Redação (Segunda-feira, 01-09-2014, Gaudium Press) Após
o hediondo crime de Caim, os homens foram de modo processivo caindo em
pecados os quais se tornaram tão graves e generalizados, que Deus
resolveu castigar a humanidade. Mas um valoroso varão se manteve
completamente fiel ao Criador, e por isso foi preservado, juntamente com
sua família, dessa terrível punição.
Descendentes de Set e de Caim
Para compreendermos melhor o significado desse castigo, lancemos o olhar sobre alguns fatos que o precederam.
Ao longo dos anos, duas raças se
constituíram: a dos descendentes de Set, chamada de "filhos de Deus", e a
dos de Caim, denominada "filhos dos homens".
Os caimitas, ou seja, os descendentes de
Caim trilharam as vias do pecado. Por exemplo, Lamec casou-se com duas
mulheres; comenta o Padre Fillion1 que ele foi o primeiro a romper com a
santa unidade do matrimônio, instituída pelo próprio Deus (cf. Gn 2,
24). Esse Lamec chegou também a cometer um assassinato (cf. Gn 4, 23).
Enquanto que os descendentes de Set seguiram o caminho do bem.
Mas essas raças, após terem vivido
separadas por muito tempo, acabaram se unindo, e homens descendentes de
Set se casaram com mulheres pertencentes à raça de Caim, movidos pela
sensualidade2. Ora, esse vício atrai outros, e assim a humanidade foi se
deteriorando moralmente a tal ponto que "o Senhor viu quanto havia
crescido a maldade das pessoas na Terra e como todos os projetos de seus
corações tendiam unicamente para o mal" (Gn 6, 5).
Mas houve um homem, descendente de Set,
que não se conformou com essa decadência moral e se manteve inteiramente
fiel a Deus: Noé.
Construção da arca
Não era apenas a maioria dos homens que
seguia as sendas da iniquidade, mas "toda a humanidade tinha pervertido
sua conduta na Terra" (Gn 6, 12). Então, disse Deus a Noé que iria
mandar um dilúvio para castigo da humanidade, ordenou-lhe que
construísse uma arca e acrescentou: "Tudo o que existe na Terra
perecerá. Contigo, porém, estabelecerei minha aliança: entrarás na arca
com teus filhos, tua mulher e as mulheres de teus filhos" (Gn 6, 17-18);
no total eram oito pessoas, como afirma São Pedro (cf. 1 Pd 3, 20). E
mandou que Noé também colocasse na arca casais de cada espécie animal
(cf. Gn 6, 19-20).
A construção da arca demorou 120 anos1.
Durante todo esse tempo, Noé exortava as pessoas pelas suas palavras e
pelo seu exemplo de vida; mas não lhe davam atenção, segundo afirma São
Mateus: "Nos dias antes do dilúvio, todos comiam e bebiam, homens e
mulheres casavam-se, até o dia em que Noé entrou na arca. E nada
perceberam até que veio o dilúvio e arrastou a todos" (Mt 24, 38-39).
Quando a arca ficou pronta, Deus disse a
Noé: "Tu és o único justo que encontrei nesta geração" (Gn 7, 1);
ordenou que ele entrasse na arca com sua família. Então, "rebentaram
todas as fontes do abismo e se abriram as cataratas do céu" (Gn 7, 11);
"e o Senhor fechou a porta da arca atrás de Noé" (Gn 7, 16).
Torrentes de água durante 40 dias
As águas, provenientes dos abismos e dos
céus, se abateram sobre a Terra durante 40 dias. A arca começou a
flutuar, e tudo ficou inundado; "as águas subiram uns oito metros acima
das montanhas" (Gn 7, 20).
Todos os seres humanos e animais -
exceto os que estavam na arca -- morreram e "as águas dominaram sobre a
terra durante 150 dias" (Gn 7, 24). Afirmar que alguns povos não foram
atingidos pelo dilúvio significa "ir contra a intenção direta e evidente
da narração"1 feita pela Sagrada Escritura.
Então, Deus fez soprar um vento de modo
que as águas começaram a diminuir, e no sétimo mês "a arca pousou sobre
os montes de Ararat" (Gn 8, 4), situados na Armênia.
O corvo e a pomba
Certo dia Noé abriu uma janela da arca e
soltou um corvo, que não mais regressou. Depois liberou uma pomba que,
não achando lugar para pousar, voltou para a arca. Após sete dias,
tornou a soltar a pomba a qual regressou trazendo no bico uma folha de
oliveira.
O varão de Deus abriu o teto da arca e
viu que a superfície da terra estava seca. E Deus lhe ordenou que saísse
da arca com sua família, bem como todos os animais que nela se
encontravam.
A lembrança do dilúvio conservou-se em
todos os povos da alta Antiguidade. A mais notável está contida no
célebre poema assírio de Izdubar1; o historiador caldeu Beroso fala do
dilúvio e da arca2.
Assim que chegou à terra firme, Noé
construiu um altar e sobre ele ofereceu animais em holocausto, para
louvar a Deus. Isso mostra a excelência de sua alma, pois a primeira
coisa que fez foi prestar culto ao Altíssimo, e não preocupar-se com sua
própria comodidade.
O arco-íris, sinal da aliança
O Criador, após abençoar Noé e seus
filhos, fez aparecer um arco-íris no céu, e disse que esse era o sinal
da aliança entre Ele e Noé, bem como seus descendentes; e acrescentou
que não mais enviaria um dilúvio de água para exterminar o gênero
humano.
Os três filhos de Noé que saíram da arca chamavam-se Sem, Cam e Jafé, "pelos quais se povoou toda a Terra" (Gn 9, 19).
Assim como Noé, varão de fé e obediente a
Deus, não pactuou com os pecados cometidos em sua época, sejamos
inconformes com as ofensas ao Altíssimo que hoje são praticadas em todo
orbe e estejamos sempre unidos à Santa Igreja Católica, representada
pela arca.
Por Paulo Francisco Martos
1 - Cf. FILLION, Louis Claude. La Sainte Bible commentée. 6. ed. Paris: Letouzey et ané. 1923, v. 1, p. 35.
2 - Cf. Idem, p. 40.
3 - SÃO JOÃO BOSCO. História Sagrada. 10 ed. São Paulo: Salesiana, 1949, p.21.
4 - Cf. FILLION, Louis Claude, op. cit. p. 45.
5 - Cf. Idem, p. 47.
6 - Cf. JOSEFO, Flávio. História dos hebreus. I, 3, 13.
2 - Cf. Idem, p. 40.
3 - SÃO JOÃO BOSCO. História Sagrada. 10 ed. São Paulo: Salesiana, 1949, p.21.
4 - Cf. FILLION, Louis Claude, op. cit. p. 45.
5 - Cf. Idem, p. 47.
6 - Cf. JOSEFO, Flávio. História dos hebreus. I, 3, 13.

Noé: o varão que não pactuou com o mal
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