Dom Bruno Forte, Secretário Geral do Sínodo da Família (Foto Alan Holdren / Grupo ACI |
17 Out. 14
VATICANO, (ACI/EWTN Noticias).-
Uma
má tradução do italiano ao inglês do documento que resume o trabalhado
na primeira parte do Sínodo da Família no Vaticano foi a causa do caos
informativo que fez que diversos meios seculares afirmassem, entre
outras coisas, que a Igreja tinha modificado a sua doutrina sobre o “matrimônio” gay.
A versão original do documento, chamado Relatio post discepationem (Relação depois do debate) estava escrita em italiano, idioma que o Papa Francisco escolheu como oficial para o Sínodo. Nos sínodos anteriores o idioma oficial tinha sido o latim, estimado por sua precisão e por sua falta de ambiguidade.
A versão original do documento, chamado Relatio post discepationem (Relação depois do debate) estava escrita em italiano, idioma que o Papa Francisco escolheu como oficial para o Sínodo. Nos sínodos anteriores o idioma oficial tinha sido o latim, estimado por sua precisão e por sua falta de ambiguidade.
O ponto que gerou a controvérsia está no parágrafo 50 que aparece logo
depois de valorizar os dons e os talentos que os homossexuais podem dar à
comunidade cristã. Em italiano aparece a seguinte pergunta: “le nostre comunità sono in grado di esserlo accettando e valutando il loro orientamento sessuale, senza compromettere la dottrina cattolica su famiglia e matrimonio?”
Na tradução ao inglês proporcionada pelo Vaticano, lê-se o seguinte: “Are our communities capable of providing that, accepting and valuing their sexual orientation, without compromising Catholic doctrine on the family and matrimony?” (Nossas comunidades estão em grau de sê-lo (acolhedoras), aceitando e valorizando a sua orientação sexual, sem comprometer a doutrina católica sobre a família e o matrimônio?”)
A palavra chave no italiano é “valutando” que foi traduzida ao inglês como “valuing” (valorizando). Esta palavra deveria ter sido traduzida como “avaliando” ou “considerando” ou “sobrepesando”, como sim estava em espanhol.
Com a tradução que se fez ao inglês, em contraste, sugere-se uma
valorização da orientação sexual, o que gerou uma confusão entre aqueles
que são fiéis aos ensinamentos da Igreja.
Embora tivesse a indicação de que a tradução não era oficial, foi a
tradução que a Sala de Imprensa da Santa Sé difundiu para ajudar os
jornalistas que não conhecem bem o italiano.
O documento foi divulgado inicialmente em italiano, pouco antes da
leitura feita pelo Cardeal Peter Erdo, Relator Geral do Sínodo, diante
da assembleia. Depois de cerca de meia hora, o texto estava disponível
em espanhol, francês, inglês e alemão, e foi enviado através de um
boletim da Sala de Imprensa da Santa Sé.
Esta diferença de tempo sugere que a tradução se fez nas instâncias finais.
Segundo uma Fonte do Vaticano, o Cardeal Erdo deveria entregar o
documento à Secretaria Geral do Sínodo no sábado, e este foi polido até o
último momento e devolvido ao Cardeal já tarde no domingo.
Que o texto não é plenamente do Cardeal Erdo poderia dever-se ao feito
de que “o texto da discussão posterior à relação é muito mais curto que o
da pré-discussão”, como disse o Arcebispo de Glasgow, Dom Philip
Tartaglia, ao Grupo ACI em 15 de outubro.
A passagem sobre o atendimento pastoral aos homossexuais foi criticada
logo no debate que seguiu a leitura da Relatio na segunda-feira.
O documento gerou em algumas pessoas a impressão de que a Igreja tinha mudado a sua perspectiva em relação à homossexualidade.
O Cardeal Gerhard Mueller, Prefeito da Congregação para a Doutrina da
Fé, ressaltou em 13 de outubro que “o atendimento pastoral dos
homossexuais foi sempre parte do ensinamento da Igreja e a Igreja nunca
tirou os homossexuais dos seus programas pastorais”.
Um importante documento deste dicastério de 1986 sobre o atendimento
pastoral das pessoas homossexuais, com a assinatura do então Cardeal
Ratzinger e aprovado por São João Paulo II, assinala que “é de se
deplorar firmemente que as pessoas homossexuais tenham sido e sejam
ainda hoje objeto de expressões malévolas e de ações violentas.
Semelhantes comportamentos merecem a condenação dos pastores da Igreja,
onde quer que aconteçam”.
O texto indica também que “um programa pastoral autêntico ajudará as pessoas homossexuais em todos os níveis da sua vida espiritual, mediante os sacramentos
e, particularmente, a frequente e sincera confissão sacramental, como
também através da oração, do testemunho, do aconselhamento e da atenção
individual. Desta forma, a comunidade cristã na sua totalidade pode
chegar a reconhecer sua vocação de assistir estes seus irmãos e irmãs,
evitando-lhes tanto a desilusão como o isolamento”.
“Desta abordagem diversificada podem advir muitas vantagens, entre as
quais não menos importante é a constatação de que uma pessoa
homossexual, como, de resto, qualquer ser humano, tem uma profunda
exigência de ser ajudada contemporaneamente em vários níveis”.
O documento afirma também que “a pessoa humana, criada à imagem e
semelhança de Deus, não pode definir-se cabalmente por uma simples e
redutiva referência à sua orientação sexual. Toda e qualquer pessoa que
vive sobre a face da terra conhece problemas e dificuldades pessoais,
mas possui também oportunidades de crescimento, recursos, talentos e
dons próprios”.
“A Igreja oferece ao atendimento da pessoa humana aquele contexto de que
hoje se sente a exigência extrema, e o faz exatamente quando se recusa a
considerar a pessoa meramente como um ‘heterossexual’ ou um
‘homossexual’, sublinhando que todos têm uma mesma identidade
fundamental: ser criatura e, pela graça, filho de Deus, herdeiro da vida
eterna”, adiciona.

Nenhum comentário:
Postar um comentário
Só será aceito comentário que esteja de acordo com o artigo publicado.