Por Por Juan Arias
Francisco revisa a doutrina católica, ao afirmar que a Igreja 'não condena para sempre'.
Até o século III, a Igreja não defendia a eternidade do inferno. Somente no século VI, o conceito apareceu.
|
Sem necessidade de grandes encíclicas, com suas
falas habituais, Francisco está realizando uma revisão da Igreja para
aproximá-la de suas raízes históricas.
Deu o último golpe de graça em um momento um pouco mais solene do que
suas conversas habituais com os jornalistas. Dessa vez aproveitou, dias
atrás, seu discurso aos novos cardeais para recordar-lhes que o castigo
do inferno com o qual a Igreja atormenta os fiéis não é “eterno”.
Segundo Francisco, no DNA da Igreja de Cristo, não existe um castigo para sempre, sem retorno, inapelável.
O papa jesuíta é formado em teologia, ainda que não tenha feito o
doutorado. Dele, talvez hoje o papa renunciante e doutor em teologia,
Bento XVI, possa dizer o que afirmava sobre seu antecessor, o papa
polonês João Paulo II: que sabe pouca teologia.
Durante um jantar informal em Roma, na casa de um jornalista alemão
seu amigo, Ratzinger confessou, efetivamente, aos poucos comensais
presentes, que o papa Wojtyla “era mais poeta que teólogo” e que ele,
como Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, cargo que ocupava na
época, precisava revisar seus discursos e documentos papais para que
não escapasse “alguma imprecisão teológica”.
Francisco é, entretanto, um fiel seguidor da teologia inspirada no
cristianismo original, que era, afirma ele, não o da “exclusão”, mas o
da “acolhida” de todos, até mesmo dos maiores pecadores. É inspirado por
aquele cristianismo antes que a teologia liberal do profeta Jesus de
Nazaré fosse contaminada pela severa teologia aristotélica e racional.
Não foi um lapso a afirmação de Francisco aos cardeais de que a
Igreja “não condena ninguém para sempre”, o que equivale a dizer que o
castigo de Deus não é “eterno”, já que as portas da Igreja da
misericórdia e do perdão estão sempre abertas ao pecador.
O Papa que está exigindo aos seus, começando pelos cardeais, a ir ao
encontro daqueles que o mundo esquece e marginaliza, ao invés de perder
seu tempo nos palácios do poder, sabe que essa doutrina teológica sobre a
eternidade e irreversibilidade das penas do inferno, foi sofrendo
mudanças ao longo da História da Igreja.
Até o século III, a Igreja nunca defendeu a doutrina da eternidade do
inferno. Pelo contrário, o exegeta das Escrituras, Orígenes (250)
defendeu a doutrina da apocatástase, segundo a qual o Deus dos Evangelho
perdoa sempre. Orígenes baseava-se na parábola do Filho pródigo que
volta aos braços do pai e é recebido com tanta festa que causa a inveja
do irmão bom e fiel.
Somente no século VI começa a aparecer o conceito de “condenação
eterna”, sobretudo com Santo Agostinho, o mesmo que defendia que as
crianças mortas sem batismo deveriam ir para o inferno. Diante dos
protestos das mães dessas crianças, a Igreja criou a doutrina do Limbo,
um lugar onde essas crianças “não gozam nem sofrem”, algo completamente
estranho aos Evangelhos
Em nossos dias, o falecido papa polaco, João Paulo II, no Catecismo
da Igreja Universal nascido das discussões do Concílio Vaticano II,
aboliu o Limbo. De acordo com comentários de amigos pessoais do papa,
Wojtyla nunca aceitou que uma irmã sua nascida morta e que não pôde ser
batizada, pudesse não estar no céu por ter morrido antes de ser
libertada do pecado original com o batismo.
A família do futuro Papa era muito católica e, fiel àquela doutrina,
nem sequer enterraram o corpo da pequena por não ter podido receber o
batismo. Ele mesmo confirmou quando ao falar do túmulo no qual gostaria
de juntar os restos de toda sua família, frisou que faltava somente sua
irmãzinha, “pois havia nascido morta”. Foi jogada no lixo.
Foi o Concílio de Florença no século XV que rubricou definitivamente a
doutrina de Santo Agostinho de um castigo e um inferno eterno. Já no
século V, entretanto, São Jerônimo estava convencido de que a doutrina
do inferno com a misericórdia de Deus não era conciliável. De todo modo,
pedia-se aos sacerdotes e bispos que continuassem defendendo a doutrina
tradicional “para que os fiéis, por temor ao castigo do inferno eterno,
não pecassem”.
Hoje, o papa Francisco deu um salto de séculos, colocou-se ao lado
das primeiras comunidades cristãs ainda embebidas da doutrina do
misericordioso profeta de Nazaré, que veio “para salva e não para
condenar”.
Os primeiros cristãos sabiam que Jesus havia sido duro e severo com a
hipocrisia e com o poder tirano, enquanto abraçava os marginalizados
pela sociedade bem como os que a Igreja oficial de seu tempo tachava de
pecadores.
Podem parecer minúcias teológicas para os não religiosos, mas são
muito importantes para milhões de cristãos que durante séculos sofreram
oprimidos pela doutrina de um Deus tirano, sedento de castigo e de
castigo eterno.
Lembro que no final dos anos 60, após escrever no jornal espanhol
Pueblo um artigo intitulado “O Deus no qual não acredito”, em que
defendia que os cristãos precisavam escolher entre Deus e o inferno
eterno, já que ambos eram conceitos inconciliáveis, sofri um duro
interrogatório do então arcebispo de Madri, Monsenhor Casimiro Morcillo,
que me acusou de “ter escandalizado os fiéis”.
Aqui no Brasil, o teólogo da libertação, Leonardo Boff, me contou que
há 16 anos o grande escritor e poeta de Pernambuco João Cabral de Mello
Neto estava para morrer e, apesar de não ser religioso, estava
angustiado naquele momento pela doutrina sobre o medo do inferno, que
lhe haviam inculcado na infância. Foi chamado para o tranquilizar. Boff,
que foi condenado ao silêncio pelo papa Bento XVI quando este era
Prefeito da Congregação da Fé, usou com o escritor as mesmas palavras
que agora o papa Francisco usa para assegurar que Deus não condena
ninguém para sempre.
Boff disse com humor ao poeta que alguém capaz de escrever a joia
literária, social e humana Morte e Vida Severina, merecia indulgência
plena na hora de se despedir da vida.
A mudança é copernicana. Hoje é um papa como Francisco que afirma com
total naturalidade que o Deus cristão “não condena ninguém para
sempre”, que é como dizer que não existem infernos eternos, uma
afirmação que há pouco tempo atrás poderia ter servido para abrir um
processo contra um teólogo e condená-lo ao ostracismo.
*El País, 20-02-2015.
==========================
jbpsverdade: Verdade ou não o que falam do papa sobre o castigo eterno nesse artigo, dou a minha opinião e a dou embasado na Palavra de Deus (Bíblia).
Primeiro é bom lembrar que a Palavra de Deus foi escrita por homens, inspirados pelo Espírito Santo, e nela (Bíblia), está o Evangelho de Cristo que é fonte de salvação para todo aquele que Nele crê.
Pois bem, começo a minha opinião com o evangelho escrito por São João; Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna. Pois Deus não enviou o Filho ao mundo para condená-lo, mas para que o mundo seja salvo por ele. Quem nele crê não é condenado, mas quem não crê já está condenado; por que não crê no nome do Filho único de Deus. (Jo 3, 16-19), existe sim uma condenação eterna, e ela (condenação) consiste em não crê em Jesus Cristo.
Primeiro é bom lembrar que a Palavra de Deus foi escrita por homens, inspirados pelo Espírito Santo, e nela (Bíblia), está o Evangelho de Cristo que é fonte de salvação para todo aquele que Nele crê.
Pois bem, começo a minha opinião com o evangelho escrito por São João; Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna. Pois Deus não enviou o Filho ao mundo para condená-lo, mas para que o mundo seja salvo por ele. Quem nele crê não é condenado, mas quem não crê já está condenado; por que não crê no nome do Filho único de Deus. (Jo 3, 16-19), existe sim uma condenação eterna, e ela (condenação) consiste em não crê em Jesus Cristo.
Concordo e creio na misericórdia infinita de Deus, mas também creio e concordo na Sua justiça.
O que pensar do evangelho de Cristo escrito por São Mateus? E ele responderá: - Em verdade eu vos declaro: todas as
vezes que deixastes de fazer isso a um destes pequeninos, foi a mim que o
deixastes de fazer. E estes irão para o castigo eterno, e os justos, para a vida eterna.(Mt 25, 45s)
Todo aquele que aceita Jesus como Senhor e Salvador pratica o amor porque conhece a Deus, quem não ama não conhece a Deus.
Com relação da parábola do filho pródigo, veja que ele (filho) volta arrependido e é perdoado pelo pai. Não existe alegria maior para o coração de Deus do que aquele que se arrepende dos seus erros e volta-se para Ele, Deus é misericórdia, Ele nunca irá dar as costas a um coração arrependido.
Com relação... "Não foi um lapso a afirmação de Francisco aos cardeais de que a Igreja
“não condena ninguém para sempre”, o que equivale a dizer que o castigo
de Deus não é “eterno”, já que as portas da Igreja da misericórdia e do
perdão estão sempre abertas ao pecador". Concordo, desde que o pecador arrependa-se verdadeiramente de seus pecados.
Deus é misericórdia sim, mas também é justiça!
Nenhum comentário:
Postar um comentário