NOVA
DÉLHI (Thomson Reuters Foundation) - A prática do aborto de fetos do
sexo feminino devido a uma preferência por meninos é uma "epidemia" que
está se espalhando para além de países como Índia e China, atingindo
agora nações do Leste Europeu, advertiu um alto funcionário da
Organização das Nações Unidas nesta segunda-feira.
O chefe da
divisão de gênero do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA, na
sigla em inglês), Luis Mora, disse que pesquisas nos últimos anos
identificaram que o desejo por bebês do sexo masculino e o acesso à
tecnologia foram os principais responsáveis pelos mais elevados índices
de seleção do gênero em nível global na região do Cáucaso, ao longo da
fronteira da Europa-Ásia entre os mares Negro e Cáspio.
"Por
muitos anos, temos observado a preferência por meninos e a seleção do
gênero de um ponto de vista que está muito concentrado nos casos da
Índia e da China", disse Mora durante um simpósio de quatro dias sobre o
envolvimento de homens e meninos na igualdade de gênero.
"Mas
temos aprendido nos últimos anos que a Índia e a China não são mais as
exceções. Vimos como a discriminação, a preferência por meninos e todas
as questões relacionadas têm progressivamente se espalhado para países
que nunca antes tínhamos pensado que poderiam praticar a escolha do
gênero, como os países do Leste Europeu."
ABORTO DE FETOS FEMININOS
Mora
disse que o fato de o feticídio feminino estar acontecendo nos países
que, anteriormente, não tinham histórico de tais práticas, como Albânia,
Kosovo e Macedônia, indicava que a discriminação de gênero era uma
"epidemia", comparando-a ao vírus mortal Ebola.
De acordo com um
estudo de agosto de 2013 da Escola de Higiene e Medicina Tropical de
Londres, biologicamente 105 meninos nascem para cada 100 meninas. No
entanto, na Armênia e no Azerbaijão mais de 115 meninos nascem para cada
100 meninas, e na Geórgia a proporção é de 120 homens para cada 100
mulheres.
Como resultado, o UNFPA estima que em países como a
Armênia haverá a falta de cerca de 93 mil mulheres em 2060 se a alta
taxa de seleção de gênero no pré-natal permanecer inalterada.
Especialistas
em gênero dizem que a estrutura patriarcal é uma das principais razões
para a proporção sexual enviesada. Uma "cultura do aborto" herdada do
período soviético e o fácil acesso a tecnologias que permitem aos pais
saber o sexo do seu filho antes do nascimento são outros fatores
importantes.
"Eu acho que isso é um aviso", disse Mora. "Por trás dessa situação há uma forte e grave advertência sobre como as desigualdades de gênero, a violência, a preferência por meninos e outras práticas nocivas podem realmente tornar-se universal."
"Eu acho que isso é um aviso", disse Mora. "Por trás dessa situação há uma forte e grave advertência sobre como as desigualdades de gênero, a violência, a preferência por meninos e outras práticas nocivas podem realmente tornar-se universal."
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