[domtotal]
Esta ausência nos está dizendo aos gritos que a religião anda desorientada, perdida.
Por José María Castillo*
Chama a atenção o fato de que, neste momento – quando em nosso país
[Espanha] estão sendo decididas coisas tão importantes para tanta gente
–, a religião esteja tão ausente. Ao menos, pelo que se diz e se ouve, a
impressão que se pode ter (e é inevitável) é que não se tem em conta o
tema da religião.
Não se ouve os bispos falarem em público sobre este assunto. Os
políticos, quando fazem alusão ao tema é para referir-se aos acordos do
Estado com o Vaticano, para dizer que aborto sim, aborto não, ou em
outros casos (em minoria) para elogiar ou atacar os homossexuais e suas
pretensões. Já sei que tudo isso pode e deve ser mais matizado. Mas, em
todo o caso, o que está acontecendo com a religião para que esteja tão
ausente do que está acontecendo em nossa sociedade?
Como é lógico, não é este o lugar nem o momento para dar-se ao
trabalho de escrever uma análise aprofundada sobre um assunto tão
complexo. Mas há uma coisa (pelo menos uma) em relação à qual não posso
me calar. Esta ausência chocante, este silêncio, da religião na Espanha
(e na Europa), quando estão sendo tomadas decisões que serão
determinantes, para o bem ou para o mal e talvez para muitos anos, nos
está dizendo aos gritos que a religião anda desorientada, perdida, na
sociedade espanhola. Muitas coisas podem ser discutidas no que se refere
ao que acabo de dizer. Mas há algo que está fora de dúvida.
A religião dá uma importância maior aos seus ritos e às suas normas
do que à ética proposta pelo Evangelho. Seguramente, em teoria, haverá
muita gente que não está de acordo com o que acabo de dizer. Mas, aqui
não estou falando das teorias que cada qual tenha ou possa ter.
Aqui estou falando do que estamos vivendo, do que acontece e daquilo
que todos estão vendo. A verdade é que, excetuando-se o caso exemplar do
Papa Francisco (e mais alguns clérigos), sem poder remediá-lo, temos a
sensação de que o espantoso tema da corrupção econômica e política, que
nos atropela e nos oprime, parece não preocupar muito os “homens da
religião”.
Não é este um dos fenômenos mais graves que estamos enfrentando? Não
chegou a hora de dizer aos profissionais da religião que a coisa mais
essencial na vida – e, portanto, na própria religião – não são os
rituais e as cerimônias, mas a ética da honestidade, a decência e a
honradez?
Religión Digital, 14-06-2015.
*José María Castillo: teólogo espanhol.
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