Breve comentário sobre a atual proposta de reforma política
São Paulo,
(Zenit.org)
Por
Ivanaldo Santos
Atualmente no Brasil fala-se muitos em temas, como, por exemplo,
reforma política, nova Constituição ou constituinte exclusiva e
plebiscito sobre uma nova Constituição. O tema da reforma política está
sendo debatido pelos intelectuais, pelos artistas, líderes políticos e
pelos pastores da Igreja. Até mesmo os candidatos a cargos públicos
(presidente da república, governador, deputado federal, etc), nas
eleições que acontecerão no próximo mês de outubro, estão debatendo
sobre esse tema. No entanto, pouco se fala sobre o real teor de uma
reforma política e de uma nova Constituição ou algo parecido.
Antes de se fazer um breve comentário sobre a atual proposta de
reforma política é necessário fazer dois sérios esclarecimentos.
Primeiro, de fato o Brasil necessita passar por uma reforma política.
Atualmente no Brasil os partidos políticos não tem ideário político. Na
prática são apenas empresas em busca de ganhos políticos e de benéficos
do Estado. Além disso, a legislação torna a vida dos partidos e dos
políticos muito difícil. Por exemplo, atualmente no Brasil não é
possível haver partidos regionais e municipalistas, a tramitação de uma
lei no Congresso nacional é lenta, o processo de cassação de um político
é lento e, quase sempre, termina com sua absolvição e o cidadão tem
muita dificuldade de expor suas ideias e reclamações aos políticos e aos
congressistas. Segundo, é pura ingenuidade pensar que uma reforma
política vai resolver os problemas do país. O Brasil vive, desde os
tempos coloniais, uma sucessão de reformas políticas. No Brasil, de
forma ingênua, tenta-se resolver as crises políticas e econômicas
mudando a lei. Pensasse que se mudar a lei, de forma milagrosa, mudaria a
realidade. O problema é que isso não acontece, mudar a lei pode dar ao
cidadão mais oportunidade de participação e de contestação popular, mas
não muda a essência da realidade. Além disso, mudar a lei não mudará a
grave crise estrutural que o Brasil vive atualmente, basta ver que,
pelos indicativos sociais que recentemente foram divulgados, o país tem
péssimos índices da educação, o analfabetismo cresceu, o número de
pessoas que depende do Bolsa Família e outros benefícios do Estado não
para de crescer, o Brasil não está participando diretamente da nova
revolução científica, tecnológica e na área da medicina que está
ocorrendo no mundo, o país tem altos índices de violência, chegando ao
nível da barbárie. Todos esses problemas sociais e estruturais não serão
encaminhados apenas com uma reforma e mudança na atual legislação
política do país.
Realizados esses esclarecimentos, passa-se a apontar uma série de três questões que envolvem a proposta de reforma política.
Primeira, de fato necessita-se de uma reforma política no Brasil. Uma
reforma que desburocratize as relações entre o Congresso nacional e o
cidadão. Uma reforma que, dentre outras coisas, possibilite que os
projetos de lei sejam analisados e aprovados de forma mais ágil, que
seja possível punir políticos e partidos políticos de forma mais eficaz,
que seja possível a criação de novos e dinâmicos partidos políticos,
incluindo os partidos regionais.
Segunda, o grande tema que atualmente se fala nos debates em torno da
reforma política é o financiamento público, estatal das campanhas
eleitorais. É preciso ter em mente que o Estado, como um organismo
social, pode participar do pleito eleitoral. No entanto, reivindicar
apenas o financiamento público de campanhas eleitorais é uma espécie de
golpe financeiro sofisticado. É colocar nas mãos do Estado e, por
conseguinte, do contribuinte, o financiamento de partidos e de
políticos. Essa proposta é a velha fórmula brasileira de colocar os
custos financeiros nas mãos do Estado. Na prática, isso só faz aumentar a
corrupção, retirar o poder do cidadão e dos partidos políticos e dar
mais poder ao Estado. Numa época em que se fala em ampliação da
democracia, pensar em financiamento estatal da política é fazer o
caminho inverso, ou seja, o caminho do autoritarismo.
Terceira, é preciso pensar em quem são os grupos sociais e os líderes
políticos que estão a frente da luta pela reforma política no Brasil. O
problema é que quem anda a frente dessa luta, dando palestras nas
universidades, entrevistas na grande mídia e coisas semelhantes; são
minoritárias sociais e líderes políticos que historicamente se colocam
contra os cristãos, que veem os cristãos como uma estrutura social
atrasada, medieval, e até mesmo repulsiva. Atualmente quem propõe a
reforma política são estruturas políticas que historicamente defendem,
por exemplo, a legalização do aborto, da eutanásia e das drogas. São
estruturas políticas que abertamente defendem que os cristãos não devem e
não podem dar opiniões dentro da vida política do país, que os cristãos
devem se contentar em ficar em casa, com suas orações noturnas, e irem
aos templos religiosos aos finais de semana. Esses líderes políticos
defendem, entre outras coisas, uma espécie de ditadura secular,
onde os símbolos religiosos serão retirados e banidos da vida pública,
onde o ensino religioso será proibido e onde a prática da experiência
religiosa será apenas uma vaga lembrança da história.
Numa verdadeira democracia tem que haver espaço para grupos que
defendem posições políticas extremistas, como é o caso da legalização do
aborto, mas não se pode negar o acesso da maioria da população ao
debate política, inclusive se essa maioria for cristã ou de outra
religião.
Da forma como a atual proposta de reforma política está sendo colocada, parece até que se trata de uma espécie de golpe de Estado com apoio popular,
pois o que se deseja, dentro dos discursos oficiais, é fazer, por meio
da simples mudança na legislação, tudo aquilo que uma minoria deseja
impor ao resto da população e, essa mesma população, de forma
democrática, rejeita.
Por fim, afirma-se que realmente o Brasil precisa passar por uma
reforma política, uma reforma que desburocratize as relações entre o
cidadão e o Congresso nacional, que coloque o cidadão mais próximo do
Congresso e da formulação das leis. No entanto, da forma como vem sendo
conduzido o debate em torno da reforma política, essa reforma pode se
transformar em uma grande armadilha para os cristãos, uma armadilha que
pode trazer, para dentro da sociedade brasileira, que é majoritariamente
cristã, o autoritarismo e algum nível de perseguição antirreligiosa.

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