Grupo de moradores pediu sua saída de paróquia em Adamantina.Pároco deve assumir santuário em Dracena, conforme decisão da Diocese.
Padre ficou um ano e dez meses em Adamantina, na Paróquia Santo Antônio (Foto: Wilson Luís Ramos/Arquivo pessoal)
Apesar da mobilização pela sua permanência na
Paróquia Santo Antônio, em Adamantina, o padre Wilson Luís Ramos deve
ser transferido nos próximos dias para o Santuário Nossa Senhora de
Fátima, em Dracena. O anúncio foi feito no final da tarde desta
sexta-feira (5), por meio de circular enviada pela Diocese de Marília,
segundo o pároco. “Só espero ser bem acolhido”, diz o sacerdote, que foi
vítima de racismo durante o período de um ano e meio que ficou na
paróquia atual, em entrevista ao G1.
Ramos explica que a data exata da mudança não está definida, porém já
está com as malas prontas. “Comecei a me preparar assim que foi
anunciada minha transferência para outra cidade. Só quero que esta minha
passagem por Dracena seja mais tranquila. Em meus vários anos como padre, foi a primeira vez que tive problemas com a população”, conta.
O padre, de 50 anos, estava em Adamantina
há um ano e dez meses. Sua saída da igreja atual foi definida no dia 28
de novembro. Em nota, o bispo Luiz Antônio Cipolini, responsável pela
paróquia, informou ter encontrado uma “paróquia dividida, com grave
prejuízo ou perturbação à comunidade eclesial. “Não consigo enxergar,
nesta situação, nem vencedores e nem vencidos, apenas pessoas que amam a
Jesus Cristo e à sua Igreja e querem trabalhar pelo crescimento do
Reino de Deus”, aponta o pronunciamento oficial.
Entretanto, Ramos explica que um grupo de pessoas realizou reclamações à
Cúria, com o objetivo de retirá-lo da cidade. “Eu acho que o bispo deve
ter ouvido estas queixas. Eu vou respeitar esta ordem. Não foi minha
vontade, mas respeito a decisão”, explica.
Padre tem 50 anos e diz que nunca imaginou
presenciar atitude racista por parte dos fiéis
(Foto: Wilson Luís Ramos/Arquivo pessoal)
presenciar atitude racista por parte dos fiéis
(Foto: Wilson Luís Ramos/Arquivo pessoal)
O pároco relata que viveu situações de racismo desde sua chegada em
Adamantina, porém as “brincadeiras” nunca causaram abalo durante suas
celebrações. “Já falaram que deveriam trocar o galo de bronze, que fica
em cima da igreja, por um urubu. Muita gente conversa comigo e diz que
fazem piadas sobre mim, porém isso nunca afetou a minha vida”, aponta.
As críticas ao padre não representam o que grande parte dos moradores
da cidade, que tem pouco mais de 33 mil habitantes e está localizada no
Oeste Paulista, defende. Um abaixo-assinado, que já colheu
aproximadamente 7 mil assinaturas, pede a permanência do religioso no
município. Segundo o organizador do movimento, o jornalista Danilo
Ferreira, “o padre Wilson tem que continuar”.
“Estamos organizando um ato em frente à igreja durante as missas
pedindo a permanência dele e vamos fazer faixas contra o racismo. Nunca
presenciei o ato, mas já ouvimos comentários de que existe uma parcela
de fiéis que não aceitam o padre por causa da cor. Eles fazem
comentários e brincadeiras maldosas”, esclarece.
Os apoiadores de Ramos se instalaram em frente a algumas lojas do
comércio de Adamantina para recolherem as assinaturas. Além disso, o
movimento “Fica, Padre Wilson” se organiza por meio das redes sociais.
Só em uma das páginas de apoio ao pároco, existem quase 2 mil
participantes.
Wilson Luís Ramos nasceu na capital paulista, mas morou desde criança em Tupã
(SP), no interior do Estado. Nesta última cidade se tornou padre e
celebrou missas em diversas igrejas. “A religião esteve presente na
minha vida desde pequeno. Desde jovem, já tinha em mente a decisão de
ser padre”, conta.
Filho de um pedreiro e de uma empregada doméstica, o sacerdote afirma
que já tinha sofrido ofensas quando pequeno, porém não esperava esse
comportamento por parte dos fiéis. “Minha família me passou valores que
eu levo para a minha vida toda, além de ter me iniciado na igreja. Mesmo
quando pequeno, não me abalei com a situação. Mas sei que existem
aqueles que não aceitam pessoas negras”.
O G1 tentou entrar em contato com a Cúria Diocesana de
Marília, porém não obteve sucesso. Por telefone, a equipe de reportagem
ligou para o bispo Luiz Antonio Cipolini, porém foi informada de que
ele “tinha muitos compromissos e que dificilmente iria falar com alguém
neste sábado”.
Segundo Ramos, só um "milagre" poderia impedir que ele vá para Dracena.
“Eles não são impossíveis. Eu só peço que as pessoas não discriminem o
próximo e passem uma mensagem de paz uns aos outros. Espero que na nova
igreja tenha uma recepção mais tranquila. Eu agradeço toda a população e
peço desculpas se incomodei alguém”, finaliza.
Abaixo-assinado já recolheu aproximadamente 7 mil assinaturas (Foto: Franciele Spina Lucas/Cedida)
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