Afinal, o que é que o Estado Islâmico realmente pretende?
Por Zelda Caldwell
12 fatos que o Ocidente ainda não entendeu – e corre grande perigo por não entender
Despertou furor um artigo publicado na atual edição da revista norte-americana The Atlantic: “What ISIS Really Wants” [“O que o Estado Islâmico realmente
quer”], escrito por Graeme Wood. Enquanto as fantasias ocidentais
reduzem o Estado Islâmico a um bando de psicopatas altamente
descontentes, o autor vai mais a fundo e o descreve como uma força
descomunal, alicerçada solidamente em uma mistura coesa de ideologia e
fé.
De acordo com Wood:
1. O Estado Islâmico e a Al-Qaeda estão muito longe de ser a mesma coisa.
O Estado Islâmico já eclipsou a Al-Qaeda e considera seus líderes
como apóstatas. É um grave erro ocidental o de não perceber a diferença
entre esses dois grupos, particularmente no tocante à sua forma de
interpretar o Alcorão.
2. O Estado Islâmico defende a estrita observância do Alcorão
e se proclama responsável pelo cumprimento das suas profecias
apocalípticas.
Os seguidores do grupo são muito bem doutrinados na fé e seguem a
lei islâmica ao pé da letra, o que inclui a “obrigação” de praticar
crucificações e amputações e de impor a escravidão.
3. O Estado Islâmico se considera um califado.
O grupo conseguiu cumprir o requisito de possuir um território
próprio: depois de ocupar a área ao redor de Mosul, no Iraque, eles têm
hoje um território tão grande quanto o do Reino Unido. Agora, os crentes
são obrigados a observar todas as leis da sharia. Em tese, isto implica
a imigração dos fiéis ao califado.
4. Os membros do Estado Islâmico acreditam que têm um papel a desempenhar no armagedom.
Para eles, está profetizado que haverá uma grande batalha contra
“Roma” em Dabiq, na Síria; que eles conseguirão saquear Istambul; e que
acontecerá um confronto final com um anti-Messias antes do retorno de
Jesus, no final dos tempos.
5. O atual foco do Estado Islâmico é a ofensiva jihadista de expansão.
Uma vez estabelecido, o califado deve expandir-se para territórios
não muçulmanos, conquistando novas terras pelo menos uma vez por ano.
Suas táticas – decapitações, crucificações e escravização de mulheres e
crianças – têm o objetivo de aterrorizar os inimigos e apressar o fim do
conflito.
6. Os Estados Unidos não foram capazes de reconhecer o abismo entre o Estado Islâmico e a Al-Qaeda.
O resultado mais imediato deste erro foi tentativa bizarra e falida
de libertar o refém norte-americano Peter Kassig. Os Estados Unidos
recrutaram um veterano da Al-Qaeda para interceder junto ao Estado
Islâmico em favor de Kassig. A ideia foi um fracasso e culminou na
decapitação do refém.
7. Território é um requisito essencial para a existência do Estado Islâmico.
Portanto, se eles perderem seu território, deixarão de ser um
califado – o que é um argumento tentador a favor de uma intervenção
estrangeira.
8. O Estado Islâmico deseja essa invasão!
Ela reforçaria os recrutamentos e a radicalização de muçulmanos em
todo o mundo – o que é um argumento muito forte contra a intervenção
estrangeira.
9. O Estado Islâmico pode se tornar vítima do próprio sucesso.
É questão de tempo até que a massa de crentes pobres e com altas
expectativas se veja diante da privação econômica, da frustração e da
redução do número de fiéis que migram para o califado. Mas o mais
provável é que esse tempo não chegue tão cedo.
10. Se a Al-Qaeda se aliar ao Estado Islâmico, será catastrófico.
É por isso que Wood considera tão imprudente a tentativa feita pelo
governo Obama de abrir canais de comunicação entre a Al-Qaeda e o Estado
Islâmico durante as negociações para libertar reféns.
11. A maioria dos muçulmanos não apoia o Estado Islâmico.
Alguns por serem "moderados" e desconfiarem de qualquer tipo de
devoção linha-dura (esses muçulmanos, aliás, são considerados apóstatas
pelo Estado Islâmico). Outros se opõem ao Estado Islâmico por motivos
conservadores e baseados nas escrituras, como é o caso de segmentos
salafistas que preferem abster-se do conflito com outros muçulmanos e
concentrar-se no aperfeiçoamento da própria vida pessoal.
12. A fé e a confiança do Estado Islâmico na própria missão divina transforma o grupo num inimigo formidável.
Eles promovem o armagedom prefaciado por uma guerra prolongada. E é
improvável, por isso mesmo, que se deixem comover por apelos aos seus
“interesses” não religiosos.
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