Por Enrique Anrubia
Se uma pessoa quer alcançar um objetivo, qual é a diferença entre rezar para conseguir isso e fazer uma simpatia ou lançar um feitiço?
Há pessoas que consideram que rezar é um absurdo. Por outro lado, também existem aquelas que acham que a oração pode consertar todas as coisas, como curar doenças ou solucionar um casamento.
Em geral, a verdade e a falsidade andam juntas e, por isso, podemos adiantar uma conclusão: é mentira que rezar é um absurdo; mas é verdade que rezar não cura doenças nem soluciona casamentos. O mais interessante disso tudo é que a falsidade de ambas as posições tem a mesma tese como fundamento.
Esta tese comum pode ser observada claramente na diferenciação feita pela antropologia cultural clássica entre magia e religião.
Malinowski, um desses antropólogos, conta que alguns nativos das ilhas do Pacífico, quando saíam para pescar com suas canoas em alto mar, realizavam ritos religiosos de oferendas e súplicas. Pelo visto, para eles, o mar era o que não podiam dominar, o que ia além de qualquer um dos seus poderes e habilidades.
Malinowski observou, no entanto, que estes ritos não eram realizados quando os nativos pescavam – também em canoas – em um lado interior. Então, deduziu que o núcleo do assunto não residia na atividade em si, ou seja, na pesca, mas na compreensão que tinham da realidade.
Acudia-se à divindade quando uma aura de mistério e impotência excedia as possibilidades dos homens: ninguém podia saber que desventuras ocorreriam em alto mar, mas, no lago, tudo estava sob controle.
Apesar de seu conhecimento prático, os nativos sabiam que havia situações que a pessoa não pode dominar, e era então que recorriam à divindade.
No entanto, Malinowski percebeu que os nativos tinham certas práticas esotéricas que não envolviam um conhecimento prático, nem tampouco religioso. Era práticas mágicas, e os próprios nativos as distinguiam claramente da religião.
A magia tinha em comum com o conhecimento prático – usar uma linha, navegar – o fato de que, por um lado, pensava que toda causa tinha um efeito direto e, por outro, que a pessoa podia dominar e era senhora da situação.
Em outras palavras: assim como uma pessoa sabe que, se soltar uma caneta da mão, ela cairá ao chão, devido à lei da gravidade, da mesma forma, na magia se pensa que, ao realizar determinados procedimentos (como uma dança da chuva ou um boneco de vodu), serão obtidos os efeitos próprios que essa causa busca (no caso, chover ou provocar um dano a alguém).
O que Malinowski conseguiu ver é que tanto a magia quanto a ciência compartilhavam essa estrutura: dominamos as causas e, por isso, podemos predizer e dominar os efeitos. Mas também percebeu que isso não era a religião.
Rezar não é sussurrar um feitiço que vai nos proporcionar os efeitos que desejamos; não temos esse poder e, se o tivéssemos, não seria preciso rezar (o que seria uma contradição). Rezar é sobretudo e quase unicamente manter uma conversa. Essas conversas, como quase nenhuma, não dominam a realidade do que nos acontece.
Podemos pedir, como pedimos coisas aos nossos amigos; podemos rir, podemos chorar, mas isso não significa que dominemos as coisas que pedimos, nem muito menos que dominemos a vontade livre daquele a quem pedimos tais coisas.
Às vezes nos esquecemos desta pequena diferença – tanto os cristãos como os que zombam da oração. Rezar é contar a Alguém o que nos acontece.
Cabe mencionar um breve detalhe: também Malinowski se equivocava ao desligar ciência e religião, porque a ciência não é um domínio sobre as causas, mas uma leitura e um diálogo com a natureza. No final, estamos repletos de conversas, porque a própria realidade é um diálogo.
Em geral, a verdade e a falsidade andam juntas e, por isso, podemos adiantar uma conclusão: é mentira que rezar é um absurdo; mas é verdade que rezar não cura doenças nem soluciona casamentos. O mais interessante disso tudo é que a falsidade de ambas as posições tem a mesma tese como fundamento.
Esta tese comum pode ser observada claramente na diferenciação feita pela antropologia cultural clássica entre magia e religião.
Malinowski, um desses antropólogos, conta que alguns nativos das ilhas do Pacífico, quando saíam para pescar com suas canoas em alto mar, realizavam ritos religiosos de oferendas e súplicas. Pelo visto, para eles, o mar era o que não podiam dominar, o que ia além de qualquer um dos seus poderes e habilidades.
Malinowski observou, no entanto, que estes ritos não eram realizados quando os nativos pescavam – também em canoas – em um lado interior. Então, deduziu que o núcleo do assunto não residia na atividade em si, ou seja, na pesca, mas na compreensão que tinham da realidade.
Acudia-se à divindade quando uma aura de mistério e impotência excedia as possibilidades dos homens: ninguém podia saber que desventuras ocorreriam em alto mar, mas, no lago, tudo estava sob controle.
Apesar de seu conhecimento prático, os nativos sabiam que havia situações que a pessoa não pode dominar, e era então que recorriam à divindade.
No entanto, Malinowski percebeu que os nativos tinham certas práticas esotéricas que não envolviam um conhecimento prático, nem tampouco religioso. Era práticas mágicas, e os próprios nativos as distinguiam claramente da religião.
A magia tinha em comum com o conhecimento prático – usar uma linha, navegar – o fato de que, por um lado, pensava que toda causa tinha um efeito direto e, por outro, que a pessoa podia dominar e era senhora da situação.
Em outras palavras: assim como uma pessoa sabe que, se soltar uma caneta da mão, ela cairá ao chão, devido à lei da gravidade, da mesma forma, na magia se pensa que, ao realizar determinados procedimentos (como uma dança da chuva ou um boneco de vodu), serão obtidos os efeitos próprios que essa causa busca (no caso, chover ou provocar um dano a alguém).
O que Malinowski conseguiu ver é que tanto a magia quanto a ciência compartilhavam essa estrutura: dominamos as causas e, por isso, podemos predizer e dominar os efeitos. Mas também percebeu que isso não era a religião.
Rezar não é sussurrar um feitiço que vai nos proporcionar os efeitos que desejamos; não temos esse poder e, se o tivéssemos, não seria preciso rezar (o que seria uma contradição). Rezar é sobretudo e quase unicamente manter uma conversa. Essas conversas, como quase nenhuma, não dominam a realidade do que nos acontece.
Podemos pedir, como pedimos coisas aos nossos amigos; podemos rir, podemos chorar, mas isso não significa que dominemos as coisas que pedimos, nem muito menos que dominemos a vontade livre daquele a quem pedimos tais coisas.
Às vezes nos esquecemos desta pequena diferença – tanto os cristãos como os que zombam da oração. Rezar é contar a Alguém o que nos acontece.
Cabe mencionar um breve detalhe: também Malinowski se equivocava ao desligar ciência e religião, porque a ciência não é um domínio sobre as causas, mas uma leitura e um diálogo com a natureza. No final, estamos repletos de conversas, porque a própria realidade é um diálogo.
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