[g1]
Francisco disse que principal caso para separação é violência doméstica. Igreja mantém debates sobre como encarar as famílias contemporâneas.
Papa admite a necessidade da separação do casal em alguns casos (Foto: Filippo Monteforte/AFP)
O Papa Francisco reconheceu nesta quarta-feira (24) que a separação do
casal em alguns casos é inevitável e até "moralmente necessária",
principalmente quando reina a violência no lar, em uma clara mensagem de
abertura ante os desafios da família moderna.
"Existem casos em que a separação é inevitável, inclusive moralmente
necessária, para tirar os filhos da violência e da exploração e até da
indiferença e estranhamento", afirmou o Papa ante milhares de peregrinos
reunidos na audiência-geral de quarta-feira na praça de São Pedro.
"Peçamos ao Senhor uma grande fé para ver a realidade com o olhar do Senhor", enfatizou.
A mensagem do Papa foi lançada um dia depois da apresentação no
Vaticano do documento que guiará em outubro o sínodo dos bispos de todo o
mundo dedicado à família e no qual propõe "acompanhar os divorciados e
as famílias com filhos gays".
O Papa falou das "feridas profundas" que provoca a separação aos filos e rejeitou o termo "casais irregulares".
"Não estaremos anestesiados em relação às feridas da alma dos filhos?
Quando mais se tenta compensar com presentes, mais se perde o sentido
das feridas da alma", afirmou.
"Como acompanhar os casais em dificuldades?", questionou ainda.
A reflexão faz parte dos intensos debates que os bispos mantêm há mais
de um ano sobre como encarar os desafios das famílias contemporâneas, em
particular a delicada questão de autorizar a comunhão para os
divorciados que voltaram a casar, argumento que gera divisões.
A Santa Sé revelou que conseguiu um "acordo comum" para propor um
"caminho penitencial", sob a autoridade dos bispos, para reintegrar à
Igreja católica os divorciados que voltaram a se casar, algo que foi
considerado um sinal de abertura.
Vento
tira a mitra da cabeça do Papa Francisco na chegada à audiência geral
desta quarta-feira (24) na Praça de São Pedro, no Vaticano (Foto: Tony
Gentile/Reuters)
Sinais de abertura
O Vaticano reafirmou claramente na terça-feira a indissolubilidade do
casamento, mas abrindo caminho para a reflexão e encorajando os casais
casados civilmente a dizer sim na Igreja, no documento de trabalho do
sínodo.
Este "instrumentum laboris" de 147 artículos, apresentado terça-feira à
imprensa, aparece como uma síntese entre a abertura prudente de alguns
prelados ocidentais sobre os divorciados, os homossexuais, as uniões
civis, e a reafirmação da doutrina do casamento indissolúvel entre um
homem e uma mulher.
Ele reflete o profundo embaraço da Igreja, dividida entre
conservadores, especialmente nos países do sul, contra qualquer mudança,
e uma linha mais moderna, ansiosa por aberturas reais.
Toda relação final do primeiro sínodo de outubro de 2014, incluindo
três parágrafos contestados que não atingiram a maioria de dois terços
(sobre os divorciados e os homossexuais), foi retomada e enriquecida com
uma reflexão sobre centenas de respostas fornecidas pelas dioceses a um
questionário enviado por Roma.
Sob condições muito estritas, "um caminho penitencial" poderia permitir
divorciados que voltaram a se casar civilmente a receber a Comunhão.
O documento refere-se a um "consenso" em torno deste "caminho" para os
divorciados cujo primeiro casamento seria reconhecido como inválido e
que já estariam envolvidos em uma "relação irreversível".
Um "amplo consenso" também parece incidir sobre um melhor acesso aos
procedimentos de invalidação matrimonial, "eventualmente gratuito",
enquanto o processo atual é pago e extremamente complexo.
O documento também observa o aumento da coabitação e dos casamentos
civis: "é desejável promover caminhos para que as pessoas que coabitam
ou que sejam casadas no civil possam chegar ao casamento religioso.".
O documento menciona brevemente os homossexuais, citando "projetos de
acompanhamento pastoral" para a sua integração na Igreja. "Mas não há
base para estabelecer analogias entre as uniões homossexuais e o plano
de Deus para o casamento e a família", reafirma o documento.
"Sobre o casamento, entendemos como o casamento entre um homem e uma
mulher", realidade "distinta" das uniões homossexuais, salientou o
relator geral do sínodo, o bispo italiano Bruno Forte.
No entanto, a Igreja tem o "desafio pastoral" de garantir "que ninguém,
incluindo os homossexuais, ninguém se sinta excluído", acrescentou o
prelado.
O secretário-geral do sínodo, o cardeal Lorenzo Baldisseri, se declarou
contra a "confusão" contemporânea sobre o conceito de família, citando o
papa Francisco para argumentar que "a supressão da diferença (entre
homens e mulheres) é o problema, não a solução".
A posição conservadora dos prelados africanos é visível em um parágrafo
de texto, considerando qualquer pressão "inaceitável" e denunciando a
pressão de organismos internacionais, que "condicionam a ajuda
financeira aos países pobres à introdução de leis que instituem o
casamento entre pessoas do mesmo sexo".
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Só será aceito comentário que esteja de acordo com o artigo publicado.