Fala-se
publicamente desta matéria e se fazem. notar as vantagens que do ponto
de vista social e político podem-se obter.
Falemos nós também,
considerando-o, porém, sob o ponto de vista religioso e moral.
Comecemos com uma pergunta: é lícito o ato conjugal?
Desde
que o matrimônio é um Sacramento de vivos, é necessário recebê-lo em
estado de graça, todas as ações dos cônjuges que se referem à consecução
de seu fim primário, ou seja a procriação da prole, são lícitas, e
muito lícitas. Deus disse: – “Crescei e multiplicai-os e enchei a
terra”.
Mas,
notai bem, todas estas ações são lícitas no estado matrimonial e
unicamente ordenadas ao fim para o qual foi estabelecido por Deus o
matrimônio. O fogo sob a palha, pode queimar a casa, mas sob caldeira
fá-la ferver e desta maneira serve para cozer o alimento para a
família. Do mesmo modo os atos matrimoniais feitos fora do matrimônio,
ou também no matrimônio, mas contra seu fim primário, são a ruína da
humanidade. Assim, pois, qualquer ato contra esta lei do matrimônio
instituída por Deus, é um gravíssimo delito, pois que o mesmo é matar
uma criatura de dez anos como uma de dez horas e por isso um dia a
maldição de Deus cairá sobre os cônjuges que transformam maliciosamente
as fontes de vida numa cisterna envenenada que deixa perder-se a água.
Ai
deles! Cometem um gravíssimo pecado que transtorna as leis da natureza e
impede que Deus Pai continue a obra da criação, que Deus Filho, realize
a obra da Redenção e que Deus Espírito Santo opere a santificação das
almas. Mas isto não quer dizer que os esposos não possam viver juntos
como irmãos, preferindo à fecundidade a fragrância divina da
virgindade: com efeito, segundo o exemplo de Maria e José, muitíssimos
cônjuges mantiveram-se virgens à sombra do matrimônio, como se pode
comprovar com a História Eclesiástica. Nos formosos tempos da fé, muitos
esposos viviam como irmãos e irmãs durante a Quaresma, nos dias de
jejum, e nas festas mais solenes, de modo que pouco a pouco esse costume
transformou-se em lei.
De qualquer modo, a procriação da prole é sempre o fim do matrimônio.
A
vida hoje em dia, – diz-se – é difícil, e como se há de obter a
sustentação da família? – Respondo: Quando se ouviu dizer que alguém
ficou na miséria por ter tido uma família muito numerosa? Lançai um olhar ao passado, e vereis se é verdade, o que diziam os nossos avós: Inocência – Providência!
Onde
quer que nasça uma criança haverá sempre o necessário alimento para
ela. Nalgumas famílias não há felicidade porque faltam muitos dos que
deveriam existir e não existem. E antes de tudo, é a mesma lei natural
que no-la ensina. Com efeito, assim como em nosso corpo a multiplicidade
dos membros não diminui a força do poder da alma, a qual tem sobre os
membros um domínio tanto mais perfeito quanto mais completa é a
integridade dos membros, o mesmo sucede com a família. Quanto maior é o
número dos filhos, tanto mais, parece que se acende neles um espírito de
energia mais vivo e mais forte.
Um
instinto natural os faz sentir, que, podendo esperar pouco da casa, é
preciso que providenciem por si mesmos. Pois bem, sentimento semelhante,
pode fazer milagres. Ao contrário, quando o filho é único, torna-se
então um acumulador de soberba e de todos os demais vícios. Não é raro o
caso de um filho único, que em pouco tempo dissipou a herança de um pai
avarento, depois de lhe ter acarretado a morte com tantos desgostos.
É
certíssimo: o que faz prosperar a família não é a abundância de
riquezas e o número limitado de filhos, mas a bênção de Deus. Mas a
bênção de Deus não pode descer sobre a casa em que se espezinham as
leis da natureza. Os pais que têm um pouco de fé sabem que os filhos
mais que a eles pertencem a Deus. Não foi Deus quem estabeleceu as leis
da geração? Não é Ele que a todo momento intervém diretamente por meio
da criação da alma de cada um dos filhos? Pois, bem, aquele Deus que
não deixa faltar alimento nem mesmo aos pássaros do céu, poderá por
acaso abandonar a criatura mais nobre, saída de suas mãos na criação do
mundo visível?
Outra
dificuldade: E quando o médico disse: “Basta de filhos, de outra sorte
a saúde da mãe corre perigos”. A esse respeito disse-me uma mãe: “Isso
me disse o médico depois do terceiro filho, já tenho cinco e estou
melhor ainda do que antes”.
Neste
caso, é preciso ter-se muito em conta a MORALIDADE DO MÉDICO. Além
disso, devemos observar que para isso há remédios: suspensão do
exercício dos direitos matrimoniais, por um tempo determinado,
de mútuo acordo; observação de determinados dias de menor
probabilidade; coisas que estão dentro do limite do honesto.
E
se um dos cônjuges obstina-se em se fazer de surdo, fica sempre de pé,
antes de tudo, a Divina Providência, que nunca abandona quem nela
confia.
Nenhuma
destas ou de outras razões, mesmo as mais graves, se existem, serão
suficientes para autorizar a violação das leis da natureza, com o fim de
se evitar um prejuízo material. Concluamos dizendo que unicamente a
religião pode proporcionar a força necessária para se observarem os
deveres do matrimônio.
Maternidade Cristã – Pe. Humberto Gaspardo
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