[domtotal]
Sobre o tema, deveria-se ter a coragem de dar liberdade de experimentação a cada Bispo.
Por Damiano Migliorini
Entre os numerosos temas que o Sínodo sobre a Família se propõe
enfrentar, dissolvendo os nós pastorais mais urgentes, está, como é
sabido, aquele da homossexualidade. São igualmente conhecidas as
divergências que se manifestaram entre os padres sinodais, as
respectivas declarações, as votações e a síntese final. No todo, se pode
e se deve perguntar, para não iludir-se, qual poderá ser o resultado de
tal debate, pelo menos sobre esta temática.
O papa Francisco já sublinhou: não estão no horizonte novidades
doutrinais, mas serão propostas das linhas pastorais para as famílias e
as comunidades em cujo interior possa encontrar-se uma pessoa
homossexual. É difícil compreender como novidades pastorais possam ser
de todo a-teóricas – que, portanto, não impliquem uma modificação de
alguns nós doutrinais – mas confiamos na criatividade dos nossos
pastores e na sabedoria doado pelo Espírito que sempre nos surpreende.
Uma difícil atualização doutrinal
Todavia, isto já deveria ser suficiente para redimensionar as muitas
esperanças que havia suscitado este Sínodo – sobretudo após a "Relatio
post disceptationem" – na Igreja de base, nos cristãos homossexuais e
também no subscrito, que se dirigira aos bispos propondo algumas
atualizações doutrinais em linha com o Magistério e novas soluções
práticas (com Beatrice Brogliato, O amor homossexual. Ensaios de
psicanálise, teologia e pastoral. Em diálogo por uma nova síntese,
Cittadella 2014).
Não devemos, todavia, deixar de crer que algo ainda se poderá
demover: a necessidade de renovação está se fazendo sentir de modo forte
e claro, e ainda estou convencido – com os dados que refiro em detalhes
no próprio livro, coletados nas paróquias de minha pequena Vicenza, que
indicam que 88,1% dos jovens e 58% dos adultos percebem positivamente
as relações entre pessoas do mesmo sexo – que a Igreja esteja pronta
para uma mudança de passo substancial.
Numa análise pragmática, todavia, pesam as dinâmicas que emergiram no
interior do próprio Sínodo: a discussão se focalizou sobre o tema da
comunhão aos divorciados redesposados, e parece que seja esta a
principal questão sobre a qual os Bispos estejam jogando sua partida. O
papado de Francisco está, ademais, pleno de uma tempestade jamais vista,
com ataques diretos e pouco dignos. Da gestão do Sínodo aos gestos
ecumênicos, às homilias, à própria eleição, às viagens, à renovação do
colégio episcopal: não há ação do Papa, hoje, sobre a qual certa parte
do mundo cultural italiano não esteja apontando o dedo.
O que tem a ver tudo isto com a questão homossexual? Infelizmente é
bastante intuitivo compreendê-lo: em meio a tal tempestade é improvável
que o Papa Francisco e o Sínodo – admitindo, por hipótese, que haja
entre ambas as partes a vontade real – possam trazer contemporaneamente
substanciais atualizações doutrinais sobre muitos temas. Criar-se-ia uma
rachadura profunda, talvez até um cisma. Alguns expoentes da Cúria, de
resto, apontaram veladamente, como admoestação, para esta eventualidade.
No máximo, portanto, poder-se-ão dar pequenos passos em frente sobre a
questão da comunhão aos divorciados redesposados. A sensação, portanto,
é que os outros temas serão inevitavelmente sacrificados. Para o tema
‘homossexualidade’, colocado no meio de um caldeirão de enormes
problemas, é ainda demasiado cedo. Salvo que não seja a Igreja de base –
ou algum Bispo – a fazê-lo retornar ao centro, junto aos outros, talvez
através de novos questionários (embora seja demasiado evidente que sua
formulação, repleta de tecnicismos e redundâncias, torne realmente
difícil a participação de um grande número de fiéis), evitando que, no
final, se repitam as costumeiras fórmulas doutrinais, que infelizmente
já encontramos também no Instrumentum Laboris, onde se dedica em geral à
questão homossexual um inusitado espaço e uma articulada reflexão (que
todavia não se reencontra na subsequente Relatio Synodi).
Um novo método
Mas, ainda é demasiado cedo também com respeito à possibilidade real
de uma acolhida positiva das pessoas homossexuais. Embora os estudos
disciplinares existam agora e estejam maduros – oferecemos deles uma
síntese no nosso último trabalho – a consciência dos nossos Bispos
parece ainda tímida no tirar deles as conclusões (vejam-se os números
nas votações do Sínodo, os quais revelam claramente as relações de
força). Não se pode, todavia, não reconhecer ao Papa Francisco que o
método com o qual impostou a discussão sinodal, e a liberdade de
expressão concedida aos bispos e aos fiéis, sejam uma novidade que
marcará a passagem na história da Igreja. Mas, como todas as revoluções
de método, esta dará os seus frutos – e chegarão, estou disso
profundamente convencido – somente num longo período, quando o método
começará a permitir modificações também nos conteúdos. A história do
pensamento, sob este ponto de vista, é confortadora: novos métodos
permitiram com frequência a criação de novas teorias e a liberdade de
discussão sobre o desconhecido permitiu frequentemente o aproximar-se
mais da verdade.
Tendo presentes todas estas considerações seria, então, ideal que
este Sínodo “suspendesse” o juízo sobre a situação de quem vive uma
relação de amor com uma pessoa do mesmo sexo, dando-se conta da
incerteza científica, teológica, exegética e pastoral referente a tal
questão, deixando à Igreja um período antes longo de experimentação de
novas concepções teológicas e inovadoras soluções pastorais. Realmente
livre: cada Conferência Episcopal, seguindo as indicações provenientes
da sociedade e da cultura nas quais atua. Sem cansar-se de indicar, no
amor recíproco e oblativo, feito de empenho e dom, o ideal no qual
qualquer relação humana deve inspirar-se.
A verdadeira síntese só poderá ocorrer num futuro Sínodo, dentro de
uns vinte anos pelo menos, quando a Igreja terá amadurecido uma
“experiência” mais ampla (feita de estudos e de pastoral) e não
condicionada por posições precedentes. Por ora, é demasiado cedo: para
não enrijecer ainda mais a situação doutrinal-pastoral com novos números
de uma exortação pós-sinodal – que na tempestade atual só poderia
repropor as aporias de todos os documentos do magistério em matéria de
homossexualidade – este Sínodo deveria ter a coragem de transferir a
decisão e dar liberdade de experimentação a cada Bispo. Isso poderia ser
uma solução que não desagrada a ninguém e que daria uma belíssima
imagem de nossa Igreja. Para esta liberdade não, realmente não é
demasiado cedo.
Sentir-se em casa
Na espera de um futuro Sínodo – mais específico e menos turbulento – a
assembleia deste ano poderia, além disso, tomar finalmente distância
das ilusórias e a-científicas “terapias reparadoras” e confirmar com
força o convite à acolhida positiva das pessoas homossexuais, também lá
onde a homossexualidade da pessoa seja manifesta, ou a pessoa viva numa
relação homossexual notória. Isto poderia contribuir para desfazer a
espiral de violência na qual a Europa está novamente se envolvendo nos
últimos anos. São posições pastorais praticáveis. Os homossexuais são
ainda das periferias, como os ciganos e os imigrantes; são periferias
muito próximas, porque são os nossos amigos, os nossos Filhos, os nossos
seminaristas. Começar a fazer que se sintam em casa poderia, portanto,
ser um passo fundamental.
Rocca, 10-05-2015.
*A tradução de Benno Dischinger.
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