ihu - A sorte está lançada para o arcebispo de Granada, Francisco Javier Martínez (foto). Sua péssima gestão no caso de abusos sexuais em Granada, atuando tarde e ficando em evidência tanto pelas vítimas como pelo próprio papa Francisco, decretou o final de sua carreira eclesiástica, que se encerrará, segundo fontes eclesiais, após o Natal. O Papa telefonou para Daniel
em duas ocasiões, uma no dia 10 de agosto, para lhe pedir perdão, e
outra no dia 10 de outubro, para lhe incentivar a fazer a denúncia, ao
comprovar que as punições do prelado eram claramente insuficientes.
Fonte: http://goo.gl/Ba5Y9S |
A reportagem é de Jesús Bastante, publicada por El Diario, 01-12-2014. A tradução é do Cepat.
A Santa Sé, descontente pela forma como estão ocorrendo os procedimentos, praticamente já tem nomeado o seu sucessor, ao passo que dom Martínez
está “tomando decisões fortes” e tentando fazer com que a demissão se
converta em uma “transferência”. Isto é, que não seja prematuramente
aposentado (tem 57 anos, e a idade canônica para deixar suas funções é a
de 75 anos), mas enviado para outra diocese ou para algum dicastério
romano. Fontes próximas afirmam que o prelado não quer abandonar Granada
derrotado, mas que aceitaria de boa vontade um cargo na Terra Santa (é um especialista em estudos bíblicos).
O que parece claro é que a estratégia de defesa - incluindo a
prostração diante do altar da catedral -, amparada pelos especialistas
em direito e comunicação de Comunhão e Libertação (o movimento neoconservador ao qual pertence), serviu muito pouco para o Arcebispo,
que ontem mesmo se negava a falar com os meios de comunicação com esta
crítica expressão literal: “Não tenho nada a dizer, já entenderam. Tudo o
que tinha para dizer está dito. Peço para que todos nós cheguemos ao
céu, todos os homens, sem exceção”.
Punições para 10% da Diocese
Seja como for, o certo é que, paralelamente à investigação judicial, Roma
iniciou uma investigação canônica, que aponta para fortes punições aos
sacerdotes envolvidos, que são muito mais do que os três inicialmente
detidos. Ao menos uma dezena de presbíteros de Granada – 10% da Diocese – poderá ser punida em um processo sem precedentes na história recente de nosso país.
Assim como informava a Revista Vida Nueva, em seu número desta semana, o Arcebispo de Granada ficou desautorizado aos olhos do Papa. Fontes vaticanas, acrescenta a publicação, consideram “pouco habitual” que tenham sido dois juízes do Tribunal Eclesiástico de Valência,
e não de Granada, que interrogaram tanto a vítima como seus familiares.
“Não se pode prescindir de que o bispo tenha a primeira palavra na
investigação prévia. Entretanto, aqui vieram de fora”. Esta decisão foi
motivada pelo fato de que um dos acusados era vigário judicial na
arquidiocese.
É a Congregação para a Doutrina da Fé que está
tomando as rédeas da investigação, através da comissão de graves
delitos, a Seção Disciplinar, formada por uma dúzia de sacerdotes de
diversas nacionalidades. Entre eles há um espanhol, que está
acompanhando, desde o início, o desenvolvimento dos acontecimentos. A
cronologia publicada por El Diario demonstra a tibieza e lentidão com a qual o Arcebispo de Granada trabalhou para frear os abusos e punir os responsáveis. Esta demora pode ter favorecido que os envolvidos, membros do chamado ‘clã dos Romanones’, tenham descartado provas e preparado sua defesa com uma antecedência fora do comum nestes tipos de crimes.
Um tribunal de especialistas
O responsável pela investigação é o mexicano Pedro Miguel Funes, que desde 2001 ocupando-se da pedofilia. Acima está o promotor de justiça, o “promotor” da Doutrina da Fé, Robert J. Geisinger, nomeado por Francisco em setembro e até então procurador geral da Companhia de Jesus. O anterior procurador geral dos jesuítas, Robert W. Oliver, foi nomeado por Bergoglio secretário da Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores, criada para estudar formas de evitar os abusos e melhorar o tratamento às vítimas. É para esta comissão que o Papa convidou o jovem granadino a fazer parte.
Segundo algumas fontes eclesiásticas, foi o próprio Geisinger quem assumiu as rédeas do caso de Granada, após Francisco pedir ao cardeal Gerhard Müller, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé,
que começasse a investigar. Agiu assim ao receber a carta em que a
vítima lhe revelava seu sofrimento e apresentava as identidades de seus
supostos abusadores. Um primeiro relatório do ocorrido havia sido
entregue ao Papa, no final do verão, antes que telefonasse, pela segunda vez, ao jovem.
Uma vez concluída a prévia investigação, a Congregação para a Doutrina da Fé decidirá se inicia um processo canônico e onde se realiza. Em Roma,
não se dá por certo que o julgamento acontecerá na Diocese onde o crime
foi cometido, como é habitual. O fato de ter aberto mão de uma
instância judicial externa, na fase inicial, lança dúvidas sobre a
possibilidade de que o eventual processo ocorra em Granada.
“No direito eclesiástico não se concede desconto para ninguém. Se um
bispo não oferece confiança, pode-se procurar outro tribunal”, destaca
uma fonte vaticana. Outro eclesiástico com experiência nestes casos, e
que também pede para que seja mantido o anonimato, afirma que sempre se
tenta “evitar o escândalo”, o que poderia fazer com que o processo
ocorra em Roma.
O julgamento terminaria com uma sentença, após a qual as partes
poderiam apelar. O recurso seria estudado por um novo organismo, o grupo
de sete cardeais e bispos criado por Francisco, em princípios de novembro, para acelerar as apelações nos casos de abusos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário