A Imaculada Conceição de Nossa Senhora, segundo a Bíblia e a Tradição.
Santo Hipólito, bispo de Porto e mártir, escreveu em 220: “O Cristo foi concebido e tomou o seu crescimento de Maria, a Mãe de Deus toda pura”. Mais além ele diz: “Como o Salvador do mundo tinha decretado salvar o gênero humano, nasceu da Imaculada Virgem Maria”.
Em 1823, dois sacerdotes
dominicanos, Pes. Bassiti e Pignataro, estavam exorcizando um menino
possesso, de 12 anos de idade, analfabeto. Para humilhar o demônio,
obrigaram-no, em nome de Deus, a demonstrar a veracidade da Imaculada
Conceição de Maria. Para surpresa dos sacerdotes, pela boca do menino
possesso, o demônio compôs o seguinte soneto:
Conta-se que o Papa Pio IX chorou, ao ler esse soneto que contém um profundíssimo argumento de razão em favor da Imaculada.
Fonte: Lepanto.
Reza o Dogma católico que a Bem-aventurada Virgem Maria,
desde o primeiro instante de sua concepção, foi preservada da nódoa do
pecado original, por privilégio único de Deus e aplicação dos
merecimentos de seu divino Filho.
a) O primeiro é ter sido
a Santíssima Virgem preservada da mancha original desde o princípio de
sua concepção. Deus ab-rogou para Ela a lei de propagação do pecado
original na raça de Adão; ou por outra, Maria foi cumulada, ainda no
começo da vida, com os dons da graça santificante.
b) No segundo, vê-se que tal privilégio não era devido por direito. Foi concedido na previsão dos merecimentos de Jesus Cristo. O que valeu a Maria este favor peculiar foram os benefícios da Redenção, na previsão dos méritos de Jesus Cristo, que já existiam nos eternos desígnios de Deus.
Como se dá a transmissão do Pecado Original
Primeiramente, é necessário esclarecer em que consiste a transmissão do “Pecado Original”. A lei geral: “Todos os homens pecaram num só” é o grande argumento dos protestantes contra a “Imaculada Conceição”. Tal lei é certa e, segundo vamos demonstrar, não encontra a mínima contradição com o Dogma católico.
S. Francisco de Sales, no seu “Tratado do amor de Deus”, exprime essa verdade de um modo singelo e glorioso!:
“A torrente da
iniquidade original veio lançar as suas ondas impuras sobre a conceição
da Virgem Sagrada, com a mesma impetuosidade que sobre a dos demais
filhos de Adão; mas chegando ali, as vagas do pecado não passaram além,
mas se detiveram, como outrora o Jordão no tempo de Josué, aqui
respeitando a arca da aliança a torrente parou; lá em atenção ao
Tabernáculo da verdadeira aliança, que é a Virgem Maria, o pecado
original se deteve.”
Os protestantes deveriam compreender a diferença essencial que há entre “pecar em Adão” e “pecar pessoalmente”, como são coisas bem distintas pertencer a uma raça pecadora e ser pecador.
De que modo, afinal, contraímos nós o pecado original?
Tal transmissão não se pode fazer pela “criação”
da alma; afirmar isso seria dizer que Deus é o autor do pecado, o que é
impossível e repugna. Não se transmite tão pouco pelos pais, pois a
alma dos filhos não se origina das almas dos pais, mas é criada por
Deus. A transmissão se efetua pela “geração”.
A alma é criada por Deus
no estado de inocência perfeita, mas contrai a “mácula”, unindo-se a um
corpo formado de um gérmen corrompido, do mesmo modo que ela sofreria
se fosse unida a um corpo ferido. É a opinião de Santo Tomás.
Santo Agostinho diz a propósito: “Apesar
de nascerem de pais batizados, os filhos vêm à luz com o pecado
original, como do trigo inutilizado germina uma espiga, em que o grão é
misturado com a palha.”
Nesse mistério do
nascimento de uma criança, pelo exposto, opera-se uma dupla concepção: a
da alma e a do corpo. Foi nesse momento quase imperceptível que Deus
preservou do pecado original a “pessoa” de Maria Santíssima.
Criou Sua Alma, como criou as nossas. Os progenitores de Nossa Senhora formatam-lhe o corpo, como nossos pais formaram o nosso. Até aqui tudo é
natural; o milagre da preservação limita-se ao instante em que o Criador uniu a alma ao corpo.
Desta união devia resultar a “transmissão do pecado”.
Deus fez parar o curso desta transmissão, de modo que nela a união se
operou como se tinha realizado na pessoa de Adão, quando Deus, depois de
ter feito o corpo do primeiro homem, soprou nele o espírito,
constituindo-o na perfeição da inocência e justiça original.
Maria é uma segunda Eva… mas Eva antes de sua queda! Tal é a sublime doutrina da Igreja de Cristo.
A Exceção à Lei Geral
Seria possível objetar-se que Deus não tem poder para derrogar as leis gerais por Ele mesmo estabelecidas?
Seria negar a Onipotência divina e fixar limites Àquele que não os tem.
É uma lei geral que “todos pecaram num só”.
Tal fato é universal, e todas as criaturas a ele estão subordinadas.
Todavia, nada impede que, antes de efetuar-se a união da alma com o
corpo, Deus possa intervir e suspender “um dos seus efeitos”, o qual é,
precisamente, a transmissão desse “pecado original”.
A Sagrada Escritura está
repleta dessas derrogações de leis gerais. O movimento do sol e da lua
está matematicamente fixado pela lei da natureza; entretanto, Josué não
hesitou em fazê-lo parar: “Sol detém-te em Gibeon, e tu, lua, no vale de Hadjalon. E o sol deteve-se e a lua parou” (Jos. 10, 12-13).
É uma lei que as águas sigam a correnteza do seu curso. Entretanto, “Moisés estendeu a mão…” o mar deixou livre o seu leito, partiram-se as águas, com um muro à sua esquerda e à sua direita (Exod. 14, 21 e 22).
É uma lei que o um morto
fique morto até à ressurreição geral; entretanto, o próprio Cristo-Deus,
diante do cadáver de Lázaro, já em putrefação, exclamou: “Lázaro, sai!” (Jo 11, 43 e 41). E imediatamente aquele que estava morto saiu vivo.
Que prova isso? Demonstra que “para Deus nada é impossível” (Lc 18, 27).
Será, então, que os protestantes acham impossível que Deus preserve Maria Santíssima do Pecado Original?
Se a lei geral fosse
superior ao poder de Deus, como ficaria o Homem-Deus? Ele, em sua
natureza humana, foi preservado do pecado original, mesmo nascendo de
uma mulher. Se fosse impossível a Deus manter Imaculada a sua Mãe,
também seria impossível manter “imaculado” o Seu Filho único, que nasceu
verdadeiro Homem e verdadeiro Deus.
Provas na Sagrada Escritura:
Depois da queda do pecado original, Deus falou ao demônio, oculto sob a forma de serpente: “Ei de por inimizade entre ti e a mulher, entre sua raça (semente) e a tua; ela te esmagará a cabeça” (Gen 3, 15). Basta um pouco de boa-vontade para compreender de que “mulher” o texto fala. A única mulher “cheia de graça”, “bendita entre todas”, na qual a “semente”
ou (raça) foi Nosso Senhor Jesus Cristo (e os cristãos), é a Santíssima
Virgem, a nova Eva, mãe do Novo Adão. Conforme esse texto, há uma luta
entre dois antagonistas: de um lado, está uma mulher com o filho; do
outro, o demônio. Quem há de ganhar a vitória são aqueles e não este.
Ora, se Nossa Senhora não fosse imaculada, essa inimizade não seria
inteira e a vitória não seria total, pois Maria Santíssima teria sido,
pelo menos em parte, sujeita ao poder do demônio através do Pecado
Original. Em outras palavras, a inimizade entre a mulher (e sua
posteridade) e a serpente implica, necessariamente, que Nosso Senhor e
Nossa Senhora não poderiam ter sido manchados pelo pecado original.
A saudação angélica, quando S. Gabriel diz: “Ave, cheia de graça. O Senhor é convosco”.
Ora, não se exprimiria desta maneira o Anjo, e nem haveria plenitude de
graça, se Nossa Senhora tivesse o pecado original, visto o homem ter
perdido a graça após o pecado.
A maneira da saudação angélica transparece a grandeza de Nossa Senhora, pois o Anjo a saúda com a “Ave, Cheia de Graça”. Ele troca o nome “Maria” pela qualidade “Cheia de Graça”, como Deus desejou chamá-la.
Ao mesmo tempo, a afirmação “o Senhor é convosco” abrange uma verdade luminosa: Nosso Senhor é (está) com Nossa Senhora antes da encarnação (“é convosco”).
Sendo palavras anteriores à encarnação do verbo no seio da Virgem
Maria, forçoso é reconhecer que onde está Deus não está o pecado. Ou
seja, Nossa Senhora não tinha o “pecado original”.
Prossegue o Arcanjo: Não temas, Maria, pois “achaste graça diante de Deus”. Aqui termina a revelação da Imaculada Conceição para começar a da Maternidade Divina: “Eis que conceberás no teu ventre e darás à luz um filho, e por-lhe-ás o nome de Jesus”. (Lc 1, 28).
Pela simples leitura, percebe-se a conexão estreita entre duas verdades: “Maria será a mãe de Jesus, porque achou graça diante de Deus”.
Mas que graça Nossa
Senhora achou diante de Deus para poder ser escolhida como a Mãe Dele?
Ora, a única graça que não existia – ou que estava “perdida” – era a “graça original”. Falar, pois, que: “Maria achou graça” é dizer que achou a “graça original”. Ora, a “graça original” é a “Imaculada Conceição”!
Os Evangelhos sinóticos deixam claro que a palavra “Cheia de Graça”, em grego: “Kecharitoménê”, particípio passado de “charitóô”, de “Cháris”,
é empregado na Sagrada Escritura para designar a graça em seu sentido
pleno, e não no sentido corrente. A tradução literal seria: “omnino Plena Caelesti gratia” ou “Ominino gratiosa reddita”: “Cheia de graça”.
Ou seja, a tradução do latim: “gratia plena” é mais perfeita do que a palavra portuguesa: “cheia de graça”. Nossa Senhora não apenas “encontrou graça”, mas estava “plena” de Graça. Corroborando o que disse o Arcanjo logo em seguida: “O Senhor é contigo”.
Falando à Santíssima Virgem que Ela “achara graça”, o Arcanjo diz: Maria, sois imaculada, e, por isto, sereis a Mãe de Jesus Cristo.
Também é pela própria
razão que se pode concluir a Imaculada Conceição. É claro que o
argumento racional não é definitivo, mas corrobora com muita
conveniência – e completa harmonia – para com ele. Se Maria Santíssima
fosse manchada do pecado original, essa mancha redundaria em menor
glória para seu Filho, que ficou nove meses no ventre de uma mulher que
teria sido concebida na vergonha daquele pecado. Se qualquer mácula
houvesse na formação de Maria Santíssima, teria havido igualmente na
formação de Jesus, pois o filho é formado do sangue materno.
S. Paulo assim se expressa sobre o ventre de onde nasceu o menino-Deus: “Cristo,
porém, apareceu como um pontífice dos bens futuros. Entrou no
tabernáculo mais excelente e perfeito, não construído por mãos humanas,
nem mesmo deste mundo” (Hebr 9, 12).
Que tabernáculo é esse “não construído por mãos humanas”, por onde “entrou”
Nosso Senhor Jesus Cristo? Fica claro o milagre operado em Nossa
Senhora na previsão dos méritos de seu divino Filho. Negar que Deus
pudesse realizar tal milagre (Imaculada Conceição) seria duvidar de sua
Onipotência. Negar que Ele desejaria fazer tal milagre seria menosprezar
seu amor filial, pois, como afirma S. Paulo: Deus construiu o seu “tabernáculo” que não foi “construído por mãos humanas”.
Ora, este tabernáculo,
feito imediatamente por Deus e para Deus, devia revestir-se de toda a
beleza e pureza que o próprio Deus teria podido outorgar a uma criatura.
E esta pureza perfeita e ideal se denomina: a Imaculada Conceição.
Agora examinemos a Tradição, desde os primeiros séculos:
S. Tiago Menor, o qual
realizou o esquema da liturgia da Santa Missa, prescreve a seguinte
leitura, após ler uns passos do antigo e do novo testamento, e de umas
orações: “Fazemos memória de nossa Santíssima, Imaculada, e gloriosíssima Senhora Maria, Mãe de Deus e sempre Virgem”.
O santo Apóstolo não se limita a isso, mas torna a sua fé mais expressiva ainda. Após a consagração e umas preces, ele faz dizer ao Celebrante: “Prestemos
homenagem, principalmente, a Nossa Senhora, a Santíssima, Imaculada,
abençoada acima de todas as criaturas, a gloriosíssima Mãe de Deus,
sempre Virgem Maria. E os cantores respondem: É verdadeiramente digno
que nós vos proclamemos bem-aventurada e em toda linha irrepreensível,
Mãe de Nosso Deus, mais digna que os querubins, mais digna de glória que
os serafins; a vós que destes à luz o Verbo divino, sem perder a vossa
integridade perfeita, nós glorificamos como Mãe de Deus” (S. Jacob in Liturgia sua).
O evangelista S. Marcos, na Liturgia que deixou às igrejas do Egito, serve-se de expressões semelhantes: “Lembremo-nos, sobretudo, da Santíssima, intemerata e bendita Senhora Nossa, a Mãe de Deus e sempre Virgem Maria”.
Na Liturgia dos etíopes,
de autor desconhecido, mas cuja composição data do primeiro século,
encontramos diversas menções explícitas à Imaculada Conceição. Umas das
suas orações começa nestes termos: Alegrai-vos, Rainha, verdadeiramente
Imaculada, alegrai-vos, glória de nossos pais. Mais adiante, é pela
intercessão da Imaculada Virgem Maria que o Sacerdote invoca a Deus em
favor dos fiéis: “Pelas preces e a intercessão que faz em nosso favor Nossa Senhora, a Santa e Imaculada Virgem Maria”.
Terminamos o primeiro
século com as palavras de Santo André Apóstolo, expondo a Doutrina
Cristã ao procônsul Egeu, passagem que figura nas atas do martírio do mesmo santo, e data do primeiro século: “Tendo
sido o primeiro homem formado de uma terra imaculada, era necessário
que o homem perfeito nascesse de uma Virgem igualmente imaculada, para
que o Filho de Deus, que antes formara o homem, reparasse a vida eterna
que os homens tinham perdido” (Cartas dos Padres de Acaia).
A doutrina da Imaculada
Conceição era, pois, conhecida no primeiro século e por todos admitida. A
esse respeito, nenhuma contradição se levantou na primitiva Igreja.
No século segundo, os escritos dos Santos Padres
falam da Imaculada Conceição como um fato indiscutível. Entre os
escritores e oradores deste século, contamos: S. Justino, apologista e
mártir; Tertuliano e Santo Irineu.
No terceiro século, existem também textos claros em defesa da Imaculada Conceição. Mas em menor quantidade.

Orígenes, que viveu em 226 e pareceu resumir a doutrina e as tradições de sua época, escreveu: “Maria,
a Virgem-Mãe do Filho único de Deus, é proclamada a digna Mãe deste
digno Filho, a Mãe Imaculada do Santo e Imaculado, sendo ela única, como
único é o seu próprio Filho.”
Em um dos seus sermões sobre S. José, Orígenes faz o mensageiro celeste dizer ao santo: “Este
menino não precisa de pai na Terra porque tem um Pai incorruptível no
Céu; não precisa de Mãe no Céu, porque tem uma Mãe Imaculada e casta na
terra, a Virgem Bem-aventurada, Maria”.
No século quarto,
aparecem inúmeros escritos sobre a Imaculada Conceição, cada vez mais
explícitos e em maior número. Temos diante de nós as figuras
incomparáveis de Santo Atanásio,
de Santo Efrem, de S. Basílio Magno, de Santo Epifânio, e muitos
outros, que constituem a plêiade gloriosa dos grandes Apóstolos do culto
da Virgem Santíssima e, de modo particular, de sua Imaculada Conceição.
Um trecho de Lutero, para mostrar que nem ele se atreveu a contestar a Imaculada Conceição: “Era
justo e conveniente, diz ele, fosse a pessoa de Maria preservada do
pecado original, visto o filho de Deus tomar dela a carne que devia
vencer todo pecado”. (Lut. in postil. maj.).
Para terminar, transcreveremos um pequeno soneto.
“Sou verdadeira mãe de um Deus que é filho,
E sou sua filha, ainda ao ser-lhe mãe;
Ele de eterno existe e é meu filho,
E eu nasci no tempo e sou sua mãe.
Ele é meu Criador e é meu filho,
E eu sou sua criatura e sua mãe;
Foi divinal prodígio ser meu filho
Um Deus eterno e ter a mim por mãe.
O ser da mãe é quase o ser do filho,
Visto que o filho deu o ser à mãe
E foi a mãe que deu o ser ao filho;
Se, pois, do filho teve o ser a mãe,
Ou há de se dizer manchado o filho
Ou se dirá Imaculada a mãe."
Conta-se que o Papa Pio IX chorou, ao ler esse soneto que contém um profundíssimo argumento de razão em favor da Imaculada.
Nossa Senhora foi a
restauradora da ordem perdida por meio de Eva. Eva nos trouxe a morte,
Maria nos dá a vida. O que Eva perdeu por orgulho, Nossa Senhora ganhou
por humildade.
O Dogma da Imaculada Conceição foi proclamado pelo Papa Pio IX,
cercado de 53 cardeais, de 43 arcebispos, de 100 bispos e mais de
50.000 romeiros vindos de todas as partes do mundo, no dia 8 de dezembro de 1854.
Passados apenas 3 anos dessa solene proclamação, em 11 de agosto de 1858, Nossa Senhora dignou-se aparecer milagrosamente por quinze dias seguidos, perto da pequena cidade de Lourdes, naFrança, a uma pobre menina, de 13 anos de idade, chamada Bernadete.
No dia 25 de março, Bernadete suplicou que Nossa Senhora lhe revelasse seu nome. Após três pedidos seguidos, Nossa Senhora lhe respondeu: “Eu sou a Imaculada Conceição”.
Eis a chave de ouro que encerra a tradição ininterrupta dos Apóstolos.
Fonte: Lepanto.
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