Por Luis Dufaur
Desde o Iluminismo – para fixarmos uma referência – um viés
cientificista veio insistindo na ideia de que, à medida em que a ciência
fosse se desenvolvendo, tornar-se-ia evidente que a existência de Deus é
uma crendice para encobrir uma vergonhosa ignorância.
E a ciência progrediu. A cada descoberta relevante e a cada nova
teoria – algumas das quais se demonstraram falsas depois – esse espírito
iluminista, revolucionário, anticatólico e ateu cantava vitória.
Afinal, diziam, a religião ficou obsoleta!
Ainda hoje se publica farta literatura de botequim repetindo o mesmo
“disco furado”. A inexistência de Deus estaria demonstrada, foi
descoberta a máquina do Universo que torna desnecessária a divindade, a
inteligência é coisa que o computador faz. Não precisamos de um Criador
para explicar o Universo!!!
Mas, descartando essa literatura de rodoviária e nos voltando para os
cientistas de verdadeira envergadura atuais, verificamos que uma
profunda mudança está em curso.
A revista americana Time,
considerada a maior do mundo, aderiu durante muito tempo à visualização
da literatura de cordel a respeito da relação entre a ciência e a
religião. Porém, há tempos que vem modificando a sua posição.
Não é questão de uma revista, por grande que seja, mas toda uma
mudança planetária que está em andamento. E levada adiante pelos homens
mais instruídos nas subtilezas, complexidades e profundidades dos
diversos campos do conhecimento humano.
Time tentou explicar numa matéria de capa o que está acontecendo. Para isso apelou ao matemático e professor da Universidade de Massachusetts Amir D. Aczel, autor do livro Por que a ciência não desaprova Deus (Why Science Does Not Disprove God, Harper Collins Publishers, New York, 2014).
O autor publicou numerosos trabalhos científicos e matemáticos e foi
apontado para diversos prêmios pela sua produção de livros voltados para
a divulgação da ciência.
O professor Aczel parte da constatação de que a ciência forneceu um
imenso cabedal de conhecimentos. E não cessa de fornecer. A cada dois
anos, ou até menos, esse conhecimento duplica.
Na física e na cosmologia os cientistas estudam o que poderia ter
acontecido na mais tênue fração de tempo no início do Universo.
Na química se estudam as mais complicadas relações entre átomos e moléculas.
Na biologia, o estudo das células vivas e o mapeamento do genoma
humano atingem desenvolvimentos de espantosa complexidade e extensão.
E eis a pergunta – da qual ninguém escapa – feita pelo autor: todo
esse conhecimento desmente a existência de um Ser anterior a tudo, de
uma Força todo-poderosa que pôs em funcionamento essa fabulosa máquina
do Universo?
Quanto mais a ciência avança, mais a resposta ateia fica sem sentido.
Houve Algo. Houve Alguém. Houve Aquele a Quem chamam Deus – o Deus da Bíblia que tirou tudo do nada.
No século XIX, acreditar em Deus era ser objeto de riso. O homem não
havia descoberto a penicilina, a máquina de vapor e testava a
eletricidade?
Darwin havia publicado em 1859 a teoria de que o homem descende por
evolução do macaco ou de algum bicho semelhante; Marx explicava a
história e a sociedade pela luta de classes; e Freud refutava a religião
e a moral pelo sexo.
Alguém achou ossos em Neandertal, e pronto! Para o ateísmo, estava tudo demonstrado.
Mas – observa Aczel – no século XX ninguém conseguiu demonstrar como
se deu aquele momento primeiro do Universo que os cientistas chamam de
Big Bang.
Tampouco ninguém conseguiu esboçar o menor indício ou prova de onde
ou como apareceram os seres vivos a partir da matéria inanimada.
Nem Freud nem seu exército de discípulos conseguiu explicar como
apareceu a consciência, que a Bíblia e a Igreja nos ensinam que está
radicada na alma humana criada por Deus à sua imagem e semelhança.
A inteligência, que permite aos homens vasculhar os mistérios da
biologia, da física, da matemática, da engenharia, da medicina, de criar
as grandes obras de arte, a música, a arquitetura, a literatura, de
onde saiu? Como apareceu?
Diante de pirâmides de conhecimento que ela mesma acumula, a ciência
mais avançada cai de joelhos e se rende impotente diante dos mais
profundos mistérios da ordem do ser.
Sondas espaciais, telescópios cada vez mais poderosos, computadores potentíssimos ficam silenciosos diante desses mistérios.
Como apareceu a vida? Há vida em algum recanto do Universo que não seja o nosso?
E a resposta é sempre a mesma: em parte alguma do Universo
cognoscível se encontra um local onde uma tão requintada convergência de
fatores permitiu a aparição da vida.
A vida é a grande realidade – observa Aczel – que a ciência talvez jamais poderá explicar.
A ciência aprofunda cada vez mais conhecimentos e experiências. E
sempre encontra algo que a matéria ou o conhecimento humano não explica:
uma vasta, imensa e como que inacessível “sabedoria” que subjaz em
tudo, desde a menor das partículas quânticas até a maior e mais
longínqua das galáxias.
A ciência reconhece ignorar completamente a Causa que iniciou a
criação do Universo. De onde saiu essa incomensurável quantidade de
energia que começou tudo?
A Fé, a Igreja e a Tradição nos dizem que é Deus, – argumentamos nós –
Criador todo-poderoso, infinito e anterior a tudo o que existe, mas
Aczel confessa que a ciência não tem resposta.
Peter Higgs, Prêmio Nobel de Física em 2013, recentemente disse ter
encontrado a primeira partícula que estaria no início da imensa catedral
do Universo. Ele trabalha na Europa no acelerador de partículas Large
Hadron Collider, do CERN, o maior equipamento jamais construído pelo
homem.
E para dar-lhe um nome os homens inventaram “God particle”, a
“partícula de Deus”. Não era mais do que um jogo de palavras que
revelava, no entanto o fundo do subconsciente da mentalidade hodierna:
sem Deus, no fundo nada tem explicação convincente.
Quanto mais se descobre, mais se torna necessário supor que antes de tudo houve um Ser que trouxe tudo à existência.
Quem poderia ter tido um poder tão insondável para orquestrar a
exatíssima dança das partículas elementares necessárias para aparecer a
vida? – pergunta Aczel.
O matemático britânico Roger Penrose calculou que a probabilidade de a
vida aparecer equivalia a 1 dividido por 10, o resultado elevado à
décima potência e depois à 123ª potência. Isto é um número tão próximo
do zero que ninguém jamais conseguir sequer imaginar, observa o
matemático da Universidade de Massachusetts.
Os “ateus científicos” fracassaram diante desses mistérios, e as
hipóteses que eles levantam para encobrir o seu vazio – como a
existência de universos infinitos – só multiplicam ao infinito a
inverossimilhança de seus posicionamentos, acrescenta Aczel.
Diante de teorias e mais teorias, descobertas e mais descobertas,
experiências e mais experiências, invenções e mais invenções, uma só
coisa permanece de pé, imutável, inabalável, suprema, apoiada sobre si
própria com uma segurança absoluta: Aquele a Quem os homens chamam DEUS,
observamos nós.
E Aczel diz que não há provas científicas de que Deus não existe.
Em sentido contrário, nós só podemos achar que a massa dos
conhecimentos adquiridos apontam que somente um Ser supremo
pré-existente, infinito e eterno torna compreensível o universo que a
ciência quer tornar compreensível. E isso para não falar da nossa
própria existência, da vida.
No terceiro milênio, concluiu o matemático, a ciência e a religião
acabam se dando a mão para explicar o impulso de compreensão do mundo,
do nosso lugar nele, do nosso deslumbramento diante da maravilha da vida
no cosmos infinito.
Como no início da História – acrescentamos – o fizeram os Patriarcas,
os Juízes, os Reis e os Profetas; milênios mais tarde, os Padres e
Doutores da Igreja; depois os mestres medievais, imperadores, reis,
bispos, monges e povos, entoando o gregoriano em catedrais de pedra e
cristal luminoso, em louvor d’Aquele que é o Caminho, a Verdade e a
Vida.
E também d’Aquela que Lhe deu a vida: a sua Mãe Santíssima, que
rodeada dos coros angélicos e das legiões de santos reina sobre o Céu e a
Terra pelos séculos dos séculos.
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