segunda-feira, 13 de julho de 2015

Catequese com Adultos: As propriedades essenciais da Igreja (II)

A Igreja é uma unidade de princípios alimentados por uma unidade na verdade.

 

Brasilia, (ZENIT.org)
José Barbosa de Miranda


Iniciamos, no artigo anterior, uma série de reflexões sobre a Igreja e seu mistério. Nele apresentamos uma síntese das propriedades essenciais da Igreja. Neste artigo veremos a sua primeira propriedade: A IGREJA É UNA. Apresentaremos seus fundamentos bíblicos e uma pequena reflexão teológica da unidade.
UMA REFLEXÃO TEOLÓGICA
A Mysterium Salutis faz uma síntese dessa reflexão, a partir da escatologia, que é o sentido da Igreja como fundamento de sua missão cristológica. Esta síntese é, na verdade, o resumo da definição da Igreja: “A Igreja só pode ser retamente compreendida a partir da escatologia, isto é, começando pelo ponto a que deve chegar ao realizar-se em total perfeição. O estado da perfeição da Igreja é-nos conhecido graças à Escritura: ‘Eis aqui a mansão de Deus com os homens’ – trata-se de uma cidade santa, a nova Jerusalém, formosa como uma jovem desposada ornada para seu esposo. – Ele terá sua mansão com eles; eles serão seu povo, e ele, Deus com eles, será seu Deus’ (Ap 21,2-3). Neste texto está reunida a maior parte das imagens ou das noções de se serve a revelação para apresentar a Igreja: mansão (que compreende as idéias de edificação e de templo santo), cidade, Jerusalém, esposa, povo de Deus. A estas seria necessário acrescentar as da vinha ou plantação de Deus, família, rebanho e, sobretudo a do Corpo (de Cristo). Convém anotar que nestas diversas expressões e no seu uso bíblico o que se salienta principalmente é Deus, termo soberano de referência cuja unidade e unicidade se comunica à casa ou templo que habita, à cidade da qual é o príncipe e o princípio, à esposa da qual é o esposo e ao povo que ele chama à existência e se consagra para si criando desta forma sua unidade. Em última análise, a Igreja é una e única porque Deus é uno e único em si mesmo”[1].
Como criação divina, a Igreja é a morada de Deus que reúne seu povo, ou seja, um único e indiviso templo. A Igreja respeita e guarda a vontade do Pai trabalhando incessantemente para realizar a vontade do seu fundador: “Que todos sejam um. Como tu, Pai, estás em mim e eu em ti”[2]. Desde seu início, seguindo a tradição apostólica, a Igreja se mantem nas formas de unidade na fé, na vida social, no culto e nos sacramentos[3].

UNIDADE NA FÉ

Os Padres escolásticos definem a Igreja como uma congregatio fidelium (reunião na mesma fé). Reunião ou corpo, designando uma multidão de pessoas dotadas de inteligência, congregadas pelo mesmo princípio de vida comum a todos para compor uma unidade de princípios e alimentados por uma unidade na verdade. A fé é uma realidade sobre a qual se realiza a aliança entre Deus e nós, um intercâmbio de fidelidade entre esponsais que se entrelaçam, rompendo infidelidades para reatar alianças duradouras, quebrando fantasias efêmeras: “Pois eu serei como o orvalho para Israel, ele florescerá como o lírio, lançará suas raízes como o cedro do Líbano, seus galhos se espalharão, seu esplendor será como o da oliveira e seu perfume como o do Líbano”[4]. A fé é fundamental e essencial para a unidade, é o primeiro princípio de comunhão entre pessoas, por isso a fé é o princípio externo da unidade. A fé caracteriza a universalidade na missão ouvida e vivida no mandato de Cristo[5].

NA VIDA SOCIAL

O Corpo eclesial compõe-se de uma comunidade interligada pelo amor, mesmo objetivo, uma única vontade. A ideia do bem comum constrói o que denominamos de convergência da mesma fé que vive no mesmo princípio e na vontade do seu Chefe. Esse princípio é uma proposição a todos os membros que, formados pelo mesmo desejo e de livre vontade, se dispõem a seguir os fundamentos essenciais da Igreja, a exemplo do Deus vivo e tripessoal. O Deus que é Pai, que é Espírito, que é Filho – vida social – opera em nós o querer e o fazer, difundindo em nossos corações o amor e distribui para cada um os diversos dons para utilidade e construção de todo o corpo eclesial. Nesta vida social predomina a diakonia, serviço, ou especificamente ministérios, como São Paulo os enumera[6]. Nesta unidade de caráter social predomina a caridade-comunhão ou comunicação do amor, o mesmo bem absoluto que abarca a anima todos aqueles que estão animados pela unidade vital de todo o corpo. Na medida em que o amor é comunicado pelo mesmo Espírito Santo e pelo próprio Cristo, a unidade pelo objeto vê-se reforçado pela unidade do sujeito, desta forma, entre os membros do Corpo de Cristo realiza-se uma comunidade de vida semelhante a que existe no corpo humano, formando o corpo místico. Assim,  no corpo social da Igreja, existe uma verdadeira comunicação, cada um atuando com o outro e dentro dos seus limites hierárquicos. É a sintonia de funções harmônicas compondo o templo eclesial.  

UNIDADE NO CULTO

Todo o culto está voltado para a unidade que se expressa a mesma fé. Nele está a manifestação de um corpo unido por gestos, símbolos e expressões comunitárias forjadas na mesma consciência e sensibilidade, alimentando a comunhão de um único Corpo. A liturgia espelha essa unidade pelos sacramentos. Essa unidade opera uma integração no mesmo Corpo. A Tradição viu e fazemos memória, de forma uníssona,  da água e do sangue que saíram do lado de Cristo traspassado pela lança, a forma sacramental que prolongamos na celebração cultual, pelos sacramentos. O que sobressai nessa unidade de culto é a Eucaristia. A tradição sustenta que a Eucaristia é o sacramento da unidade e seu efeito espiritual é a unidade do corpo místico. O simbolismo dos sacramentos corresponde aos efeitos gratuitos que são dispensados, a sua eficácia. Na Eucaristia o sinal consiste numa comida, numa nutrição. Pela conversão do pão em Corpo, do vinho em Sangue, a comida e a bebida é o próprio Verbo de Deus, alimento celestial. Somos incorporados  numa comunhão divinizadora, pois na Eucaristia o cristão fica ligado a Cristo e à sua paixão em função da sua eficácia, por isso o culto expressa a mesma confirmando a Igreja Una.


[1] Mysterium Salutis, vol. IV/3 – A Igreja, p.14. Vozes 1976
[2] Cf. Jo 17, 21
[3] At 2,42
[4] Os 14, 6
[5] Cf. Mt 28, 19-20
[6] Cf. 1Cor 12,4-5

Nenhum comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...