Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor: comportai-vos como verdadeiras luzes. Ora, o fruto da luz é bondade, justiça e verdade. Procurai o que é agradável ao Senhor, e não tenhais cumplicidade nas obras infrutíferas das trevas; pelo contrário, condenai-as abertamente. (Ef 5, 8-11)
terça-feira, 18 de novembro de 2014
Em livro, padre brasileiro excomungado diz que Jesus pode ter sido homossexual
Padre Beto defende ainda que Cristo viveu mais em festas do que em Igrejas.
Padre Beto lançou o livro “Jesus e a sexualidade — Revelações da Bíblia que você nunca viu” na livraria Indigo Books, na Barra
- Divulgação/Raphael Queiroz
RIO — “Jesus pode ter sido heterossexual, bissexual ou
homossexual”. A afirmação é do paulista Roberto Francisco Daniel, de 49
anos, que ainda se apresenta como Padre Beto, embora tenha sido
excomungado pela Igreja, em 2013. No último domingo, o Vaticano confirmou a decisão,
e ele foi obrigado a deixar a Diocese de Bauru (SP), depois de 14 anos,
por se recusar a negar esta e outras reflexões publicadas na internet.
Formado em Teologia, Direito e História, ele acaba de lançar, na
livraria Indigo Books, na Barra, seu sexto livro, que promete mais
polêmica: chama-se “Jesus e a sexualidade — Revelações da Bíblia que
você nunca viu”. — Quero passar a mensagem de que Jesus não se opõe à diversidade sexual — diz o paulista. Beto garante que suas afirmações estão embasadas em
informações presentes nos quatro Evangelhos e nos textos apócrifos. E
cita, por exemplo, o fato de Jesus ter curado um servo intimus de um
centurião romano sem tachar de pecaminoso o ato homossexual,
diferentemente do que ocorreu ao socorrer uma adúltera: — Jesus estava mais interessado na qualidade dos
relacionamentos do que em saber se esse relacionamento era hétero, homo
ou bissexual — afirma. O escritor sustenta que, nos Evangelhos, Cristo é mais visto em situações festivas do que em templos: — O milagre da transformação da água em vinho quer dizer que a festa continua. Para ele, o problema está na interpretação fora de época e contexto que fazem do livro. — O verbo se fez carne. Ao se fazer carne, ele se fez um de
nós, um ser sexuado, que tinha uma libido. Jesus Cristo era um ser que,
provavelmente, tinha prática sexual — diz. No novo livro, o religioso fala também sobre a família. E diz que a de Jesus não seguia o padrão pregado pelo Cristianismo: — Maria, em princípio, é uma mãe solteira. José se casa com
ela para salvá-la e adota um filho que não é dele. O que faz esta ser
uma família sagrada é que um se interessa pela vida do outro. Embora não pense em voltar ao sacerdócio, Padre Beto — que
mesmo excomungado ainda realiza cerimônias, “em nome de Deus" — move um
processo na Justiça comum contra a Diocese de Bauru, alegando que não
teve chance de defesa. Diz que publicou suas convicções em nome da
liberdade de pensamento e não se arrepende: — A única coisa errada que fiz foi pensar, mas isso é um dom
de Deus que falta neste país. O pensamento e a reflexão são saudáveis. É
a Igreja que está pecando neste sentido. Após a excomunhão, Beto lançou o livro “Verdades proibidas”, também com opiniões no mínimo originais. Veja mais na entrevista que Padre Beto concedeu ao GLOBO-Barra.
OGLOBO: O que o senhor aborda no livro?
Beto: O livro quer mostrar que a atual
moral sexual das Igrejas Cristãs, inclusive da Igreja Católica, faz
muito mais mal ao ser humano do que bem. Porque trata a sexualidade de
forma extremamente negativa. Ela parte do princípio de que a sexualidade
é um mal em nós. A partir daí ela vai tentar aplicar regras de conduta
no ser humano que são extremamente castradoras à vida sexual humana. Eu
abordo no livro não só esse aspecto negativo, mas o aspecto positivo de
como a sexualidade pode ser vista de uma forma cristã e extremamente
positiva.
Quando teria começado esta frustração?
Essa castração começa com o surgimento de outras filosofias
que Jesus não conheceu e que entraram no Cristianismo, como a filosofia
estoica, que é uma filosofia romana que entra no cristianismo trazida
por Paulo. Depois o platonismo, através de Santo Agostinho. Outro fator
importante é que hoje se tem uma leitura da Bíblia extremamente
acrítica, não respeitando a mentalidade da época, o surgimento do Cristo
e o contexto em que ele surgiu. Então se transfere conceitos da
Antiguidade para o século XXI, que são conceitos extremamente atrasados
sobre a sexualidade.
O que tem de tão diferente da Antiguidade para a época atual?
Como o homem não conhece o que é sexualidade, ele
basicamente vai entender a sexualidade, ou esse fenômeno, como a
heterossexualidade. Então, seu universo é heterossexual, apesar de a
bissexualidade ser generalizada na Antiguidade. Aí nós temos frases na
Bíblia que condenam o homem deitar com outro homem. São frases que dizem
respeito não á sexualidade humana, mas ao culto que era realizado ao
deus Baal, e a outros deuses, que envolviam orgias sexuais, entre elas a
prática da homossexualidade. O texto (da Bíblia) se refere a essas
orgias, mas hoje se entende essas frases simplesmente se referindo à
homossexualidade, o que não é uma referência à homossexualidade.
Então o problema não é a Bíblia. É a interpretação da Bíblia?
Exatamente. O problema é o conhecimento do texto bíblico. É
conhecer que o autor das cartas de Paulo é um autor que tem uma cultura
estoica, que vai trazer essa cultura para o cristianismo, ele vai
abraçar isso, e Jesus Cristo está muito longe dessa filosofia. Jesus vai
ter uma prática de vida enxergando a mulher como ser igual a Ele. Não
vai tratar a mulher de forma diferenciada.
É aí que está a maior polêmica do seu livro, a sexualidade de Jesus?
É em relação à visão da sexualidade de Jesus. Jesus parte do
princípio de que o amor a Deus e o amor ao próximo deve ser o que
norteia a nossa ação. Agora, o que vai contra o amor a Deus e o amor ao
próximo? É o desamor e não a sexualidade. A sexualidade não é um ato de
desamor em si, pelo contrário. A partir daí o Cristo vai viver uma vida
de muito prazer.
Que tipo de prazer?
Por exemplo, seu primeiro milagre é transformar água em
vinho num casamento. Isso quer dizer que a festa continua, que o beber
continua, o prazer da bebida, da conversa, da alegria. É um vinho que
embriaga. O texto é muito claro em dizer isso. O Cristo vai estar muito
mais presente, nos Evangelhos, em jantares e reuniões festivas do que na
própria Sinagoga, que era a Igreja da época. Ele é um ser muito mais
voltado ao contato humano.
Isso permite dizer que Cristo tinha relações sexuais, que teve esposa e filhos?
Nós acreditamos que o verbo, e isso é uma frase literal da
Bíblia, se fez carne. Ao se fazer carne, Ele se faz um de nós, um ser
sexuado, que tinha, com certeza, uma libido e hoje nós podemos muito bem
entender isso. Portanto, Jesus Cristo era um ser que provavelmente
tinha práticas sexuais. O que não sabemos exatamente é quais são essas
práticas. Temos pistas no Evangelho de Felipe, que é um Evangelho
apócrifo, em que Maria Madalena é vista como companheira de Jesus. Aí é
que Dan Brown (autor do livro "O código Da Vinci") vai se apegar. Do
outro lado, temos o Evangelho de João, que cita sempre um discípulo
muito amado. “O” discípulo muito amado. Porque um discípulo muito amado?
Porque diferenciar um discípulo dos outros? E dessa forma? Então, seria
uma conotação da homossexualidade de Jesus. Mas eu observo no livro que
vendo Jesus de uma forma geral, como ele se comporta, ele está muito
mais para um bissexual do que para um homossexual ou hétero.
No que o senhor se baseia para fazer essas afirmações?
Análise dos textos bíblicos, que é o que nós temos
(inclusive os apócrifos de Felipe, Maria Madalena e Tomé) e da cultura
da época.
Jesus vivia em que cultura?
Jesus viveu na Palestina, ele não saiu de lá. Então, vive
num mundo semita, num mundo Judeu, mas num mundo muito aberto. Ele
esteve em Farnaum, que é uma cidade comercial, onde várias culturas
estavam presentes. Jesus teve contato com gregos, que consideravam a
bissexualidade uma coisa muito normal. E Jesus não é uma pessoa
preconceituosa em relação a outros povos. Por exemplo, cito no livro um
trecho em que Ele vai curar um servo de um centurião romano, mas o
interessante é que esse servo, no texto original, não está como servo,
está como “Intimus”.Intimus é um servo sexual e é por isso que o
centurião tem tanto interesse na cura desse servo, pois tem uma relação
afetiva. Jesus vai curá-lo sem nenhum questionamento moral, com a maior
naturalidade possível. Depois de curá-lo, ele não vai fazer como faz com
uma adúltera. Apresentam a adúltera a Jesus e perguntam se ela deve ser
apedrejada ou não. E Jesus fala assim: quem não tiver pecado que atire a
primeira pedra. Ninguém atira. E Jesus fala que não a condena, mas a
orienta a não voltar a pecar. Quer dizer, para Jesus a traição é um
pecado, é um ato de desamor. Mas para o servo do centurião Ele não pede
para não voltar a pecar. Cristo simplesmente cura o servo para continuar
sendo o Intimus do centurião romano. Jesus está muito mais interessado
na qualidade dos relacionamentos do que se esse relacionamento é hétero,
homo ou bissexual.
E como ficam as famílias nesta situação?
As Religiões Cristãs levantam demasiadamente, de uma forma
exagerada, a defesa da família, mas a família pai, mãe e filha. A
família clássica que nós temos na Idade Moderna, que não é o modelo que
nós tivemos na história: adultos que se casam por amor e que geram
filhos. Se você olhar nos Evangelhos, a família de Jesus não é uma
família modelo. Maria, a princípio é uma mãe solteira. Ela fica grávida
sem a ajuda de José. José acaba se casando com Maria para que ela não
seja apedrejada e adota um filho que não é dele. Temos aqui um núcleo
familiar que não é o ideal, segundo as Religiões Cristãs. O que faz essa
família ser sagrada é que há um interesse mútuo na vida um do outro.
O senhor viveu 14 anos de sacerdócio, e sempre com
essa postura de questionamento e de livre pensamento em seus discursos.
Quando isso se tornou um problema?
A Igreja foi mudando muito com o passar do tempo. Hoje nós
temos uma Igreja Católica extremamente dogmática. E o bispo atual não
aceitou essa postura reflexiva da minha parte. Aí é que desencadeou a
minha excomunhão.
Quais direitos o senhor perde com a excomunhão?
Praticamente todos. O excomungado é a pessoa que recebe,
praticamente, a pena capital. Se eu vivesse na Idade Média, eu seria
queimado vivo. Se vivesse no século passado, eu não teria vida social e
não seria enterrado num cemitério. Hoje se deu uma amenizada. Eu tenho
direito à confissão e à unção dos enfermos, no caso de estar à beira da
morte.
A comunhão ou participação em missas estão vetadas?
Não tenho direito a nada. Se eu entrasse numa missa hoje, eu seria convidado a sair.
O senhor sente falta?
Sinceramente, não. Sinto uma presença muito forte de Deus.
Saí da Igreja de cabeça erguida. Não fiz nada de errado. A única coisa
errada que fiz foi pensar, mas isso é um dom de Deus que falta muito
nesse país. Acho que o pensamento e reflexão são saudáveis em qualquer
ambiente. Infelizmente é a Igreja que está pecando nesse sentido.
O senhor ainda realiza cerimônias?
Não mais em nome da Igreja Católica, mas em nome de Deus.
Sou chamado a realizar casamentos ou ir a um velório e dar uma bênção.
Sou chamado para atendimentos a hospitais. Enfim, o pessoal ainda me
enxerga como padre.
O senhor pensa em ingressar numa igreja evangélica que ofereça mais liberdade?
Não. Cheguei à conclusão de que Igreja não é solução. O
Brasil está cheio de Igrejas, somos a sétima potência do mundo, mas a
maioria não vive nela (nos benefícios de ser potência). Quer dizer,
somos um país cheio de Igrejas, que louva a Deus, mas não somos um país
Cristão. A Igreja cria muito mais mentalidade de rebanho do que mente
reflexiva.
Porque o senhor mantém um processo na Justiça comum contra a excomunhão?
Entrei com um processo cível contra a diocese de Bauru — não
contra a Igreja — para anular esse ato da excomunhão. A igreja pode me
excomungar, não tem problema, mas ela tem que fazer direito. E existe um
tratado internacional assinado pelo Lula e pelo Bento XVI dizendo que a
Igreja não pode fazer ato nenhum em território brasileiro que venha
desobedecer à Constituição. No meu caso, a diocese de Bauru desrespeitou
totalmente a constituição. Eu não fui intimado, não tive defesa, não
tive acesso aos autos, não sabia no nome do juiz que me julgou e fui
julgado numa manhã, em questão de horas. Isso para mim é uma questão de
honra, uma questão de Justiça.
================================== jbpsverdade: Apostasia... Porque aqueles que foram uma vez iluminados saborearam o dom celestial, participaram dos dons do Espírito Santo, experimentaram a doçura da palavra de Deus e as maravilhas do mundo vindouro e, apesar disso, caíram na apostasia, é impossível que se renovem
outra vez para a penitência, visto que, da sua parte, crucificaram de
novo o Filho de Deus e publicamente o escarneceram. (Hb 6, 4-6), o castigo para quem comete apostasia... Depois de termos recebido e conhecido a verdade, se a
abandonarmos voluntariamente, já não haverá sacrifício para expiar este
pecado. Só teremos que esperar um juízo tremendo e o fogo ardente que há de devorar os rebeldes.(Hb 10, 26s)
Em livro, padre brasileiro excomungado diz que Jesus pode ter sido homossexual
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