[domtotal]
Por Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo de Belém (PA)
Nascer, crescer, aproveitar a vida, sugar
dela todos os prazeres e satisfações possíveis, aguentar os sofrimentos
e enfermidades, ficar velho, esperar a morte chegar! Muito pouco e
inadequado para as pessoas que foram feitas com a matriz da eternidade
nela plantadas por Deus, que as pensou e criou para serem felizes nesta
terra e na vida eterna a elas prometida. Nós fazemos parte, com todos os
homens e mulheres que aqui vivem ou que aqui pisaram e virão. O tempo
da vida humana nesta terra é uma magnífica oportunidade oferecida por
Deus, com profusão de graças a serem aproveitadas. A graça de viver,
conviver, partilhar os dons recebidos, olhar para frente e para o alto,
melhorar sempre, fazer o bem e plantar a verdade e a justiça! Esta é
vida humana, digna de quem a criou e de quem a recebeu de presente!
Neste tempo, ressoa a Palavra: "O
Espírito e a Esposa dizem: Vem! Aquele que ouve também diga: Vem! Quem
tem sede, venha, e quem quiser, receba de graça a água vivificante.
Aquele que dá testemunho destas coisas diz: Sim, eu venho em breve.
Amém! Vem, Senhor Jesus!" (Cf. Ap 22, 17-20).
A Igreja, em sua sabedoria milenar,
recolhe os ensinamentos da Escritura e os oferece, em crescente
acompanhamento da vida da humanidade. Se formos fiéis a Deus e às
propostas da Igreja, o Senhor nos encontra, como numa espiral que aponta
para o alto, melhores do que no ano anterior. A Liturgia, com o novo
ano que se inicia no primeiro domingo do Advento, irrompe de novo a
rotina, preenche de sentido os eventuais balanços de vida e atividade
que caracterizam estas semanas finais de 2015, oferece sentido e
conteúdo para tantas pessoas que não querem vazias as confraternizações
que se realizam no período, e dá as orientações para a riqueza da oração
e da vivência cristã no tempo forte, que agora se inicia.
O Ano da Igreja começa e termina com o
anúncio das últimas e definitivas realidades, para as quais caminha a
humanidade. O Advento abre o horizonte para as vindas do Senhor, no
final dos tempos, no tempo presente e no tempo, quando nasceu em Belém
de Judá, como Senhor e Salvador, para aqui morrer, ressuscitar e subir
de novo aos Céus, deixando-nos o penhor do cumprimento de suas
promessas, o Espírito Santo sobre nós derramado. O Senhor é o Deus da
promessa! Já Abraão, depois dele outros patriarcas e profetas (Cf. Jr
33, 14-16), foram pessoas que caminharam em busca do invisível, teimosos
na fé e na esperança. Não tiveram medo de conjugar no futuro o verbo de
suas vidas, sabedores da qualidade daquele que lhes havia assegurado a
realização de seu plano de amor e salvação.
Temos o privilégio de compartilhar as
esperanças e sua realização, pois, em Jesus Cristo, nosso Salvador, Deus
cumpriu a sua Palavra, dando-nos tudo o que é necessário. Impressiona a
força com que São João da Cruz (Tratado “A subida do Monte Carmelo”, de
São João da Cruz, Livro 2, capítulo 22) nos alerta: “É este o sentido
do texto em que a carta aos Hebreus busca persuadir seus destinatários a
se afastarem daqueles primitivos modos de tratar com Deus, previstos na
lei de Moisés, e a fixarem os olhos unicamente em Cristo, dizendo:
Muitas vezes e de muitos modos falou Deus outrora aos nossos pais, pelos
profetas; nestes dias, que são os últimos, ele nos falou por meio de
seu Filho (Hb 1,1-2). Por estas palavras o Apóstolo dá a entender que
Deus emudeceu, por assim dizer, e nada mais tem a falar, pois o que
antes dizia em parte aos profetas, agora nos revelou no todo, dando-nos o
Tudo, que é o seu Filho. Se agora, portanto, alguém quisesse interrogar
a Deus, ou pedir-lhe alguma visão ou revelação, faria injúria a Deus
não pondo os olhos totalmente em Cristo, sem querer outra coisa ou
novidade alguma. Deus poderia responder-lhe deste modo: Este é o meu
Filho amado, no qual eu pus todo o meu agrado. Escutai-o! (Mt 17,5). Já
te disse todas as coisas em minha Palavra. Põe os olhos unicamente nele,
pois nele tudo disse e revelei, e encontrarás ainda mais do que pedes e
desejas. Desde o dia em que, no Tabor, desci com meu Espírito sobre
ele, dizendo: Este é o meu Filho amado, no qual eu pus todo o meu
agrado. Escutai-o!, aboli todas as antigas maneiras de ensinamento e
resposta. Se falava antes, era para prometer o Cristo; se me
interrogavam, eram perguntas relacionadas com o pedido e a esperança da
vinda do Cristo, no qual haviam de encontrar todo o bem – como agora o
demonstra toda a doutrina dos evangelhos e dos apóstolos.”
Agora estamos no tempo da esperança ativa
(Cf. Lc 21, 25-36), no fecundo intervalo que vai da Ascensão do Senhor e
Pentecostes até a vinda do Senhor, no fim dos tempos. Durante este
tempo, há muito a fazer. São Paulo (Cf. 1 Ts 3,12−4,2) oferece
indicações preciosas. O Senhor nos faça crescer abundantemente no amor
de uns para com os outros e para com todos, à semelhança do amor que o
próprio apóstolo teve com suas comunidades. Depois, aos tessalonicenses e
a nós deseja que Deus confirme nossos corações numa santidade
irrepreensível. É a condição para estarmos prontos, diante de Deus,
nosso Pai, por ocasião da vinda do nosso Senhor Jesus, com todos os seus
santos. Depois, o Apóstolo pede e exorta, no Senhor Jesus, que
progridamos sempre mais no modo de proceder para agradar a Deus.
Ele está convicto de que os fiéis sabem
quais são as normas que dadas da parte do Senhor Jesus. Aqui está o
desafio! Nós sabemos como viver no tempo que nos é dado. A proposta é
aproveitá-lo bem, sem desperdiçar qualquer oportunidade para fazer o
melhor de nós mesmos para edificar um mundo diferente, modelado pela
esperança, e não pelas amarras do passado do pecado e da maldade. O
Evangelho é nossa regra de vida, a ser descoberta cotidianamente, sem
desperdiçar os encontros com as pessoas e os acontecimentos, todos
prenhes de graças oferecidas por Deus.
Neste novo tempo, a Igreja põe em nossos
lábios e nossos corações a oração: “Ó Deus todo-poderoso, concedei a
vossos fiéis o ardente desejo de possuir o reino celeste, para que,
acorrendo com as nossas boas obras ao encontro de Cristo que vem,
sejamos reunidos à sua direita na comunidade dos justos.
Amém!”
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