“Encontrei outro amor, não é contra Deus, mas não posso continuar”.
Esta frase que os responsáveis dos institutos religiosos ouvem dizer com
bastante frequência, repetiu-a hoje o Papa Francisco no discurso a 1400 formadores de institutos masculinos e femininos, reunidos no Vaticano por ocasião do Ano da Vida Consagrada.
Francisco solicitou-lhes que acolham com simpatia e
compreensão a eventual renúncia dos jovens que haviam empreendido um
caminho vocacional ou mesmo já a vida religiosa. Também os insucessos,
explicou Francisco, “podem favorecer o caminho de formação contínua (de si mesmos) que serve aos formadores”.
“Como se acompanha a entrada – acrescentou – devemos acompanhar a
saída, porque ele ou ela encontre o caminho da vida com a ajuda
necessária, e não com esta defesa “do ficar dentro do Instituto a todo o
custo, que para o Papa “é pão para hoje e fome para amanhã”, enquanto
prenunciadora de problemas futuros bastante graves.
Ante os insucessos, disse o Papa aos formadores, “às vezes podereis
ter a sensação que o vosso trabalho não seja bastante apreciado”.
A reportagem é de Salvatore Izzo, publicada por AGI, 11-04-2015. A tradução é de Benno Dischinger.
Sabeis que Jesus vos segue com bastante amor, e a Igreja toda vos é grata”.
De fato, continuou, “o discernimento vocacional é importante: todas
as pessoas que conhecem a personalidade humana, sejam psicólogos, padres
espirituais ou madres espirituais, nos dizem que os jovens que
inconscientemente sentem ter algo de desequilibrado, ou qualquer
problema de desequilíbrio ou de desvio, inconscientemente procuram
estruturas fortes que os protejam, para se protegerem”.
“E o discernimento – disse o Pontífice – é saber dizer não. Mas não mandar embora, não!” Segundo Francisco,
“a formação inicial é somente o primeiro passo de um processo destinado
a durar toda a vida, e o jovem é formado à liberdade humilde e
inteligente de se deixar educar por Deus Pai em cada dia da vida, em
toda idade, na missão como na fraternidade, na ação como na
contemplação”.
“Nesta missão – acrescentou – não são poupados nem tempo nem
energias. E não é preciso desencorajar-se quando os resultados não
correspondem às expectativas”.
“Também o Papa é censurado!”. Francisco pronuncia
estas palavras e depois levanta os olhos do papel com o discurso que
está lendo, endereçado aos formadores dos institutos religiosos, e
explica: “aqui eu havia colocado que alguns dizem que a vida consagrada é
o Céu na Terra, não, se muito é o Purgatório”. E sorri, porque no texto
datilografado que tem em mãos aquela fase um pouco provocadora no final
desapareceu.
“Não é verdade que os jovens de hoje sejam medíocres e não generosos;
mas têm necessidade de experimentar que se é mais bem-aventurado no dar
do que no receber!”.
O Papa o afirmou no discurso a 1400 religiosos de todo o mundo, que
desenvolvem o papel de formadores e formadoras nos seus institutos. “Os
jovens têm o faro para descobrir a autenticidade e isto faz bem”, disse
ainda o Pontífice aos participantes na reunião com os formadores
promovido pela Congregação para os religiosos e os institutos seculares
por ocasião do Ano da Vida Consagrada que está em curso.
“Uma das qualidades do formador – explicou Francisco
– é aquela de ter um coração grande para os jovens, para neles formar
corações grandes, capazes de acolher a todos, corações ricos de
misericórdia, plenos de ternura. Vós não sois somente amigos e
companheiros de vida consagrada daqueles que vos são confiados, mas
verdadeiros pais, verdadeiras mães, capazes de solicitar e dar-lhes o
máximo”.
“Isto – acrescentou Francisco – é possível somente
por meio do amor, o amor de pais e de mães. Às vezes se pode sentir este
serviço como um peso, como se nos subtraísse a algo de muito
importante. Mas isto é um engano, é uma tentação”.
Segundo Francisco, “é importante a missão, mas é
igualmente importante formar à missão, à paixão do anúncio, do ir a
qualquer lugar, em qualquer periferia, para dizer a todos o amor de
Jesus Cristo, especialmente aos distantes, contá-lo aos pequenos e aos
pobres, e deixar-se também evangelizar por eles”.
“Tudo isto – recomendou o Papa sempre se dirigindo aos formadores dos
institutos religiosos masculinos e femininos – requer bases sólidas,
uma estrutura cristã da personalidade que hoje as próprias famílias
raramente sabem dar. E isto – concluiu Francisco – aumenta a vossa responsabilidade”.
O Papa Francisco prestou homenagem “às Irmãs que
todos os dias se levantam para trabalhar, as Irmãs do hospital, que são
doutoras em humanidade”. “Quanto devemos aprender desta consagração de
anos e anos!”, exclamou interrompendo a leitura do discurso dirigido a
1400 religiosos e religiosas que estão empenhados na formação nos seus
institutos.
O Papa também revelou que na Casa Santa Marta “ontem
no almoço havia um grupinho de sacerdotes que celebrava o 60º
aniversário de Ordenação sacerdotal” e confiou a própria admiração por
“aquela sabedoria dos idosos”. “Alguns – gracejou – são um pouco..., mas
a maioria dos idosos tem sabedoria”.
Francisco sublinhou a grande generosidade de tantos
religiosos que servem humildemente os últimos por toda a vida. “E depois
– acrescentou – morrem”. Como “as Irmãs missionárias, os consagrados
missionários, que vão lá e morrem lá...”. “Olhar – sugeriu aos
religiosos – os idosos! E não só olhá-los: ir encontrá-los, porque o
quarto mandamento também conta na vida religiosa, com aqueles anciãos
nossos”.
“Também estes, para uma instituição religiosa, são uma ‘Galiléia’,
porque neles encontramos o Senhor que nos fala hoje. E quanto bem faz
aos jovens mandá-los a eles, os quais se aproximem destes anciãos e
anciãs consagrados, sábios: quanto bem faz!”.
“É bela – continuou o Papa Francisco – a vida consagrada, é um dos
tesouros mais preciosos da Igreja, radicado na vocação batismal. E por
isso é belo ser dela formadores, porque é um privilégio participar da
obra do Pai que forma o coração do Filho naqueles que o Espírito Santo
chamou”. “Ao ver-vos tão numerosos – disse ainda dirigido aos 1400
formadores – não se diria que haja crise vocacional!
Mas na realidade há uma indubitável diminuição quantitativa, e isto
torna ainda mais urgente a tarefa da formação, uma formação que plasme
realmente no coração dos jovens o coração de Jesus, até que tenham os
seus sentimentos”.
“Às vezes – observou ainda o Pontífice – se pode sentir este serviço
como um peso, como se nos subtraísse de algo muito importante. Mas isto é
um engano, é uma tentação. É importante a missão, mas é igualmente
importante formar à missão, formar à paixão do anúncio, formar àquela
paixão do ir a qualquer lugar, a toda periferia, para dizer a todos o
amor de Jesus Cristo, especialmente aos distantes, contá-lo aos pequenos
e aos pobres, e deixar-se também evangelizar por eles. Tudo isto requer
bases sólidas, uma estrutura cristã da personalidade que hoje as
próprias famílias raramente sabem dar”.
“Estou convencido – concluiu – que não há crise vocacional lá onde há
consagrados capazes de transmitir, com o próprio testemunho, a beleza
da consagração. E o testemunho é fecundo. Se não há um testemunho, se
não há coerência, não haverá vocações. E a este testemunho sois
chamados. Este é o vosso ministério, a vossa missão. Não sois somente
‘mestres’; sois acima de tudo testemunhos da seqüela de Cristo”.
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