Bispo de Campo Mourão propõe reflexão sobre o tema da Missionariedade da Igreja.
CAMPO MOURÃO, Paraná - O bispo da Diocese paranaense de
Campo Mourão, Dom Francisco Javier Delvalle Paredes, inicia, em seu mais
recente artigo, o ciclo de reflexões sobre o livro dos Atos dos
Apóstolos. Ele afirma que metodologicamente nos guiaremos por temas
tratados no relato, expressões da vida cristã nos primórdios e dos
desafios enfrentados pela evangelização.
De acordo com o prelado, este mês terá por guia de reflexão o tema da Missionariedade da Igreja. Ele ressalta que convém considerar um aspecto fundamental com relação ao Evangelho, pois por ter escrito o terceiro Evangelho e os Atos dos Apóstolos, Lucas vê Jesus e a Igreja com categorias muito próximas.
De acordo com o prelado, este mês terá por guia de reflexão o tema da Missionariedade da Igreja. Ele ressalta que convém considerar um aspecto fundamental com relação ao Evangelho, pois por ter escrito o terceiro Evangelho e os Atos dos Apóstolos, Lucas vê Jesus e a Igreja com categorias muito próximas.
Segundo o relato evangélico, a missão evangelizadora de Jesus se dá no
decorrer da longa peregrinação com destino a Jerusalém (Lc 9-19), cidade
na qual haveria de se cumprir o Mistério Pascal, e o anúncio do
Evangelho vai crescendo à medida que Jesus se aproxima da cidade santa.
Dom Francisco ainda destaca que nos Atos dos Apóstolos a expansão das
comunidades cristãs obedece a mesma perspectiva, e partindo de
Jerusalém novas comunidades são fundadas segundo a própria palavra de
Jesus: "Mas o Espírito Santo descerá sobre vós, e recebereis uma força
do alto. Sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia,
Samaria e todos os confins da terra" (At 1,8).
Conforme ele, para a expansão da Igreja o ponto de partida é
Jerusalém, e o objetivo almejado a grande e poderosa cidade de Roma,
capital do mundo de então. Para o Bispo, outro fato importante a
considerar diz respeito ao caráter pneumático da missão cristã nos Atos
dos Apóstolos.
Segundo ele, as primeiras missões começam após Pentecostes (At
2,1-13) e neste acontecimento fundante os discípulos do Ressuscitado
veem o ponto de partida seguro para o anúncio do Evangelho a toda
criatura. "Até o capítulo 8 é descrita a comunidade de Jerusalém,
enquanto mãe daquelas que doravante surgiriam. Partindo do capítulo 8
começa a evangelização da Samaria por Filipe, Pedro percorre diversas
regiões anunciando o Evangelho (At 9,32-43), chega a Cesareia e admite à
Igreja o pagão Cornélio (At 10), dando a entender o alcance universal
da Boa Nova proclamada pelo Senhor".
Além disso, o Prelado salienta que em Atos dos Apóstolos 11 entra em
cena a comunidade de Antioquia, que haveria de se converter numa das
mais importantes e pujantes Igrejas da antiguidade cristã, e do capítulo
13 em diante surge a grandiosa figura de Paulo, que de perseguidor
tornou-se Apóstolo de Jesus Cristo.
Ele reforça que Paulo e seus companheiros, vários ao longo do relato,
desenvolvem fecundo e gigantesco trabalho de fundação de comunidades,
num ambiente de ação pastoral complicado da Ásia Menor e da Europa de
então.
"Refiro-me à dificuldade do contexto por se tratar de regiões
marcadas pelo sincretismo religioso pagão. Nela se instalaram e fizeram
fortuna diversos cultos idolátricos provindos de diferentes partes do
mundo. Por exemplo, em Éfeso (At 19), Paulo contrasta com o culto à
famosa deusa Ártemis, divindade da fertilidade.
Em Atenas (At 17), o problema consiste na pluralidade de divindades
cultuadas pela população, a ponto de se erguer um altar ao Deus
desconhecido. Poderíamos mencionar aqui inúmeras situações que ilustram a
conjuntura enfrentada pelos evangelizadores da primeira hora",
acrescenta.
Outra questão abordada pelo Prelado é que geograficamente a missão
aconteceu, e comunidades cristãs se estabeleceram em toda a bacia do Mar
Mediterrâneo, inclusive em Roma, capital do Império. Todavia, conforme o
Bispo, o olhar puramente sociológico sobre este movimento não nos
permite captar o que ele realmente significou, então se faz necessário a
ótica da fé mediante a qual Lucas dispôs seu relato.
"Para Lucas, portanto, a Igreja deve se entender como ambiente
habitado pela Palavra e sustentado pelo Espírito. A missão
evangelizadora precisa se erguer sobre esse duplo fundamento. Não se
trata de confiar simplesmente na eficácia dos projetos elaborados pela
sabedoria humana. Por vezes temos excelentes planos de pastoral,
propostas de trabalho maravilhosas e subsídios atualizados, porém
continua emperrado o processo evangelizador", avalia.
Para o Prelado, se isso ocorre é porque carecemos de confiança na
força do Espírito como protagonista da missão eclesial, faltando
convencimento sobre a centralidade da Palavra como objeto a ser do
anúncio. "Carecemos de entusiasmo e vitalidade ao dar vida ao anúncio",
sublinha.
Por fim, Dom Francisco afirma que devemos aproveitar a Quaresma para
refletir sobre nossa prática pastoral em nível diocesano, foranial e
paroquial, sendo corajosos como foram os incansáveis missionários da
primeira hora, e confrontarmos nosso modo de ver a missão com as reais
necessidades da Igreja e da humanidade hoje.
"Através da Campanha da Fraternidade sobre a relação entre Igreja e
sociedade, a CNBB nos interpela, tocando diretamente na missão
evangelizadora. Quer que nos evangelizemos a nós mesmos, para possuirmos
condições de evangelizar os nossos interlocutores. Compreendamos também
que evangelizar é um processo construtivo que deve avançar a cada dia,
conforme nos dá a entender o precioso texto dos Atos dos Apóstolos",
conclui.
SIR
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