Falso padre passou pela Diocese de Mogi das Cruzes.
Segundo Polícia Federal, alemão será deportado em até 15 dias.
Falso cardeal visitou mosteiro em Mogi das Cruzes.
(Foto: Reprodução/TV Globo)
(Foto: Reprodução/TV Globo)
Não satisfeito em se passar por cardeal da Igreja Católica, o alemão
Wolfgang Schuler, de 66 anos, ainda afirmou ser parente de terceiro
grau de Suzane von Richthofen - condenada a 39 anos de prisão por mandar
matar os pais em 2002. Schuler foi detido em 20 de novembro durante a
manifestação do dia da Consciência Negra na Avenida Paulista. De acordo
com a polícia, ele circulava por igrejas se apresentando como arcebispo
de São Paulo.
O Arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer, já havia alertado no
início de novembro todos os padres sobre um falso cardeal que circulava
por paróquias de São Paulo. Em Mogi das Cruzes, o falsário visitou o
Mosteiro da Transfiguração onde concelebrou uma missa para os
religiosos. De acordo com Dom Emanuele, superior do mosteiro, durante a
estadia no local, o alemão disse ser parente de terceiro grau de
Richthofen e afirmou que queria visitá-la. Suzane cumpre pena na
penitenciária Santa Maria Eufrásia Pelletier, a P1 Feminina de Tremembé,
no interior de São Paulo. "Ele chegou aqui no dia 4 de outubro e no dia
seguinte disse que era parente da Suzane. Disse também que tinha
recebido uma carta dela alguns anos atrás e que ela se queixava que os
parentes não a visitavam", diz Dom Emanuele. "Como a moça está em um
presídio especial e precisa de licença para entrar, nós entramos em
contato com a Pastoral Carcerária, que entrou em contato no presídio com
a moça", diz.
Segundo o monge conta, o falso padre ficou esperando a resposta da
pastoral no mosteiro. "No fim nós recebemos uma ligação da pastoral
dizendo que, em contato com essa moça, ela disse que não conhece o
padre, que não tem parente na Alemanha e nem no ambiente religioso", diz
Dom Emanuele. O monge conta ter avisado o falso cardeal da resposta no
dia seguinte. "Ele estranhou a resposta negativa e foi embora. Pegou o
trem para São Paulo", conta. Ainda segundo o monge, o alemão ficou por
cerca de três dias em Mogi das Cruzes.
Missa
Durante a estadia no mosteiro, Dom Emanuele diz que o falso cardeal
chegou a concelebrar uma missa para os monges. "Ele participou da nossa
vida de oração, quando íamos à capela. E na missa participou como padre.
Era tudo normalíssimo, como se conhecesse a missa. Ele deve viver muito
tempo nessa falsidade e conhece todo o mecanismo ritual".
De acordo com o monge, o falsário chegou a consagrar a Eucaristia e
entregar a hóstia a dez pessoas. "Cinco homens e cinco mulheres receberam
a comunhão. Ele tinha hábitos de padre, usava estola. Ele foi como se
fosse mesmo um padre", diz.
Dom Emanuele se sentiu traído ao descobrir que o alemão não era padre.
“Eu me sinto traído na confiança que dei a ele durante a hospitalidade.
Faz parte do nosso carisma. No Mosteiro de São Bento nós aprendemos que
qualquer um que chega e bate na nossa porta pode ser Jesus Cristo e nós
acolhemos fraternalmente.”
Abrigo
Seguindo as orientações da Igreja Católica de acolher sempre os mais
necessitados, o Mosteiro da Transfiguração, no bairro do Itapeti, em Mogi das Cruzes,
abrigou por três dias o falso cardeal no início do mês de outubro. De
acordo com o superior do mosteiro, o falsário se apresentou como
integrante da Ordem dos Cartuxos em viagem até o Rio Grande do Sul e
pedia abrigo.
O visitante disse ser “Frei André Cardeal von Hohenzollern” e o único documento oficial que ele mostrou aos monges foi seu Registro de Estrangeiro, RE.
O visitante disse ser “Frei André Cardeal von Hohenzollern” e o único documento oficial que ele mostrou aos monges foi seu Registro de Estrangeiro, RE.
Segundo Dom Emanuele, as suspeitas começaram na apresentação do
documento de identificação. "Ele me apresentou um documento que não
estava o nome de André. Mas como nós religiosos, quando nos tornamos
religiosos, mudamos o nome, não estranhei", conta o monge. O superior do
mosteiro contou também que o falso cardeal apresentou um Registro de
Estrangeiro dos anos 60, o que despertou desconfiança pela data.
"Perguntei sobre o documento tão antigo e ele me disse que tinha amigos
de alto poder no Brasil que tinham garantido a validade do documento”,
se lembra.
Além disso, o monge acrescenta que após Suzane von Richthofen ter
negado conhecer o alemão, as desconfianças aumentaram ainda mais.
"Depois que ele recebeu a resposta negativa foi embora, mas minha
desconfiança foi total. Eu liguei para o superior da Ordem dos Cartuxos
para pedir a confirmação da identidade e ele disse que não pertencia à
comunidade deles", diz.
O superior do mosteiro se lembra que imediatamente decidiu procurar o
bispo da Diocese de Mogi das Cruzes. "Escrevi uma carta ao bispo para
denunciá-lo e avisei a Arquidiocese em São Paulo". Ainda segundo Dom
Emanuele, o alemão apareceu novamente no mosteiro pedindo por abrigo.
"Depois de três dias, ele apareceu ao portão às 23h de novo. Recusamos a
sua entrada", afirma.
Entenda o caso
O estrangeiro foi levado para a Superintendência da Polícia Federal na
quinta-feira (20) após ter sido detido durante a manifestação do Dia da
Consciência Negra, na Avenida Paulista. Segundo a PF, o alemão foi
detido pela Polícia Militar por não portar documentos. Durante sua
passagem pelo estado de São Paulo, Schuler foi recebido em igrejas, onde
se apresentou como visitador apostólico. Segundo a Arquidiocese da
capital paulista, ele teria celebrado missas e ouvido confissões em
cidades do interior.
O homem que circulava por igrejas se apresentando como arcebispo de São
Paulo já respondia pelo crime de falsidade ideológica na Bahia desde
2003. E, por causa desse crime, a Justiça da Bahia autorizou a
deportação. Como o falso cardeal poderia desaparecer caso fosse
liberado, a PF solicitou na sexta-feira (21) a prisão do alemão para
efetivar sua deportação. O pedido foi deferido pela Justiça Federal. A
PF também solicitou ao Consulado da Alemanha em São Paulo a expedição de
documento de viagem, para a efetivação da deportação.
Alerta
O Arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer, divulgou nota no último
dia 7 de novembro para todos os padres sobre um falso cardeal que
circulava por paróquias de São Paulo. Segundo informações da
Arquidiocese, o falsário chegou a ir a Paróquia São Paulo da Cruz
(Igreja do Calvário), em Pinheiros, Zona Oeste da capital, e pediu ajuda
financeira. O homem negou que tenha cometido algum crime. No
comunicado, Dom Odilio diz que o falso padre também se apresentou como
monge. Segundo a arquidiocese, ele foi preso duas vezes na Bahia.
De acordo com a Arquidiocese de São Paulo, o falso cardeal foi à casa do cardeal arcebispo Dom Odilo, no bairro da Luz, no Centro da capital, no início do mês. Ele se apresentou como bispo alemão e disse que foi enviado pelo Vaticano para investigar o Clero. Na ocasião, ele pediu dinheiro para se manter.
De acordo com a Arquidiocese de São Paulo, o falso cardeal foi à casa do cardeal arcebispo Dom Odilo, no bairro da Luz, no Centro da capital, no início do mês. Ele se apresentou como bispo alemão e disse que foi enviado pelo Vaticano para investigar o Clero. Na ocasião, ele pediu dinheiro para se manter.
A Arquidiocese entrou em contato com a Igreja Alemã e descobriu que Dom
Franz-Josef Bode, bispo de Osnabrück, dado nome pelo falsário, não
tinha vindo ao Brasil. Em seguida, a Arquidiocese registrou um boletim
de ocorrência por falsidade ideológica e emitiu o comunicado alertando
os párocos. O falso cardeal chegou a se apresentar como Fr. André
Cardeal von Hohenzollern, da Ordem dos Cartuxos, Arcebispo nomeado de
São Paulo. Ele usava uma túnica e estola no braço.

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