticadas em todo orbe e estejamos sempre unidos à Santa Igreja Católica, representada pela arca.
Por Paulo Francisco Martos
1 - Cf. FILLION, Louis Claude. La Sainte Bible commentée. 6. ed. Paris: Letouzey et ané. 1923, v. 1, p. 35.
2 - Cf. Idem, p. 40.
3 - SÃO JOÃO BOSCO. História Sagrada. 10 ed. São Paulo: Salesiana, 1949, p.21.
4 - Cf. FILLION, Louis Claude, op. cit. p. 45.
5 - Cf. Idem, p. 47.
6 - Cf. JOSEFO, Flávio. História dos hebreus. I, 3, 13.

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