Por Giblet - Hausherr
Thils - Truhlar
"Vida
cristã" e "vida cotidiana", parece ser o tema principal deste
livro. De bom grado esperamos, em imaginação, as grandes contingências da vida
para sermos corajosos e heróicos; deixamos passar, como que desprovidas de interesse,
as mil circunstâncias diárias e banais que escondem humildes, porém importantes
deveres. Temos que aprender a fazer o "grande" com as coisas pequeninas;
fazer de nossa vida uma comunhão contínua com Deus, através dos acontecimentos
sem história, através do cotidiano.
A vida cristã se escreve em prosa, não em
versos; é composta pelo ramerrão de nossas ocupações habituais. Mas devemos
lembrar-nos que existe uma vontade de Deus oculta no âmago dos acontecimentos mais
simples, e que Sua mão guia e conduz todas as coisas através do que chamamos
"uma série de circunstâncias". Raros são aqueles que acolhem a
vontade de Deus escondida nas parcelas do tempo presente, como nos fragmentos
da hóstia; que sabem conhecer e adorar uma vontade divina presente, totalmente presente,
em cada minúcia. Comungar com Deus, em toda a vida, significa, que o olhar da
fé nos conduz além das aparências e nos descobre Deus no cotidiano banal. Discípulos
de Jesus, somos todos encarregados de criar luz e irradiar em torno de nós,
alegria e calor. Para isso, porém, é preciso imaginação. Ninguém no mundo nos
traçará um caminho pré-fabricado. Tão somente poderão indicar-nos a direção e
incitarem- -nos a seguir até o fim o mandamento divino: "Amarás ao próximo
com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças".
Uma vez desperta a atenção, existem inúmeros pequeninos "nadas" aos
quais basta simplesmente pensar. "Há um mundo de virtudes amáveis",
escreveu alguém, mas tão discretas que escapam aos olhos. A caridade é feita de
tato, percebe os desejos dos outros, a expectativa de cada um. Lembremo-nos do
primeiro milagre de Jesus, em Caná. Nasceu de um gesto de Nossa Senhora que
adivinhou uma aflição. Se nos deixarmos invadir por essa caridade inventiva,
veremos produzir-se uma transformação em volta de nós. A caridade é uma força
revolucionária. "O que os outros esperam de nós, é o que Deus
espera", escreveu Bernanos. As
atitudes, ao mesmo tempo simples e grandes que acabamos de evocar, repousam em
fundamentos doutrinais firmes e garantidos: união da oração e da vida, interpenetração
da caridade e da ação, perfeição e presença ao mundo. Os Escritos inspirados, os
Padres, a Teologia oferecem-nos a substância e as riquezas dessa doutrina. Ao
recordá-la, em toda a sua amplidão e profundeza, os autores deste trabalho ajudarão,
consideravelmente, a todos os membros do povo de Deus, a fazer de sua
"vida cotidiana" uma "vida cristã" autêntica e fecunda.
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