ihu - "Este papa entende que seus aliados mais poderosos são leigos em
paróquias comuns, que conhecem a vida familiar por dentro. Assim, o
processo sinodal que ele deu início é uma tentativa de mobilizá-los em
favor da reforma."
A opinião é dos editores do jornal britânico The Tablet, 11-12-2014. A tradução é de Claudia Sbardelotto.
Eis o texto.
Na audiência de quarta-feira, 10 de dezembro, o Papa Francisco
iniciou uma série de palestras altamente significativas sobre a vida
familiar, em preparação para o próximo Sínodo dos bispos no outono. Isso
coincide com a publicação de seus documentos preliminares, os Lineamenta;
e segue a reunião sinodal especialmente convocada no último outono,
quando desafios foram feitos ao ensino e à prática católica
estabelecida, em questões que vão desde a homossexualidade até a
admissão de católicos recasados à Santa Comunhão. O fato de que Francisco
é favorável à ênfase da misericórdia de Deus, em vez de uma aplicação
restrita da doutrina, não o tornou popular em certos setores -
incluindo, na orla ultra-conservadora, aqueles que questionam todo o
processo e até mesmo sua a legitimidade como papa.
Então, quando ele disse durante a catequese de quarta-feira que, na reunião sinodal do último outono, "Tudo aconteceu cum Petro et sub Petro",
isto é, na presença do papa - que é uma garantia de liberdade e
confiança para todos, e uma garantia de ortodoxia", ele está lembrando a
seus críticos que o papa, não eles, tem o direito de decidir o que é e o
que não é ortodoxo. Ele deu o seu apoio explícito aos textos dos Lineamenta, que por sua vez apoiam o relatório final do evento do último outono. É evidente que a discussão ainda continua. Mas os Lineamenta insistem que o debate precisa reiniciar de onde parou, e não voltar para a primeira base e começar de novo.
Isso é um aviso de que ele será implacável na busca desse processo
até que ele chegue a respostas satisfatórias - satisfatórias para ele. O
que deve ser evitado, os Lineamenta insistem, é "uma
formulação da pastoral baseada simplesmente em uma aplicação da
doutrina". Isso vai ser incompreensível para alguns conservadores, que
parecem determinados a lutar a cada centímetro do caminho.
Um de seus mais fortes aliados, o cardeal Christoph Schönborn, de Viena, ofereceu um relato franco do sínodo extraordinário do último outono à revista Herder Korrespondenz. Alguns cardeais elogiaram o presidente Vladimir Putin, da Rússia, por defender os valores da família, e queriam um tom autoritário semelhante na Igreja. Schönborn
repetiu as palavras que ele dirigiu ao sínodo, dizendo: "Há uma certa
tentação, no momento, de sonhar com uma Igreja poderosa, um desejo por
um catolicismo político que impressione as pessoas, como na década de
1930. Esses cardeais ficam extremamente preocupados quando eles acham
que estão vendo sinais de que o poder do papado está diminuindo e que o
papa está, por assim dizer, descendo de seu trono".
A oposição ao Papa Francisco está aparentemente
sendo montada, não só na Cúria, mas também entre os bispos italianos
mais influentes. O que é notável é que eles foram praticamente todos
nomeados ou promovidos pelo Papa João Paulo II, e embora ninguém esteja explicitamente dizendo isso, muito do que o Papa Francisco está tentando desfazer é o legado daquele papado. Nas observações citadas pelo cardeal Schönborn, "Putin" é quase um código para "Wojtyla".
Este papa, no entanto, entende que seus aliados mais poderosos são
leigos em paróquias comuns, que conhecem a vida familiar por dentro.
Assim, o processo sinodal que ele deu início é uma tentativa de
mobilizá-los em favor da reforma. Ele os está tratando como adultos, e é
assim que eles devem responder.
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