A reportagem é de Anna Latron, publicada no sítio da revista La Vie, 19-11-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O cardeal Séan O'Malley esperou um ano antes de aceitar conceder uma entrevista à rede de televisão norte-americana CBS, como escreveu o site Crux. Nessa longa entrevista, gravada entre Roma e Boston, fala-se de pedofilia – o cardeal O'Malley preside a comissão vaticana encarregada da proteção dos menores na Igreja –, mas também de poder e de governo.
Um tema que a jornalista Norah O'Donnell enfrenta
com a tradicional pergunta sobre a ordenação de mulheres. "Nem todo
mundo precisa ser ordenado para ter um papel importante na vida da
Igreja", diz o cardeal. "As mulheres dirigem instituições de caridade
católicas, escolas católicas (...) Elas têm outros papéis importantes.
Um padre não pode ser mãe. A tradição da Igreja é a de que sempre
ordenamos homens".
A jornalista, então, exclama: "As mulheres realmente não têm poder na
Igreja!". "Bem, 'poder' não é uma palavra que nós gostamos de usar na
Igreja. Trata-se mais de serviço", diz O'Malley. A
jornalista lhe objeta que uma mulher "não pode pregar nem administrar os
sacramentos" e coloca o problema da imoralidade dessa tradição. "Cristo
nunca nos pediria para fazer algo imoral", respondeu o cardeal.
A jornalista fala de igualdade: "Vocês não excluiriam alguém com base
na raça. Mas vocês excluem pessoas, sim, com base no gênero". É então
que o arcebispo lhe confidencia: "Se eu fosse fundar uma Igreja, eu
gostaria que houvesse mulheres padres. Mas foi Cristo que a fundou, e o que Ele nos deu é algo diferente".
O cardeal O'Malley considera necessário dar às
mulheres mais posições de responsabilidade na Igreja e acredita que há
uma esperança fundamentada de que as coisas vão evoluir nesse sentido.
Nessa entrevista, o cardeal O'Malley também voltou a falar da tentativa de reforma da Leadership Conference of Women Religious (LCWR, que reúne as superioras de 80% das congregações religiosas femininas dos EUA). E definiu como um "desastre" a investigação realizada pelo Vaticano a esse respeito.
A Congregação para a Doutrina da Fé havia chamado à ordem a LCWR
em maio passado, para que revisse as suas posições sobre os
ensinamentos da doutrina católica, em especial sobre aborto, eutanásia,
ordenação de mulheres e homossexualidade.
Seja sobre a questão da LCWR, seja sobre o da ordenação de mulheres, o cardeal recebeu as felicitações do jornal National Catholic Reporter pela sua "franqueza".
Em um artigo da segunda-feira, 17 de novembro, o jornalista do NCR insiste sobre essa qualidade do cardeal: "Infelizmente, chegamos ao ponto de esperar tão pouco da nossa hierarquia!".
Nota da IHU On-Line: A íntegra da entrevista do cardeal capuchinho de Boston, em inglês, pode ser vista aqui.

Nenhum comentário:
Postar um comentário
Só será aceito comentário que esteja de acordo com o artigo publicado.