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Quem segue Jesus deverá escolher a força da não violência, o amor simples e sincero.
Nas mães, encontramos a verdadeira pregação do amor. |
Por Dom Alberto Taveira Corrêa*
Jesus Cristo se manifestou pequeno e pobre, nascendo em Belém,
povoado simples e só aparentemente sem importância, pois “Tu, Belém,
terra de Judá, de modo algum és a menor entre as principais cidades de
Judá, porque de ti sairá um príncipe que será o pastor do meu povo,
Israel” (Mt 2, 6). Tomou as vestes da simplicidade, manifestando o maior
poder de Deus, que vai ao mais profundo das realidades humanas, para
resgatá-las em seu amor.
Chamado “Filho do Carpinteiro” José, aprendeu, ele mesmo, uma
profissão humana, trabalhador manual, para que as atividades humanas
fossem reconhecidas em sua inigualável dignidade. Nele, todo trabalho
humano feito com amor é reconhecido como contribuição na edificação do
Reino de Deus. Nazaré foi seu ambiente de crescimento na infância,
adolescência e juventude, com tudo o que significa convivência sadia,
pois se fez igual a nós em tudo, menos no pecado. Foi tão parecido que
seus concidadãos se admiravam pela sabedoria com que agia e falava (Cf.
Mt 13, 54-55), tudo vindo de dentro, do amor infinito, que é só de Deus,
e ele é Deus!
Mãe Maria, ele a teve única entre todas as outras, preparada pelo Pai
do Céu para ser santa e imaculada. Numa pessoa, feminina em sua doçura,
mulher forte, experimentada na provação, formada nas estradas que foram
de Nazaré a Belém, ou passaram pelo Egito, peregrinaram a Jerusalém,
foi solícita em Caná e capaz de se fazer discípula do próprio Filho.
Declarou-se escrava e aí estava a sua felicidade, sua bem-aventurança.
Na hora definitiva da obra de salvação realizada e merecida pelo Senhor
Salvador, estava de pé junto à Cruz, colaboradora do Redentor. O amor
que perpassou seus pensamentos, palavras e gestos, conduziu-a ao
testemunho do derramamento do Espírito Santo no Pentecostes, ela que
fora envolvida com a sombra do mesmo Espírito, para a Encarnação do
Verbo de Deus. Não fez “grandes” coisas, pois estas foram feitas por
Deus em sua história (Cf. Lc 1, 46-49). Sua vida é apenas e tão somente
ser a Mãe do Belo Amor, e o tudo de Deus se realiza em seus passos.
Um dia bonito raiou no Rio Jordão, quando sol, água, vozes, pomba,
tudo comparece para que se inaugure o ministério da vida pública de
Jesus, amor de Deus feito carne, Filho amado a ser acolhido e ouvido.
Testemunha-se ali a revelação da Trindade! É o amor que circula entre o
Pai, o Filho e o Espírito Santo. É a humanidade que em João Batista se
inclina e quer deixar-se batizar na nova e definitiva torrente que brota
do Céu. É o amor de Deus que se derrama, pelo Espírito Santo que nos é
dado (Cf. Rm 5, 5).
O Messias foi aguardado com ansiedade por muitos séculos. Era o
desejo profundo da plena comunhão entre o Céu e a Terra! Só que muitas
pessoas o imaginavam poderoso nas batalhas, violento para destituir os
opressores! Neste sentido, Jesus decepciona tais expectativas, porque
chega num jumentinho, montaria dos pobres, ao invés dos garbosos cavalos
dos vencedores das guerras, ou dos dominadores enriquecidos pelo butim
dos povos conquistados. Ele vem como o Rei da Paz, aparentemente termina
sua missão no fracasso da morte e anunciou apenas o amor que realizou.
Venceu a morte, sim, mas sua ressurreição só é conhecida através do
testemunho! Com ele só se pode estabelecer relacionamento através do
caminho da fé, que significa confiança gratuita e absoluta e conduz ao
amor livre e decidido entre Deus e os homens e as mulheres que criou e
entre estes, na reciprocidade do dom e da ternura.
Foi muito difícil para os discípulos de Jesus chegarem à compreensão
dos segredos do Mestre. Por três anos brotaram muitas interrogações em
seus corações, pelo fato de serem também herdeiros da expectativa do
Povo de Israel. Uma delas é a pergunta a respeito do “seu” mandamento,
com a qual pretendiam penetrar no mais íntimo do coração do Senhor (Cf.
Jo 15, 9-17). Não lhes revelou qualquer fórmula mágica para os problemas
do mundo, mas deu-lhes de presente o próprio Céu, o jeito de Deus
viver: “Este é o meu mandamento: Amai-vos uns aos outros, assim como eu
vos amei” (Jo 15, 12). Trata-se de acreditar que o Céu resolve os
problemas da terra! É trazer para o dia a dia os critérios de Deus, que
nos ama por primeiro, quer para todos vida em abundância, perdoa sempre
com misericórdia, a ternura de Deus que vai ao encontro de quem se
perdeu.
Somos continuamente tentados pela eficiência, desejo de resultados
rápidos. Este fenômeno se verifica também nas decisões dos governantes,
com as promessas do consumo e do emprego aparentemente estável, ou as
políticas compensatórias, cujo preço chega e já chegou. Como se esvaiu
um admirável mundo novo que se proclamou realizado! E infelizmente
muitos almejam um mundo sem rédeas ou limites, religião reduzida à
esfera privada, laicismo militante, libertinagem à solta, apenas
direitos e nenhuma responsabilidade, desrespeito e eliminação da vida
desde o ventre materno, desvalorização da família, ideologia de gênero,
propostas de mudanças sociais com viés socialista nitidamente
anacrônico.
A proposta do Evangelho pode soar ingênua, quando acompanhamos o
Jesus de Belém, da Galileia ou do Calvário! Só que não se chega à
ressurreição sem passar pela Cruz, loucura aos olhos humanos. Muitos que
o seguiram na primeira hora e em todos os tempos o deixaram de lado,
pois não oferece tais soluções fáceis. Quando Jesus propõe critérios de
Céu, com a disposição para dar a vida uns pelos outros, desmorona a
pretensa competição de quem quer derrubar o próximo, destruí-lo para que
vença o grupo a que pertencem os que se envolvem nas batalhas da vida.
Quem o segue deverá escolher a força da não violência, o amor simples e
sincero que vai ao encontro dos outros, as armas da paz, a queda das
muralhas que separam as pessoas e o gosto pelo diálogo.
Nestes dias, vale olhar para figuras tão simples quanto emblemáticas
na Igreja e na Sociedade, as Mães, cujo dia celebramos. A ternura que
revelam é um sinal precioso do amor de Deus. O profeta Isaías nos mostra
em palavras preciosas a linda comparação do amor de Deus com o amor
materno: "Pode uma mulher esquecer-se daquele que amamenta? Não ter
ternura pelo fruto de suas entranhas? E mesmo que ela o esquecesse, eu
não te esqueceria nunca” (Is 49, 15). Às mães é confiado o tesouro da
vida, conservado no íntimo de seu ventre, e delas a vida recebe calor,
estímulo, afeto e ternura. Sua coragem para cuidar dos filhos, o zelo
que muitas vezes faz assumir sozinhas a educação de seus queridos, amor
que não se explica, mas acontece e é cada dia mais intenso. Nelas
encontremos o testemunho e a verdadeira pregação do mandamento do amor.
Elas valem e mudam o mundo!
E por falar em família e ternura, o papa Francisco, fez justamente um
apelo a um caminho diferente daquele que muitas vezes se percorre no
mundo: “Lembremo-nos de que o ódio, a inveja, o orgulho sujam a vida;
então guardar quer dizer vigiar sobre os nossos sentimentos, o nosso
coração, porque é dele que saem as boas ou as más intenções, aquelas que
edificam e as que destroem... Cuidar, guardar requer bondade, requer
ser praticado com ternura... Não devemos ter medo da bondade, da
ternura!” (Cf. Homilia do dia 19 de Março de 2013, Solenidade de São
José). É jeito de Céu, é o mandamento do Amor!
CNBB, 09-05-2015.
*Dom Alberto Taveira Corrêa é arcebispo de Belém do Pará (PA).
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