Por Joan Antoni Mateo
Uma reflexão sobre a necessidade de recuperar a conexão entre fé e verdade
Pergunta
Eu gostaria que me explicassem uma frase pronunciada há alguns dias pelo Papa Francisco, na qual ele dizia que "a alegria vem da fé, não da fria doutrina". Na infância, durante a catequese de preparação para a 1ª Comunhão, aprendi a "doutrina" sobre o que um cristão deve crer e viver. Não entendo por que o Papa separa a fé da doutrina, pois, se cremos, eu acho, cremos em algo, em uma doutrina, uma verdade...
Resposta
Entendemos por "fé" a doutrina assimilada e vivida, a doutrina fundamental, que não é outra coisa a não ser as palavras e ensinamentos de Jesus, cujas palavras são "espírito e vida". A fé e a doutrina da fé são inseparáveis. Em algum momento da vida, podem, de maneira provisória, estar separadas, mas sempre com a tendência a encontrar-se em uma mesma pessoa, o fiel cristão.
Explico: uma criança pequena, recém-batizada, recebe, de fato, o dom da fé como virtude teologal, ainda que não esteja ainda capacitada para professá-la, já que a Igreja faz isso em seu nome enquanto é criança; mas não há dúvida de que essa fé incipiente deva conformar-se com o conhecimento e adesão pessoal à doutrina da fé.
Você afirma que, "se cremos, cremos em algo, em uma doutrina". Isso é parcialmente verdadeiro. Nós cremos, em primeiro lugar, em Alguém cuja autoridade reconhecemos e em quem colocamos nossa confiança.
A fé é, em primeiro lugar, resposta a Deus, que vem ao nosso encontro e se dá a conhecer a nós. Lembre-se que o símbolo da fé começa dizendo "Creio em Deus...", e não simplesmente "Creio que Deus existe...".
É igualmente importante que esta adesão a Deus e à sua autoridade exija aceitar como verdade aquilo que Deus nos revela. A fé não pode se separar da verdade.
O Papa Francisco ensina na Lumen fidei: "O homem precisa de conhecimento, precisa de verdade, porque sem ela não se mantém de pé, não caminha. Sem verdade, a fé não salva, não torna seguros os nossos passos. Seria uma linda fábula, a projeção dos nossos desejos de felicidade, algo que nos satisfaz só na medida em que nos quisermos iludir; ou então reduzir-se-ia a um sentimento bom que consola e afaga, mas permanece sujeito às nossas mudanças de ânimo, à variação dos tempos, incapaz de sustentar um caminho constante na vida. (...) Lembrar esta ligação da fé com a verdade é hoje mais necessário do que nunca, precisamente por causa da crise de verdade em que vivemos" (n. 24-25).
Se não acreditamos ou não vivemos a doutrina, ela não alegra nem salva.
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