Saúde frágil após atentado, agravada pelo Parkinson, comoveu o mundo. ‘Eu busquei vocês. Agora vocês vêm a mim. Eu agradeço’, disse aos jovens antes de morrer, em abril de 2005.
Encerrando 26 anos de pontificado, o terceiro mais longo da História,
a lenta e comovente agonia do Papa João Paulo II chegou ao fim no dia 2
de abril de 2005. Eram 21h37m (16h37 em Brasília) quando o Papa, aos 84
anos, morreu em sua residência, no Vaticano. Em todo o mundo, durante
dias católicos fizeram vigílias em igrejas lotadas e missas foram
celebradas pelo pontífice. O Papa peregrino, que visitou quatro vezes o
Brasil, dirigiu aos jovens as suas últimas palavras:
— Eu busquei vocês. Agora vocês vêm a mim. Eu agradeço.
Na
Praça de São Pedro, 60 mil fiéis reagiram à morte do Papa com um longo
aplauso, um sinal de respeito na Itália, seguido de silêncio e choro. Um
dos líderes mais influentes do século XX por suas posições em relação
ao Leste europeu, onde regimes comunistas estavam decadentes, o polonês
João Paulo II foi, talvez, o Papa que mais viajou na história
pontifícia. Ele esteve em 129 países, percorrendo cerca de 1,2 milhão de
quilômetros. Nos seus funerais, Roma parou com a chegada de 4 milhões
de visitantes, e as autoridades decidiram suspender o acesso à fila de
um milhão de pessoas que enfrentaram 14 horas para ver o corpo do Papa.
Por ser considerado um “Papa global”, a morte de João Paulo II foi
também a maior notícia da História, ocupando mais espaço na mídia que o
11 de Setembro. Cerca de 75 mil reportagens foram escritas até 72 horas
após a sua morte, quase três vezes mais do que as citações no mesmo
período aos atentados às Torres Gêmeas, em Nova York.
Chamado
também de Papa viajante, atleta da fé, estadista, o Papa carismático e
comunicador foi incansável ao longo de quase três décadas na missão de
levar ao mundo a sua mensagem de paz. Ele também se notabilizou pelo
empenho na tentativa de conciliação entre religiões, mas foi duramente
criticado por posições conservadoras em relação a “controles de
natalidade artificiais”, após afirmar que as pílulas anticoncepcionais
eram "forças destrutivas". Os números do seu pontificado foram
superlativos. Os quilômetros percorridos em suas viagens apostólicas são
equivalentes a três vezes a distância entre a Lua e a Terra (ou 29
voltas em torno do planeta). Ao redor do mundo, ele visitou 715 cidades,
sendo que, no caso da Itália, realizou 146 viagens. João Paulo II
também se encontrou com 738 chefes de Estado e recebeu em audiência 246
primeiros-ministros.
Debilitado pelo atentado sofrido em 1981, o
Papa passou, no total, 162 dias em hospitais, tendo sido internado nove
vezes por motivos diversos, incluindo cirurgias e quedas. Nos seus
últimos anos, o mundo se comoveu com as imagens de um Papa com saúde
frágil, agravada pelo mal de Parkinson. Eram imagens totalmente
diferentes do cardeal polonês Karol Wojtyla, de porte atlético, que
subiu ao Trono de Pedro, no dia 16 de outubro de 1978, aos 58 anos. Em
toda a História da Igreja, João Paulo II também foi o Papa responsável
pelo maior número de beatificações (1.338) e canonizações (482). Em
2011, ele mesmo foi beatificado pelo seu sucessor, o Papa Bento XVI,
enquanto em 2014 o Papa Francisco fez a sua canonização.
No
Brasil, João Paulo II esteve quatro vezes. A primeira viagem, em 1980,
teve como pontos altos a beatificação do padre Anchieta, fundador de São
Paulo, e a participação no X Congresso Eucarístico Nacional, em
Fortaleza. Nos 12 dias da visita, o Papa esteve ainda em 13 capitais e
em Aparecida (SP). Na ocasião, a música "À bênção, João de Deus",
composta por Péricles de Barros, foi tocada em várias cerimônias. A
canção ganhou uma versão de torcedores do Fluminense, transformada em
hino dos tricolores nas arquibancadas do Maracanã. No Rio também ficou
famosa a visita do Papa à favela do Vidigal, na Zona Sul. Num gesto
inesperado, ele tirou do dedo um anel papal de ouro para que fosse
vendido em benefício dos favelados, que chegaram a ser ameaçados de
remoção. Momentos antes, o Papa falara do seu desejo de que a Igreja do
Brasil fosse a “Igreja dos pobres”.
Despedida. Funeral do Papa: na Praça de São Pedro, o corpo de João Paulo II é levado para a Basílica do Vaticano Tony Gentile/Reuters / 04/04/2005
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