

Sidney Silveira
O
demônio luta para apartar de Deus o maior número possível de almas.
Com as suas tentações, obsessões ou possessões, o Maligno age em todos
os âmbitos da vida humana com o sistemático propósito de deformar as
almas conformando-as a si — e, por conseguinte, apartando-as da
religião fundada por Cristo em pessoa, hoje tão combalida pelo
modernismo que corrompe a sua doutrina em nível até então inimaginável.
Esta é, a propósito, a grande luta que serve como sombrio pano de
fundo de absolutamente toda a história humana, desde o paraíso
edênico até o Juízo Final. Sendo assim, por trás de todas as filosofias
errôneas, por trás de toda deformação do bem comum político,
por trás de todo esfriamento da fé que as almas tíbias experimentam,
por trás de todas as distrações pecaminosas que o mundo oferece, por
trás de toda maldade, direta ou indiretamente, está o inimigo da nossa salvação.
Como
não poderia deixar de ser, a deformidade de uma alma que se deixa
seduzir pelo mal sempre acarreta reflexos para o corpo: seja o indolente
abatido pela acídia; seja o descontrolado que não teve a fortaleza para reprimir os impulsos da ira má; seja o lúbrico cuja luxúria se deixa entrever no olhar e, também, na tensão de certos movimentos corporais; seja o murmurador que destila a sua inveja contra aqueles cuja excelência, espititual ou material, odeia; seja o comilão que chafurda porcinamente na gula; seja o ganancioso deprimido pela própria avareza, que o torna tão infeliz; seja o pretensioso que por sua vaidade
faz malabarismos para colocar-se acima das demais pessoas; em suma, em
todos esses casos, o corpo (ao qual a alma está indissociavelmente
ligada como princípio superior) dá sempre algum sinal das patologias
anímicas.
Mas
diga-se que deformar o espírito é o propósito maior do demônio, sendo
as deformidades corporais um acidente, em sentido metafísico. A sua
meta é tornar o espírito humano canhestro, mesquinho, desmedidamente
autoconfiante, soberbo, ganancioso, invejoso, distraído dos valores
espirituais, avaro, vanglorioso, fantasmagoricamente sensual, refém de
uma eriçada escrupulosidade, pusilânime no cumprimento dos deveres
morais mais elementares, etc. Por essas e outras, ensina Santo Tomás na Suma Teológica que não pode haver amizade entre homens e demônios, pelo seguinte: em sentido próprio, a amizade é a comunicação objetiva de bens espirituais,
e uma criatura cuja inteligência seja obcecada pela soberba e a
vontade esteja obstinada no mal não pode comunicar esse tipo de bens de
ordem superior.
Ora, toda vez que comunicamos a alguém um conteúdo inteligível qualquer, antes desconhecido por aquela pessoa — uma notitia veritatis —, diz-se por analogia que a estamos ‘iluminando’. Iluminar, pois, é manifestar a verdade
e, manifestando-a, mostrar a fundamental relação dela com o fundamento
de todas as verdades: Deus. Mas não podem os demônios fazer isto
justamente por causa de sua perversidade supina, que adere ao mal sem
paixões e com plena ciência, razão pela qual o Doutor Angélico afirma
que o objetivo do demônio é diametralmente oposto a essa iluminação que culmina em Deus: é subtrair as pessoas da ordem divina,
manipulando o pior tipo de mentiras — aquelas que usam de verdades
isoladas para levar os homens ao erro com relação aos bens espirituais.
Daí ser ele propriamente o ‘pai da mentira’, o pater mendacii.
Pois bem: começou-se dizendo que o mal da alma afeta o corpo.
Ora, num mundo em que a Igreja depõe, a olhos vistos, o Magistério que
custodia as verdades ensinadas por Cristo, nada mais conseqüente e
lógico do que a multiplicação das deformidades espirituais e, também, das corporais. Hoje assistimos a
uma satanização em massa, algo sem precedentes na história humana —
por intermédio daquilo a que os idiotas chamam ‘cultura’ —, sob a
omissão sumamente culpável das autoridades eclesiásticas, que, não raro
a pretexto de defender a ‘liberdade’
de expressão, deixam de condenar publicamente os erros e as
barbaridades mais gritantes que afastam o homem de Deus. Assim, vemos
grandes hordas de pessoas moral e fisicamente deformadas caminhar
loucamente para o Inferno, muitas vezes sem o saber, amputando em si não
apenas a semelhança divina, mas também deformando o corpo de forma
impressionante.
Na
música, no cinema, no teatro, na literatura, na política, e, enfim, na
filosofia, vemos claros sinais de práticas e idéias que literalmente
fecham o homem ao influxo da graça. Ora, em qual época poderíamos
conceber a existência de uma Church of Satan, como a que foi
fundada nos EUA? Nem mesmo entre os pagãos! Em qual época poderíamos
conceber ‘artistas’ que são claramente adoradores do Maligno, como por
exemplo o roqueiro Marilyn Manson, que rasga bíblias em seus shows e
pede aos centenas de milhares de jovens que o assistem que renunciem
publicamente a Cristo e aceitem a Lúcifer como seu ‘mestre’ (cfme. foto acima)? Em qual época poderíamos conceber uma Igreja da Modificação do Corpo (Church of Body Modification), na qual os adeptos materializam no próprio corpo — consciente ou inconscientemente — os sinais mais gritantes de ódio a Deus?
Por isso digo, amigos: nunca a omissão da Igreja foi tão culpável,
pois hoje, com a Internet, com um sistema de informações quase
instantâneo em nível global, seria muito fácil não apenas evangelizar ex cathedra,
como condenar solenemente essa cultura dos infernos. Ao escrever isto
acabo de me lembrar de um padre neoconservador aqui do Rio de Janeiro —
um desses afogados no superficialismo formalista — que me disse, para
assombro meu, que a Igreja não pode anatematizar nada no plano da
cultura, para não fazer publicidade das coisas más... Ao que respondi
dizendo que a causa final do anátema não é haver ou não
publicidade no mundo de determinada obra ou mentira, mas trabalhar para
salvar as almas da perdição por meio de uma clara e magisterial defesa
da verdade cristã e conseqüente condenação dos erros. A continuar nesse
compasso, periga acabar bispo esse padre!
O fato é que a Igreja prefere hoje dizer que não canoniza nenhuma filosofia em detrimento das demais (como na mencionada Fides et ratio);
prefere pregar o ecumenismo, em detrimento do discurso apostólico de
conversão a Cristo e ataque aos falsos cultos e às falsas religiões.
Alguém porventura imagina São Paulo, o Apóstolo dos Gentios, dizendo aos
romanos que gostaria de manter com eles um frutuoso diálogo
inter-religioso e crescer em comunhão na verdade e no aprendizado com os
seus deuses pagãos? Porventura Cristo pode aprender algo com Nicodemos
ou, o que é pior, com os mitólogos gregos ou romanos? Ora, pensemos
nos mártires que cristianizaram o mundo dando o seu sangue, e teremos
noção do tamanho da absurdidade do ecumenismo, em qualquer das suas
sofísticas formulações...
Encerro este breve texto observando que, de todas as maldades coordenadas pelo Maligno e por seus malditos servidores humanos, as mais sutis são as que se infiltram na filosofia e, também, na teologia,
pois impedem a formação de uma elite espiritual sem a qual nenhuma
sociedade pode tonar-se sã. Invertem a ordem das verdades e inoculam
entre elas um conjunto de erros tão metodicamente perpetrados, que a sua
ação impressiona a quem se colocou em situação capaz de testemunhá-la.
Noutro texto, falaremos de algumas dessas idéias difundidas no mercado
ínfero-brasileiro das pseudofilosofias liberais.
* Onde estava escrito o nome de outro satanista, Charles Manson, leia-se Marilyn
Manson. Na hora de escrever troquei os nomes, por distração... De toda
forma, seja um ou outro, o que importa é que são odiosas tais
criaturas, assim como todas as que lhes prestam um diabólico culto
idolátrico — e ter contato voluntário com elas, procurando saber amiúde
ou com riqueza de detalhes o que fazem e como fazem, implica
por si só um enormíssimo pecado que clama aos céus. Basta saber que são
publicamente contra Cristo e a favor do demônio para que as odiemos
com todas as nossas forças e nos apartemos delas.
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