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Jesus esteve com seu povo, conviveu, falou-lhe e, no entanto, não foi reconhecido pelos seus.
Por Dom Francisco de Assis Dantas de Lucena*
Jesus em Nazaré é rejeitado onde nascera e residia com sua família
(cf. Mc 6,1-6): “Esse homem não é o carpinteiro?” As pessoas ficaram
escandalizadas por causa dele. Assim, cumpre-se a Escritura: "Veio para o
que era seu e os seus não o receberam" (Jo 1,11). A falta de fé foi tão
grande, a dureza de coração, tão intensa, que "ali não pôde fazer
milagre algum!".
A Palavra de Deus nos faz uma grande advertência. Jesus esteve no
meio do seu povo, conviveu com ele, falou-lhe e, no entanto, não foi
reconhecido pelos seus. Por quê? Pela dureza de coração, pelo fechamento
em si mesmo. Nós somos capazes de acolher Jesus que nos vem? Escutamos
com fé sua Palavra, quando ele se dirige a nós na Bíblia, aquecendo
nosso coração? Acolhemo-lo na fé, quando ele se nos dirige pela boca da
sua Igreja católica, ensinando-nos o caminho da vida. Por que Jesus não
foi reconhecido como Messias? Porque o Senhor não era um messias do
jeito que os nazarenos esperavam: um simples fazedor de milagres ou um
resolvedor de problemas. Jesus, pobre, manso, humilde, era também
exigente e pedia do povo a conversão de coração. Os nazarenos foram
incapazes de ver além das aparências. Enxergaram em Jesus somente o
filho de José, o carpinteiro. E, nós, conseguimos olhar para Jesus e
vê-lo além das aparências? Somos capazes de escutá-lo na voz dos
legítimos ministros de Cristo a própria voz do Senhor? Somos capazes de
ouvir na voz da mãe Igreja a voz de Cristo?
O Evangelho de Cristo é proclamado não somente pela palavra do
pregador, mas também pela carne de sua vida. Como anunciar o Crucificado
que ressuscitou, sem participar da sua cruz na esperança firme da sua
ressurreição? O Evangelho não é uma teoria. O Evangelho é Cristo Jesus
presente na nossa vida, de modo que possamos dizer como São Paulo: "Eu
trago no meu corpo as marcas de Jesus" (Gl 6,17). Triste do pregador que
pensar em anunciar Jesus conservando-se para si mesmo. Toda a vida do
pregador deve ser envolvida no anúncio: seu modo de viver, de agir, de
vestir, de relacionar-se com os bens materiais, sua vida afetiva, seu
modo de divertir-se, seu tipo de amizade. Tudo nele dever ser
comprometido com o Senhor.
Hoje, Jesus continua a ser rejeitado, assim como aqueles que ele
envia em missão. O mundo distante de Deus, secularizado, zomba de todos e
já não crê no anúncio de Cristo que lhe é feito. Quem procura viver e
testemunhar fielmente o Evangelho, quem participa da Igreja, muitas
vezes, sofre incompreensões entre familiares, colegas de trabalho ou de
estudo, dentre outros. Contudo, nessas ocasiões, faz a experiência da
força do amor de Deus que nos acompanha e sustenta.
Quando experimentarmos a frieza e a dura rejeição, quando formos
ignorados ou ridicularizados por sermos de Cristo, recordemos do
Evangelho de hoje. Não tenhamos medo. São muitos os cristãos perseguidos
no mundo de hoje, que continuam a ser rejeitados e mortos pela fé em
Cristo. Pouco tem sido feito para assegurar o direito à liberdade
religiosa onde perdura essa triste realidade.
Entre nós, reine a fidelidade ao Evangelho e o fraterno respeito a
todos. Jamais seja alimentado qualquer tipo de forma de violência. Hoje,
Jesus Cristo continua a ser rejeitado, assim como aqueles que ele envia
em missão. Sejamos fiéis a Jesus de Nazaré.
CNBB 06-07-2015
*Dom Francisco de Assis Dantas de Lucena é bispo de Guarabira (PB).
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