Por Jacopo de Varazze
Legenda Áurea é uma reunião de biografias de santos escritas no
século XIII com a intenção de difundir valores morais edificantes e
arregimentar um maior número de fiéis para a Igreja Católica. O objetivo
imediato do autor era fornecer aos frades material para elaboração de sermões,
de modo a proporcionar uma pregação mais eficiente. A coletânea conheceu enorme
sucesso na Idade Média e se tornou referência nos estudos religiosos.
Ao selecionar vasto material erudito e popular, Jacopo de
Varazze conta a trajetória dos santos de forma envolvente - tendo em vista os
que ouviam a pregação - e também eficiente do ponto de vista teológico. Nos
relatos, o autor combina simbologia e história, teologia e mitologia. Na
história de Santo Antônio, por exemplo, Varazze narra o encontro do santo com
personagens pagãos, como um centauro e um sátiro. Ao falar de São Julião e de
Judas, compara-os a Édipo.
O enfrentamento entre romanos e cristãos é freqüente nas
narrativas e manifesta de forma palpável o eterno conflito entre o Mal e o Bem.
A própria vida cotidiana era, na época, entendida como um combate incessante
pela salvação espiritual. A ascese da vida religiosa, feita de jejuns,
penitências e privações, também pode ser compreendida por essa crença. Em
Legenda áurea, conta-se que, para aplacar o apetite sexual, São Bento jogou-se
sobre moitas espinhosas e São Francisco cobriu de neve o corpo nu.
Até o final do século XV, Legenda áurea era uma obra de enorme popularidade e, durante anos, foi mais editada do que a própria Bíblia. Hoje, são conhecidos quase 1100 manuscritos do texto. O autor da obra nasceu em 1226 na pequena cidade de Varazze, próxima a Gênova, e chegou a arcebispo, nomeado pelo papa Nicolau IV. Jacopo de Varazze morreu em 1298, reconhecido pelos seus pares e admirado por seus conterrâneos.
Uma praça pública de alguma cidade italiana,
em 1267. Um frade mendicante faz seu sermão e conta:
Um homem havia tomado emprestado de um judeu certa soma de dinheiro, e na falta de outra garantia jurara sobre o altar de São Nicolau que a devolveria assim que pudesse. Muito tempo depois o judeu reclamou o dinheiro, mas o devedor alegou que já havia pago a dívida. O judeu levou-o a juízo e exigiu que afirmasse sob juramento que havia devolvido o dinheiro. Como se precisasse de apoio para andar, o homem ali compareceu com uma bengala, que era oca e que ele havia enchido de moedas de ouro. Quando foi prestar juramento, pediu que o judeu a segurasse e jurou ter restituído mais do que havia recebido. Após o juramento, reclamou a bengala de volta e o judeu, que não suspeitava da artimanha, devolveu-a. No caminho de volta para casa, o culpado sentiu um sono repentino, adormeceu num cruzamento e uma carroça que vinha em velocidade matou-o, quebrou a bengala, e o ouro que a enchia espalhou-se pelo chão. Avisado, o judeu acorreu ao local e entendeu a artimanha de que havia sido vítima. Tendo alguém sugerido que pegasse seu ouro, recusou taxativamente, a não ser que o morto voltasse à vida pelos méritos do bem-aventurado Nicolau, acrescentando que se tal acontecesse ele receberia o batismo e se tornaria cristão. Incontinente, o morto ressuscitou e o judeu foi batizado em nome de Cristo. [capítulo 3, item 8]
Até o final do século XV, Legenda áurea era uma obra de enorme popularidade e, durante anos, foi mais editada do que a própria Bíblia. Hoje, são conhecidos quase 1100 manuscritos do texto. O autor da obra nasceu em 1226 na pequena cidade de Varazze, próxima a Gênova, e chegou a arcebispo, nomeado pelo papa Nicolau IV. Jacopo de Varazze morreu em 1298, reconhecido pelos seus pares e admirado por seus conterrâneos.
APRESENTAÇÃO
Um homem havia tomado emprestado de um judeu certa soma de dinheiro, e na falta de outra garantia jurara sobre o altar de São Nicolau que a devolveria assim que pudesse. Muito tempo depois o judeu reclamou o dinheiro, mas o devedor alegou que já havia pago a dívida. O judeu levou-o a juízo e exigiu que afirmasse sob juramento que havia devolvido o dinheiro. Como se precisasse de apoio para andar, o homem ali compareceu com uma bengala, que era oca e que ele havia enchido de moedas de ouro. Quando foi prestar juramento, pediu que o judeu a segurasse e jurou ter restituído mais do que havia recebido. Após o juramento, reclamou a bengala de volta e o judeu, que não suspeitava da artimanha, devolveu-a. No caminho de volta para casa, o culpado sentiu um sono repentino, adormeceu num cruzamento e uma carroça que vinha em velocidade matou-o, quebrou a bengala, e o ouro que a enchia espalhou-se pelo chão. Avisado, o judeu acorreu ao local e entendeu a artimanha de que havia sido vítima. Tendo alguém sugerido que pegasse seu ouro, recusou taxativamente, a não ser que o morto voltasse à vida pelos méritos do bem-aventurado Nicolau, acrescentando que se tal acontecesse ele receberia o batismo e se tornaria cristão. Incontinente, o morto ressuscitou e o judeu foi batizado em nome de Cristo. [capítulo 3, item 8]
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