ihu - Apesar dos protestos que terminaram com três pessoas detidas e uma
campanha pedindo que o Vaticano reveja a decisão, um bispo chileno
ligado ao padre abusador mais notório do país tomou posse em sua nova
diocese no sábado.
A reportagem é de Inés San Martín, publicada por Crux, 21-03-2015. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Esta nomeação do Papa Francisco levou muitos
analistas a se perguntar quanto ao compromisso do pontífice em abordar
casos envolvendo abusos sexuais por parte do clero e responsabilizar as
autoridades religiosas que deixaram de agir quando era devido.
Cerca de 4 mil pessoas vestidas de preto em sinal de luto reuniram-se em frente da catedral da Diocese de Osorno, no Chile, para exigir que Dom Juan Barros Madrid, ex-capelão militar, não tomasse posse.
Um vídeo (ver abaixo) do evento postado na internet mostra a multidão
jogando objetos no prelado, empurrando-o e tentando impedi-lo de entrar
na Catedral de São Mateus, apesar das fortes medidas de segurança.
“Nunca vi algo assim”, disse ao Crux alguém que estava do lado de
fora da Igreja. “Foi triste ver a Igreja na qual eu rezo todo dia
reduzida a um campo de batalha entre os que apoiam o prelado e os que
não apoiam”.
Pedindo para não ser identificado porque tem relações com a diocese, a pessoa disse que, enquanto Barros
estava celebrando a missa, muitos ficaram gritando: “Pedófilo!” e “Saia
fora!”. A situação chegou ao ponto em que a cerimônia precisou ser
encurtada, pulando a homilia, a Comunhão e outras partes da liturgia.
Barros precisou ser escoltado para fora da Igreja depois da celebração.
Jornais locais informaram que o chefe da polícia, Leonardo Castillo, disse a jornalistas que, pelo menos, 3 pessoas foram detidas por conduta desordeira.
Desde que a nomeação de Barros foi anunciada em janeiro deste ano ela
vem sendo criticada por elementos da comunidade local por causa dos
laços que Barros tinha com o Padre Fernando Karadima,
sacerdote que o Vaticano condenou em 2011 a uma vida de “solidão e
oração” após ser declarado culpado de abusar sexualmente de vários fiéis
durante as décadas de 1980 1990.
Três das vítimas de Karadima (Juan Carlos Cruz, James Hamilton e José Andrés Murillo) acusaram quatro prelados chilenos, inclusive Barros, de acobertar Karadima e de estarem presentes enquanto este as abusava.
As vítimas estão travando uma batalha jurídica contra a diocese de Santiago de Chile, exigindo, entre outras coisas, um pedido de desculpas por parte da Igreja e uma indenização financeira de 700 mil dólares.
As vítimas recentemente divulgaram uma nota dizendo que “como sobreviventes dos abusos cometidos por Karadima e pela cumplicidade de Dom Juan Barros Madrid, já estamos acostumados com o tratamento que temos recebido da hierarquia chilena”.
Juan Carlos Cruz, um dos sobreviventes, disse por
email ao Crux que “este homem [Barros] viu os nossos abusos. Ele estava
lá, testemunhamos isto, e fomos ignorados muitas vezes. Hoje sabemos que
ele foi um homem desastroso”.
A cerimônia de sábado contou com a presença de uma dúzia dos mais de 50 bispos do país e quase 20 dos 35 padres da diocese.
O Cardeal Ricardo Ezzati, arcebispo de Santiago de
Chile e presidente da Conferência dos Bispos do Chile, não esteve
presente por causa de um compromisso anterior.
Em entrevista ao jornal Las Últimas Noticias, na sexta-feira, Barros
– que negou todas as acusações através de uma carta pública no começo
desta semana – disse que tinha “um forte sentimento de esperança,
esperança pelo futuro”.
“Acredito que, no fim, o fato de que todos somos membros da Igreja
irá prevalecer, e que todos iremos seguir as palavras do Santo Padre”,
declarou Barros.
Nenhum procedimento criminal ou canônico foi iniciado contra o
prelado. Até o momento, o Vaticano não fez nenhum pronunciamento em
resposta às críticas recebidas após a nomeação.
A Organização de Leigos e Leigas de Osorno está pedindo que o novo bispo se afaste do cargo.
Juan Carlos Claret Pool, líder do movimento, contou ao Crux que bispos devem ter uma autoridade moral sobre o clero, os leigos e sobre a sociedade civil, “coisa que Barros não tem”.
Por isso, disse, ele e outros planejam continuar trabalhando e “mobilizados”.
Juan Carlos Claret Pool, líder do movimento, contou ao Crux que bispos devem ter uma autoridade moral sobre o clero, os leigos e sobre a sociedade civil, “coisa que Barros não tem”.
Por isso, disse, ele e outros planejam continuar trabalhando e “mobilizados”.
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