sábado, 18 de julho de 2015

Padre Lemaître e o Big Bang

[aleteia]
Alexandre Zabot 

Poucos sabem, mas foi um padre quem propôs a teoria do Big Bang, que é reconhecida pela Igreja.



Poucos sabem, mas foi um padre, Georges Lemaître (1894-1966), quem propôs a teoria do Big Bang.
Em 1927, baseando-se em cálculos com a então recente teoria da relatividade geral, o jesuíta belga enfrentou Einstein e a comunidade científica da época para propor seu modelo cosmológico. É lamentável que alguns cristãos combatam a teoria do Big Bang como se fosse contrária ao relato metafórico do Gênesis, até porque a exegese católica não vê problemas de incompatibilidade entre o Big Bang e o relato bíblico.

O termo Big Bang vem do inglês e significa, ao pé da letra, “grande bum”. Foi criado pelo astrofísico Fred Hoyle, que acreditava no universo estacionário, para ridicularizar a teoria. Acabou dando-lhe o nome. O primeiro a vislumbrar teoricamente a expansão do universo foi o russo Alexander Friedman, mas ele morreu logo em seguida; além disto, o seu trabalho era essencialmente matemático, não físico. Foi o trabalho desenvolvido independentemente pelo padre Lemaître que ganhou destaque. A teoria prevê que o universo surgiu da explosão de um átomo primordial, infinitamente pequeno, quente e denso. Os físicos acreditam que antes do Big Bang não faz sentido falar da noção de tempo nem de espaço. Depois dele, o cronômetro começou a correr e o universo a se expandir, crescendo sempre e sempre.
Lemaître teve muita audácia para divulgar seu modelo. A comunidade científica no início do século XX acreditava num universo estacionário, ou seja, parado e sempre do mesmo tamanho, conforme o modelo cosmológico newtoniano. O próprio Einstein acreditava nisso e diminuiu o trabalho de Lemaître dizendo que “seus cálculos estão corretos, mas seu conhecimento de física é abominável”. Entretanto, em 1929, o astrofísico americano Edwin Hubble provou observacionalmente que as galáxias estavam todas se afastando umas das outras: exatamente como o jesuíta havia previsto, por meios teóricos, apenas dois anos antes. Esta prova era contundente e o físico alemão voltou atrás. Einstein e Lemaître proferiram várias palestras juntos e, numa delas, de pé depois de aplaudir, Einstein disse que aquela era “a mais bela e satisfatória explicação da criação” que ele já ouvira. Tendo sua contribuição amplamente reconhecida, Lemaître foi homenageado por muitos órgãos científicos e por vários cientistas de renome. Mais do que isso: em 1936, o próprio papa Pio XI o indicou para a Pontifícia Academia de Ciências. Em 1960, ele recebeu do papa João XXIII o título de Monsenhor.
Hoje em dia, além da confirmação das observações de Hubble do afastamento das galáxias, há muitas outras provas diretas e indiretas da expansão do universo. As mais importantes são a radiação cósmica de fundo, a quantidade de hidrogênio e hélio detectáveis hoje e o acordo entre as idades das estrelas mais velhas e a prevista para o universo pelo Big Bang, de 14 bilhões de anos. Cientificamente, não há mais dúvidas quanto ao modelo do Big Bang: somente alguns detalhes ainda estão em debate, mas que de maneira alguma ameaçam a certeza da teoria quando vista em um panorama mais amplo.
Sob vários aspectos, não é compreensível que algumas pessoas se coloquem contra a teoria do Big Bang dizendo que ela contraria o relato do Gênesis. O reconhecimento pontifício recebido pelo padre Lemaître por causa de seu trabalho não é um atestado a favor da teoria. Entretanto, de certo modo, não pode deixar de ser entendido como uma aprovação do trabalho do jesuíta. Também a exegese moderna não lê no Gênesis um relato literal da criação, mas tampouco pode deixar-se levar pelas interpretações puramente materialistas. Estas, disfarçando-se de científicas, tentam confundir as pessoas argumentando que não há mais lugar para Deus na criação do mundo. Pelo contrário. Para o crente, fiel ao magistério da Igreja, há sempre um lugar privilegiado para Deus. Deve-se deixar sempre bem claro que a ciência explica o “como” (a teoria do Big Bang), mas não o “porquê” (Deus, para Sua glória e por causa de Seu amor).

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