Nello Scavo, repórter internacional e cronista policial, fala sobre o seu último livro, publicado pela Piemme, no qual revela nomes e sobrenomes daqueles que são contra o Papa
Roma,
(ZENIT.org)
Por
Antonio Gaspari
O livro extraordinário de Nello Scavo “I nemici di Francesco” (Os
inimigos de Francisco) publicado pela Piemme, na Itália, é uma análise
precisa e detalhada daqueles que estão contra o Papa Francisco, dentro e
fora dos muros do Vaticano. A investigação foi feita com a experiência e
o ritmo de um repórter policial, como é Nello Scavo, explicando as
razões que unem as pessoas e grupos de poder que procuram de todas as
formas obstaculizar a revolução do Papa argentino. Escreve o autor na
última capa: “Bergoglio sabe. Algumas vezes falou em privado. Outras
vezes deixou entender em público. Dentro e fora da Igreja existem
obstáculos, resistências, lutas. As serpentes se escondem nos círculos
da Cúria e nos centros de poder internacionais. Sobre os opositores
internos já se escrevem páginas de crônicas e livros inteiros, mas
também a trincheira externa ao perímetro do Vaticano está repleta de
perigos imprevisíveis".
O Papa, que sonha uma igreja pobre e para os pobres, que pretende
reformar e reduzir os poderes e os privilégios da Cúria Romana, que
destaca que o verdadeiro poder é o serviço, é um Papa “incômodo”. As
suas palavras desafiam quem vive na cômoda homologação. Nello Scavo, um
colunista prestigioso do jornal Avvenire, é sutil ao fazer compreender
como Francisco não para nas palavras, mas atua, de tal forma que
enfurece os poderes fortes. A sua pesquisa não teme censura. Nomes e
sobrenomes dos inimigos do Papa são indicados concretamente, bem como as
razões da sua hostilidade. ZENIT não resistiu à curiosidade e o
entrevistou.
***
ZENIT: Quem são esses "inimigos de Francisco'?
Nello Scavo: Enquanto olhamos para as hostilidades dentro da igreja,
acho que é preciso também não esquecer as frentes externas, aquelas de
grupos de interesses e de poder que se sentem desmascarados pelas
palavras de Bergoglio. Claro, cada Papa arriscou a vida: Paulo VI foi
esfaqueado nas Filipinas, João Paulo II ferido por Ali Agca, Bento XVI
agredido por uma mulher compulsiva. Agora existe também o Isis e outras
redes do radicalismo. Em todo caso eu acho que, como defendo e procuro
demonstrar no livro, são mais fortes as agressões ideológicas e as ações
de perturbação do apostolado de Bergoglio, existem pessoas e grupos que
fazem “doces envenenados” e ações que têm como objetivo desacreditar.
ZENIT: Você fala de poderes fortes fora da Igreja, quais são? E por que existem?
Nello Scavo: Vai desde os clássicos 007 até os “padroni dei caveu”.
Os espiões monitoram em todos os lugares o trabalho da Igreja. Bergoglio
não é exceção. Desde os anos argentinos o serviço secreto dos EUA, a
CIA, regularmente fazia informes sobre os movimentos do então Arcebispo
de Buenos Aires, chegando a prognosticar a eleição já no conclave de
2005. Da leitura daqueles informes, e de outros da poderosa agência de
inteligência privada chamada Stratfor (conhecida como a “sombra CIA"),
intui-se a preocupação por uma figura, como aquela de Francesco, que
pode colocar em discussão o equilíbrio de poder nas relações
internacionais. Mas o papa, como demonstrou a obra-prima diplomática de
Cuba, reiterou que seu objetivo não é dividir, mas sim o de semear novas
alianças marcadas pela cooperação entre os povos. Apesar do amplo
consenso, os Estados Unidos continuam a ser um símbolo de alianças e
desentendimentos. O primeiro tiro foi dado em 2013 por um economista de
JP Morgan, em seguida, vieram jornais econômicos e grupos de pressão
que, como escreve no livro, colocaram-se o objetivo de zombar de
Francisco para defender seus próprios interesses. Em seguida, as alas
extremas do Partido Republicano e os ultra-conservadores do Tea Party
não poupam pancadas em Francisco, especialmente no âmbito da crítica
econômica e das denúncias pela defesa da criação. Um Papa que fala que
“esta economia mata” é incômodo para aqueles que, graças a este sistema
econômico construiram riquezas e poder a custa dos pobres e de um
planeta que deve ser depredado.
ZENIT: E os inimigos internos?
Nello Scavo: O Papa repete que o diabo entra muitas vezes através da
carteira. Poder e dinheiro são, certamente, as “riquezas” que “Os
inimigos de Francisco” não querem perder. Isso é comum tanto naqueles
que são anti-Bergoglio internamente, quanto nos que estão fora.
Discordar do papa não é uma blasfêmia e no sínodo, vimos que Francisco
procura e não teme o confronto. O tema, porém, é outro, ou seja, separar
quem dissente porque, simplesmente, vê as coisas de uma outra forma,
daqueles que chegam até a usar as Escrituras e a “tradição” da Igreja
para proteger interesses particulares. É mais crível, entre os
opositores de Francisco, um missionário que vivem sem economizar a sua
própria vida, ou algum prelado incapaz de dar dois passos sem um
motorista?
ZENIT: Você vê uma relação entre os inimigos de Bento XVI e do Papa Francisco? São os mesmos?
Nello Scavo: A nível internacional existem algumas semelhanças, mas,
na minha opinião, as diferenças são muitas. Os centros do poder
econômico hoje percebem o Papa como um obstáculo, porque teve a coragem
de dizer que “o rei está nu”. No meu livro publico também alguns
documentos em que – graças a algumas sessões de trabalho na Pontifícia
academia das ciências – dão-se nomes de algumas multinacionais acusadas
de reduzir a escravidão os trabalhadores. Para não falar de alguns
membros do lobby dos produtores de armas e petrolíferos, que financiam
os think tank que têm a tarefa de procurar os defeitos de Francisco.
ZENIT: Quem é, na sua opinião, Jorge Mario Bergoglio?
Nello Scavo: Eu não sou um vaticanista e, por isso, não tenho os
elementos fundamentais para responder de modo sensato. Mas ele próprio
respondeu essa questão na entrevista ao Pe. Antonio Spadaro, que lhe
perguntava quem era Jorge Mario Bergoglio. E ele, surpreendendo a todos:
“Não sei qual possa ser a definição mas correta... eu sou um pecador.
Esta é a definição mais correta. E não é uma figura de linguagem, um
gênero literário. Eu sou um pecador". E acrescentou: "Sim, talvez eu
posso dizer que sou um pouco inteligente, sei mover-me, mas, é verdade
que sou também um pouco ingênuo. Sim, mas a síntese melhor, aquela que
me vem mais de dentro e que sinto mais verdadeira, é justo essa: “sou um
pecador a quem o Senhor olhou”. No final, repetindo: “Eu sou aquele que
foi visto pelo Senhor. O meu lema Miserando atque elegendo, sempre o
senti como muito verdadeiro para mim”. Acho que esta seja a melhor
resposta.
ZENIT: Porque o seu programa de reforma da Igreja encontra-se com tanta resistência?
Nello Scavo: Por medo da mudança. Por narcisismo. Por interesse. Como
aquela pessoa que mora em um quarto escuro e depois acha que é louco
aquele que, entrando, renove o ar e abra as janelas. Francisco não se
esconde por trás de patéticas defesas do seu cargo. Na homilia da manhã
de sexta-feira, 6, disse: “Também na Igreja existem aquelas pessoas que,
em vez de servir, de pensar nos outros, de colocar os fundamentos,
servem-se da Igreja: os carreiristas, apegados ao dinheiro. E quantos
sacerdotes, bispos nós vimos assim. É triste dizer, não?".
ZENIT: Alguns acusam o papa Francisco de ser comunista. Por que e qual é a sua opinião?
Nello Scavo: Quando é preciso liquidar uma pessoa incômoda, a
primeira coisa que se faz é colocar nela a bandeira de alguma coisa. De
Papa Bento se dizia que era um ultra-conservador, mas, em seguida,
renunciando fez o gesto mais revolucionário. Também de Bergoglio se
dizem tantas coisas. Falar dos pobres, recorrer a Francisco de Assis,
chamar de volta para as Bem aventuranças do Evangelho, é rapidamente
denominado de comunismo, marxismo, socialismo. Se as coisas são assim,
então, a Igreja, com os seus missionários, encheu de comunistas a
África, a Ásia, a América do Sul e onde quer que existam pobres e
marginalizados. Talvez seja melhor observar bem de onde vêm estas
ridículas acusações para compreender quem são e que temem realmente “os
inimigos de Francisco”.
ZENIT: Como você explica a popularidade de Bergoglio e o seu impacto sobre a opinião pública mundial?
Nello Scavo: Desmascarou os poderosos e se fez voz dos últimos. É
respeitável porque primeiro atua. É um guia moral, reconhecido pelos
crentes e pelos não crentes. Não “vende” uma fé, a testemunha. É um
homem que arriscou a vida, como aconteceu muitas vezes na Argentina,
durante a ditadura e também como arcebispo de Buenos Aires. E nunca deu
um passo atrás. O seu léxico não mostra nenhuma alergia pelos desafios e
as mudanças do nosso tempo. Não poupa a mensagem cristã, mas a quer
sinceramente inclusiva. Por isso os seus detratores passarão a planos
mais insidiosos. Querem fazer acreditar que “o Papa compraz, a Igreja
não”.
Ao mesmo tempo, tenta-se dividir a comunidade eclesial de dentro,
divulgando lutas, avarezas, lutas pelo poder, conflitos entre bispos.
Mas o objetivo é o de abaixar o volume de Francisco, minando o carisma
pessoal do Papa e a sua grande obra de reforma. Quem levaria a sério um
papa que prega bem em uma igreja que está um caos? Uma Igreja dividida e
um papa gostariam de apresentar desgastado pelas lutas internas, são as
melhores armas para aqueles poderes mundiais que querem continuar a
prosperar sem serem incomodados. Felizmente, a realidade é outra. No
meu livro eu reconstruo também as intervenções e os resultados
conseguidos no contraste dos desfalques e na prevenção da corrupção ou
peculato. E é esta determinação que certos jornalistas se sentem cômodos
de não dizer, uma das chaves da popularidade universal do Papa
Francisco.
*
ZENIT entrevistou Nello Scavo com relação ao seu livro a Lista de Bergoglio, também em português. Veja mais aqui.
Nello Scavo é um jornalista internacional. Escreve para o jornal da
CEI Avvenire. Investigou sobre a criminalização organizada e o
terrorismo global. É autor da Lista de Bergoglio (EMI, 2013), o livro
pesquisa traduzido para 15 línguas, e também de: “I sommersi e i salvati
di Bergoglio” (Piemme, 2014) e, com Luigi Ciotti, “Non taceró. Com
Francesco contro l’economia di rapina e la máfia 2.0” (em colaboração
com Daniele Zappalá, Piemme, 2015).
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