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Afastado há mais de um ano, padre Beto diz que a Igreja precisa mudar muito para que ele tenha vontade de voltar.
Por Gabriela Colicigno*
Roberto
Francisco Daniel, de 49 anos, mais conhecido como padre Beto, foi
excomungado pela Igreja Católica há mais de um ano, mas mesmo assim
continua pregando os ensinamentos que o fizeram ser expulso da Igreja.
Vem celebrando cerimônias de casamentos, inclusive entre casais
homossexuais. Desde o seu desquite com a Igreja – após uma advertência
por usar as redes sociais, ele se negou a participar de um tribunal
eclesiástico – ele já realizou três uniões religiosas de casais do mesmo
sexo, sendo duas em Jaú, interior de São Paulo, e outra em Belém, no
Pará.
Nesses últimos meses, ele, que vive em Bauru, no interior de São Paulo,
continua mantendo hábitos do sacerdócio, inclusive afirma que mantém o
celibato. "Foi a vida que escolhi e que tenho certeza de que é a certa
para mim", explica. Além de casamentos, ele comparece a velórios, mas
"sem ser em nome da Igreja Católica". Dá aulas de filosofia no Centro
Universitário de Bauru e na Universidade Paulista (Unip) e ministra
palestras na área de ética. Beto também aproveitou para lançar um livro,
Verdades Proibidas, e agora se prepara para lançar em setembro Jesus e a
sexualidade, em que aborda a sexualidade na Bíblia e qual é o
fundamento da moral sexual da Igreja Católica.
Ao se deparar com o assunto nas confissões que ouvia, nas discussões
diárias e com os pedidos que recebia, ele achou que era necessário
estudar de onde vinha a concepção da Igreja e como ela poderia lidar
melhor com o assunto diante da sociedade atual. "Não existe fundamento
na Bíblia que sustente a postura da Igreja diante do sexo", afirma.
Um tribunal eclesiástico.
Em abril de 2013, recebeu uma carta de advertência da diocese, exigindo
que ele retirasse todo o conteúdo das redes sociais, nas quais o padre
Beto era muito ativo e pregava seus pensamentos e suas visões de mundo.
Eles também disseram que ele teria de pedir perdão por tudo o que havia
postado na internet e falado em suas missas. Mas ele se recusou a pedir
perdão e apagar o conteúdo, e lhe pediram que tirasse uma semana para
repensar no assunto. Quando ele chegou para a segunda reunião, decidido a
se afastar da diocese e parar de exercer suas missas, foi surpreendido
por um tribunal eclesiástico. "Eu me recusei a participar do tribunal,
porque não fora intimado". Isso foi o suficiente para que ele fosse
excomungado no mesmo dia.
Ele mantém, ainda, suas posturas polêmicas. Defende, por exemplo, a
necessidade do uso da camisinha – "Ser contra o uso da camisinha no
Brasil é um crime" –, o que chocou a diocese da região.
Padre Beto é categórico: não quer voltar para a Igreja Católica, muito
menos fundar uma igreja própria. "Acho que o ciclo se encerrou. A Igreja
precisaria mudar muito para que eu conseguisse voltar para ela",
afirma.
Nascido em uma família católica, foi criado dentro da religião, em um
núcleo da Teologia da Libertação, linha mais aberta da Igreja. Na
faculdade, cursou História e Direito, foi professor, mas resolveu entrar
para o sacerdócio em 1991. "Se tivesse nascido em uma família
evangélica, seria pastor. Se fossem budistas, me tornaria um monge",
explica ele.
Nos estudos para se tornar padre, lhe ofereceram duas bolsas de estudo:
uma para Roma, na Itália, e outra em Munique, na Alemanha. Ele aceitou
ir para a Alemanha, onde fez seu mestrado em Teologia: um estudo
teológico sobre o filme Deus e o Diabo na Terra do Sol, do cineasta
Glauber Rocha. O trabalho impressionou a universidade, que lhe ofereceu
uma bolsa de estudos para o doutorado. Porém, antes disso, ele resolveu
voltar ao Brasil em 1998 para se ordenar padre. Depois, foi novamente
para a Europa e fez seu doutorado, analisando a memória histórica dos
filmes de Steven Spielberg, principalmente em O Resgate do Soldado Ryan,
Amistad e A Lista de Schindler.
Quando voltou ao Brasil para ficar, em 2001, ele encontrou uma Igreja
Católica diferente da que havia deixado anos antes. A Igreja havia se
distanciado da política, da economia e se tornara mais dogmática.
"Antes, nós tínhamos uma Igreja que queria humanizar as pessoas, não
convertê-las para o catolicismo", afirma ele. Mesmo com todas as
divergências, suas missas atraíam bastante público, chegando a mais de
mil pessoas em alguns dias. Os assuntos abordados e a maneira mais
aberta ao diálogo como o fazia eram bastante populares entre os
católicos da região.
Marília Gabriela entrevista o padre Beto. Veja o vídeo:
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